02/04/2013

Buzios Sailing Week 2013.


Prezados amigos nautas e amantes da  vela de plantão,


 Nestes tempos do papa Chico Zero, temos mais que nunca, até pela hermano humildade que se abateu sobre o mundo, que reverenciar as coisas sagradas, mesmo que em rituais nem sempre muito ortodoxos, como é a vida de todo velejador que se preze, assim sendo vamos então diretamente ao assunto:

-"Estamos aqui reunidos , para celebrarmos mais uma cerimônia do sagrado matrimônio, onde de um lado temos a cidade mais linda do litoral Brasileiro, e de outro o melhor evento de regatas de todo o calendário nacional, e o que deus une o homem jamais poderá separar!"

Mais uma vez, desta feita pelo quinto ano consecutivo tivemos a felicidade, a honra e o prazer de participar desta festa magnífica da vela : a semana de vela de Búzios, conhecida como BSW. Evento que a cada ano nos surpreende e se mostra mais e mais bacana, e sem comparativos em pindorama, e nesta edição com os anos anteriores, foi  Magia pura, dentro e fora da água como falamos na edição de 2012 neste blog e na matéria da revista velejar.





Vamos dar um bordo em outubro de 2012, lá em Fernando de Noronha, na ocasião da Refeno, onde tivemos a oportunidade de conversar bastante com o Kan Chuh, para mim um dos maiores velejadores deste  país, e talvez o maior yacthman destas bandas.  Digo isto não pelas vitórias que teve em regatas , ou pelas incríveis travessias que fez com seus VMax, dentre eles o mínimo 6.5 que rompeu os mares gelados da Fasnet e o Atlântico partcipando da mini Transat, mas acima de tudo pela sabedoria e simplicidade que esta sino baiano compartilha com os que encontra pelo caminho, e eu, graças ao bom Deus tive a oportunidade de cruzar seu caminho e poder escutar suas filosofanças em papos agradabilíssimos.
Nesta ocasião , estávamos num coquetel para os velejadores da Refeno no museu dos tubarões, na extremidade norte da ilha, numa noite de vento forte nos confins do oceano, a bordo de Noronha.
Naquela noite, num ambiente coalhado de velejadores,  o papo estava animado e rolando solto,  regado por cerveja gelada e caipivodkas da melhor qualidade, e dentro do clima haviam mil e uma conversas: relatos de aventuras, relatos de mau tempo, gente falando de regulagens , das novas tecnologias, outros falando dos heróis do passado, dos grandes barcos, dos grandes campeões... enfim um ambiente dos sonhos para quem é do ramo.

Foi aí que Kan-Chuh solta a pérola , naquele sotaque baianês arretado , insolitamente falado por aquele oriental esguio e agitado, que parece um gringo, mas que é brasileiro da cabeça aos pés, talvez brasileiro como poucos que conhecemos, apesar de  nascido em Taiwan. Vamos tentar reproduzir a fonética peculiar do gigante da vela:
-“Rapá! Me diga qual é o ispórti que você pódi compétir lado a lado com os campéões olímpicos? Imagine se você gosti de córrer, veja se tens condições de correr ao lado de Usain Bolt, se tú goste de pedalar se tú pódes pedalar competindo com Lance Armistrongue, mas se tú veleja, tú pode vélejar ao lado de campeões como Lars, Torben, Edu Penido, Róbert, Clínio , e todos os outros....”
Kan-chuh é soda! Ele tem umas sacadas sensacionais e esta foi uma delas, uma colocação que poucos se dão conta, e muitos não usufruem por não entender o que o espírito da vela em si.


Por que falar isto tudo? Deve estar se perguntando o leitor.
Ora ora.. por que primeiro de tudo precisamos de assunto para escrever para os senhores! E o objetivo deste texto é leva-los a outro ponto de vista, para que tenham as suas conclusões, e talvez entendam melhor o por que do fato.
Mas na verdade, o motivo é outro. Vamos agora voltar para Búzios e desenrolar a história que vou chegar no motivo já já, se tiverem saco para ler é claro!
Para os que ainda estão aí, agradeço a atenção! Vamos então parar um pouco com este jeb jeb da moléstia como diria Tadeu Patriota, e vamos voltar a vaca fria.
A semana de vela de Búzios 2013.
Partimos de Vitória numa a noite segunda feira, para fazer a travessia das 180 NM até a praia dos ossos, a bordo do nosso companheirão de tantas e tantas milhas: O fantasma da ópera, eu e meu amigo e sócio na locamaxx o Fabiano Porto.

Na saída uma tempestade de raios se armou na altura de Guarapari, e depois de estarmos já na altura da Barra do Jucú, resolvemos voltar, pois eu estava com medo mesmo, era muito raio, da grossura de um carro, e demorados( dava até para tirar foto) e não queria virar churrasquinho. Assim sendo voltamos, e duas horas depois estávamos atracados no ICES, de onde nem desembarcamos do Phantom. Foi o tempo de esperar o Cajú passar enquanto eu preparava um feijão com carne seca, e partimos novamente rumo a cidade de La Bardot.
A travessia foi tranquilíssima, não tem nem muito o que falar, apesar do vento contra tocamos com as duas velas e motor o tempo todo, pois tínhamos uma janela para chegar lá, depois o SW entraria com gosto de gás, e quem chegou chegou, quem não chegou te-chau.
Passamos por São Tomé igual(veja  vídeo abaixo) a uma piscina, e no começo da madrugada de quarta feira, laçamos a poita em frente ao nosso querido ICAB.


Fazer os transporte , passar as longas noites no mar, atravessar os dias singrando os mares  imerso em nossas reflexões e análises, é o melhor remédio que existe no mundo para “desaloprarmos” do dia a dia, como diz meu amigo Fernando Mendonça, e assim o fizemos.
Na manhã seguinte desembarcamos , Fabiano se despediu e tomou o ônibus de volta a Vitória, em terra encontrei meus grandes amigos : Os irmãos Blancpain (Pierre e Philipe) gente da melhor qualidade, logo em seguida  chega o Bernado Quintanilha ( de Cabo Frio)e pela tarde daquela quarta feira chegaria também o  Léo Oliveira( de Vix), que junto com o Pierre Blancpain( de Buzios) , o Macintyre( do Rio), o Magoo de Vitória e o Benno do veleiro Sakumpe formariam o escrete fantasma.
A noite na quarta feira tivemos aquele sensacional coquetel, coisa de doido! Vc olhava para os lados se via entre aquela constelação:  Torben , Marcelo Ferreira,  Kiko Pelicano, Robertão Carioca, Samuel do crioula, Santinha, Peter Siemsem, Mr. Petersen,  dentre outros velejadores estelares, misturados com almas cristãs pecadoras .
No recinto, não havia ninguém de nariz empinado, era inexistente qualquer tipo de segregação, de classificação, de patente ou importância ,  aparthaid ou coisa parecida. Não tinha camarote nem área vip, éramos todos iguais.

Acho que o amigo tá começando a entender a história do Kanchuh...
No dia seguinte começariam as regatas, e a previsão era de toco de SW, com 27 nós , a profecia se fez valer e o vento buziano passou dos 30, causando um festival sensacional de atravessadas , soutiens e jibes chineses, diria sem medo de errar que o que se viu foi uma orgia eólica.
Até mesmo gigantes estelares como a Angela Star e o Riquinha deram atravessadas brabas, pois num mar destes a coisa sai do controle se quiseres colocar tudo em cima.
A linha da performance se mistura com a do acidente e da avaria, e se envolvem num crochê mal traçado.
E deu merda. Uma pancada de barcos avariados, velas rasgadas, etc..  Mas dentre mortos e feridos , graças a competência da CR através da pessoa de Mr. Petersen, a segunda regata do dia fora cancelada a fim de manter a integridade da flotilha e darmos seguimento ao macth com barcos ainda inteiros.
Não foi um vento “mortal”, mas 30 nós numa regata de fominhas , o limite e a sede de velocidade  levam a navegarmos em condições perigosas e avariantes, se é que existe esta palavra, ou se os senhores me entendem.
Neste dia vi a cena mais linda que tive a chance de captar nos mares de búzios;
Uma planada do Crioula após montar a bóia que lembrava cena da américas cup na época dos mono cascos, surfe alucinado , navegando no DOBRO  da velocidade dos 40-45 pés ali presentes!! chose de loque Madalena!

Na água o que se via eram barcos lindíssimos e em sua maioria enormes, pelo menos para mim que velejo num 31 pés.
Para ter uma idéia do que falo vamos lá:
-Haviam 4 soto  40( Torben, Robertão, Vesper e Crioula), o Angela Star, o novíssimo San Chico 3( que teve um acidente que quebrou a perna de uma alma na subida do balão), o Miragem , V8nitro( ex-Ventaneiro), o Maximus ( agora sob o comando do lobo do mar Ralph Rosa), o lindo e carbonado  Duma, o Parrú, o Viva ( um lindo barco com alma, feito de pau!), e o sempre hours concours Saravah( anfitrião da festa) dentre outros .
São Torben e o Duma na cola.

Nada menos que 5 barcos da escola naval( todos grandes!!). Tinha lá também o Maestrale do cavalheiro Casaes, e o Bravíssimo, 2 skippers 30 competindo entre si na orc 500, que se faziam pequenos em meio aqueles gigantes da ORC internacional, e também  o foguetinho em forma de veleiro: o Xeqmat do Bailly que é o terror da RGS, com uma trupe mega experiente e competente a bordo, caras do quilate do Xucrute e do Pedro Bó, além do próprio Bailly que é uma fera!
O segundo dia foi de ventos médios, e Mr. Petersen fez uma regata de percurso curta e uma barla sota, para compensar a falta da segunda regata de quinta feira.
A primeira regata transcorreu normal, exceto pelo fato que a gente , o Bailly e o Albatroz da escola naval termos “panguado” na largada imaginando que seriam duas largadas( uma orc, irc, s40, e a segunda só para rgs) e ficamos esperando...

Esperando sim , mas vimos  a flotilha ir embora. Assim perdemos 2;30 minutos do bloco.
A segunda regata foi cansativa. O vento começou a rondar e ficamos com recon ( e com o estômago roncando para acompanhar, pois só tinha salaminho e coca a bordo)por quase 2 horas.
Passadas as duas horas, uma largada cancelada atrás da outra por  saídas escapadas como podem ver ao lado.
Putz, a galera da “elite” estava igual siri na lata, a gente que iria largar em seguida podia assistir de camarote, e o lance era doido demais,  uma espreme empurra de tirar a tinta dos barcos, fininha mesmo, e gritaria é claro!
A segunda regata do dia e a terceira do evento transcorreu com ventos médio , e rendeu pegas lindos entre os estelares.
Na RGS a escola naval com o Brekelé e o Quiricomba passaram o rodo com força. A gente tentando o possível, mas ficando para trás deles e do Bailly, andando na frente apenas do Albatroz.
No sábado a previsão era de vento fraco , e assim se fez, foram realizadas duas regatas para a RGS e apenas uma para a elite, num vento merreca e mar de proa.
Andamos um pouco melhor e conseguimos vencer o Quiricomba nas duas regatas finais, sendo o vencedor do dia, com larga margem o Xeqmat seguido do Brekelé de Riquinha e seus marujos.
Tecnicamente o evento foi perfeito, teve todo tipo de vento, para todo gosto e preferencia, sendo encerrado assim no sábado , sendo o grande vencedor da ORC o Mr. Peter Siemsem com nada menos que 83 anos de idade, e na S40 o Crioula desequilibrou São Torben , velejador mais completo do Brasil e do mundo em minha opinião, e na RGS os garotos da Escola Naval que mandaram um show na raia, graças ao trabalho do Riquinha.
ORC.
1-      Angela Star         - ICRJ    
2-      V8 Nitro               - ICRJ
3-      Crioula                  - VDS

IRC
1-      Crioula                  - VDS
2-      Magia V                - CNC
3-      Carioca 25            - ICRJ

BRA/RGS
1-      Brekelé                - GVEN
2-      XekMat                 - ICB
3-      Quiricomba         - GVEN

Para quem já foi, sabe que a BSW acontece dentro e fora dágua e talvez na mesma intensidade.
O sweepstake pós regata é sensacional, o clima do ICAB, o por do sol de Buzios, a orla Bardot, o clima entre os velejadores, o ambiente cavalheiro, a beleza de Búzios, e o bate papo com os amigos( novos e antigos), isto não tem preço.

Agora vou contar para vcs onde entra a história do Kan-Chuh nesta ciranda:
-Durante a premiação, estávamos entre os amigos aplaudindo os premiados, realizados por estarmos alí, termos velejado naquele mar, entre aquelas pessoas, de termos tido a oportunidade de fazer amigos, de rever outros tantos, e de repente me chega um jovem rapaz ( simpático por sinal), orgulhoso por ter ganho um troféu , e começa e me falar que a gente teria que medir na ORC, pois para tomar cacete dos caras da escola naval era melhor tomar cacete dos feras, por que os caras da escola naval são perebas e coisa e tal( perebas que mandaram bem e andaram na frente, até do bailly!!)...
Tentei argumentar com ele que isto não era importante para a gente, que o mais importante era termos velejado entre amigos, fazer parte da festa, e que se não levamos um troféu para casa não seria ruim. Ele insistiu na colocação, e tive que deixa-lo falando sozinho pois não queria estragar um momento tão mágico.
A noite , logo depois da premiação saímos para jantar e tomar umas cervejas alí no Mata Hari, que fica ao lado do ICAB, onde se juntou ao nosso grupo o comandante Ralph Rosa.
 O papo estava agradabilíssimo, mas muito bacana mesmo, nota mil.
 O Cmdte Ralph é um cara fora de série e nos ensina muito contando os  seus longos casos, e  compartilhando com generosidade seu vasto e quase infinito conhecimento náutico. Contei para ele  o lance do rapaz durante a premiação, e ele me disse naquele jeitão bacana e bonachão que lhe é peculiar:-
“Olha Renato, se fosse assim todo mundo corria de S40”.
E para completar ainda me lembra da célebre frase de Sir Thomas Lipton:
" Business with everyone, sailing only with getlemen".
Ralph Rosa comanda o papo .

Obrigado Kan Chuh, obrigado Ralph, e também obrigado a todos os que velejaram na regata e nos deram a oportunidade de fazer parte deste sonho, em especial a família Jouliée que promove este que é o melhor evento de vela do Brasil.

A gente ama velejar, e isto é o que nos move, o amor ao esporte, este é o nosso troféu, nosso premio e nossa gasolina.
Da mesma forma que milhões de corredores que fazem suas corridinhas, mas que nunca terão a oportunidade de competir com estrelas olímpicas lado a lado.
Eu tenho! e agradeço sempre por isto!
Bons ventos e um beijo e um queijo a todos!
Phantom e sua gang.

Esta foi a tripulação capixaba , cabofriana, e buziana do Phantom.


Benno, o autor destas fotos!

Thanks Ralph Rosa. Este aí é do time de Sir Thomas Lipton!!

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