A crônica dos velejadores boêmios de fim de semana que estão assombrando a vela Brasileira: Já se vão longos 9 anos desde que começamos a faina de velejar nos mares de pindorama, uh lá- lá!!!! Caramba como o tempo voa...
Antes de contar o que tenho para dizer, um texto direcionado aos que gostam de ler uma pequena crônica com algum movimento e também aos cristãos que gostam de regatas de barcos a vela e viagens, reservei no segmento dois parágrafos para uma análise macro do cenário que vivemos hoje:
-Em tempos de facebook, instagram, snapchat e outras mídias extremamente voláteis, fica até difícil se debruçar e escrever algo um pouco mais consistente que não um selfie-moment , talvez até por que poucos tenham saco para ler, mas quem escreve escreve para si, para se compreender, para se divertir e assim pois o faço .
Ligado a este turbilhão de informações que trafegam na web e nas cacholas loucamente agitadas tal qual o frenesi da guitarra de Angus, as pessoas também entraram em curto circuito, sem mesmo saber disto. Olha aí uma vez eu parodiando aqui o sensacional e elétrico AC/DC, mas o mote aqui é desacelerar a pressão , folgar as escotas, soltar o “traveller”, dar uma arribadinha e contar um história para quem curte a vida e barco a vela.
Até redundante este papo de curtir a vida e barco a vela, pois isto é o contraponto do mundo colapsado conectado.
Voltemos a 2009, quando começamos a nos aventurar por mares afora, um grupo de jovens com base na cidade de Vitória ES, amantes do barco a vela se lança para sua primeira aventura em um precário fast 303, rumo a paradisíaca Búzios que para mim ainda era uma desconhecida mesmo que por terra. De lá nos separavam apenas 180 milhas náuticas ao nosso porto de origem , graças ao incentivo de dois aficionados : Luciano Lucky Secchin e Jens Ulfeldt, velejadores com visões opostas mas sinérgicas, que com suas idéias fizeram com que soltássemos as amarras, ligássemos os lampiões no barco sem baterias, déssemos partida no motor de popa de 15 hp do Sir Wallace saindo da marina do Iate Clube do Espírito Santo Rumo a orla de Brigite.
Não vou aqui contar a história toda, apenas um resumito do resumito, pois passou muita água debaixo da quilha e o sonho cresceu e asa também sendo pois a história longa.. que fica para outra crônica.
Nestes nove anos, velejamos quase o Brasil todo, todas semanas de Búzios a exceção de 2014, sete circuito rio, uma Refeno ( Recife Noronha), uma Santos Rio, três semanas de vela de Ilhabela, uma Aratu Maragogipe, e mais alguns milhares de milhas em regatas locais, e muitos treinos ao nosso bom estilo” porrada tiro e bomba” é claro também maravilhosos passeios descompromissados, com a cereja do bolo sempre a cada 30 de dezembro de cada ano no velejo do “descarrego”, para lavar a alma e deixar o mal para trás, recebendo as bênçãos do universo e iemanjá nas maçãs de nossas faces.
O grupo sempre o mesmo, que foi crescendo, e em dezembro do ano passado apareceu o Bravíssimo 4 em nossas vidas. Graças ao Lucky, que nos presenteou abrindo esta nova janela no mundo da vela de oceano: a vela de altíssima performance.
Até 2016 éramos um grupo de entusiastas sem muita perspectiva que não fosse a diversão, velejadores da classe RGS, que é uma espécie de passeio rápido entre bóias, embora tivéssemos algumas experiências em regatas também na classe internacional IRC, porém com espírito RGS nosso foco sempre foi( e sempre será!!) a diversão , e como nos divertimos!! Cada viagem para regatas era um evento. Fazer o transporte do barco por sí só já é um evento maneiríssimo: viajar de barco a vela pela costa do Brasil, noite adentro, mar adentro, frio na barriga, sorriso no rosto e sempre gosto de quero mais... Nos campeonatos, quantidades industriais de cerveja, rock and roll, companheirismo e alegria sempre foram nosso norte na bússola, e a nossa missão ir curtir e ser feliz.
Graças a esta escola, a esta filosofia, criada pelo conservador , clássico e tradicional Jens e pelo vanguardista Lucky, e protagonizada por nós múltiplos atores desta obra da vida, fomos nos entusiasmando cada vez mais e mais, sempre com o foco no “joie de vivre”.
Ano passado ( 2016) a brincadeira começou a ficar mais legal, com o renascimento da classe Snipe no ES, e acirrada rivalidade entre nosso amigo Mancha( Rodrigo Stephan), e Lucky, o Gordinho( como chamamos o Lucky) exigiu extremo rigor técnico dos velejadores para que conseguissem se destacar e vencer, esta fricção foi espetacular, promoveu um crescimento nunca dantes visto na vela capixaba, exceto nos seus primórdios nos anos 40/50 quando o ICES era referência nacional graças a figuras como o capeão brasileiro de 49 , o legendário e meu eterno ídolo Morris Brown e ao primo de Ronnie Von( Von Schilgen para quem não sabia) , cantor conhecido príncipe da bossa nova, o capixaba Paulo Von Schilgen que fora referência Pan Americana na classe.
Esta competitividade fez o Gordinho pensar mais tecnicamente. Mais ainda que já o era, e daí com a chegada do Bravíssimo em nossas vidas, começaram as clínicas com Alfredo Rovere, que foi nosso grande professor, um cara fora da curva.
Estou falando aqui da classe oceano, pois no Snipe só vou de quando em vez, e não sou um aficionado, observo mais que atuo, contudo a ressaca do movimento snipista fez a vela de oceano capixaba dar um salto monumental.
O Bravíssimo 4 ( nascido Samurai-Ni em Floripa em 2009) foi comprado no Rio em novembro de 16, já bastante usado e muito( e põe muito nisto) maltratado, trata-se de um barco modelo Skipper 30.
O projeto foi concebido pelo arquiteto naval argentino Nestor Volker no fim da década de 2000, um veleiro cruzeiro rápido, e na série ( de dezenas de barcos)foram produzidos pelo estaleiro Skipper, apenas 4 ou 5 barcos por infusão , que ficaram bem leves, perfeitos para regatas, dentre eles o Maestrale( nosso arqui rival) e o Bravíssimo 4, nosso garoto de ouro.
Lucky não poupou esforços e recursos e reestruturou o barco completamente, da hotelaria as velas, tudo passou por um upgrade, e principalmente o estilo de velejar: agora em alta performance.
Nossas longas “horas de vôo” na RGS sem dívida alguma foram o que formaram a base sólida para que este grupo pudesse galgar sonhos maiores, e com a ajuda do professo Rovere o sonho começou a tomar forma.
A participação do Luiz Lebreiro numa das regatas no Rio, também nos mostrou que a regata se ganha no detalhe do detalhe, pois depois de um tempo de prática e com algum olhar todos se tornam “cobras criadas”, o que é o ponto máximo da vela, pois é um esporte ultra longevo e de equipe onde se alia o vigor dos jovens com a sabedoria dos cabelos brancos, uma análise para se entender melhor a nós mesmos eu diria e principalmente para integrar, respeitar e compreender as gerações que nós fazemos parte a cada fase de nossa vida, aprendendo e ensinando, ajudando e sendo ajudado.
Este ano de 2017, colhemos os frutos com uma campanha maravilhosa em Ilhabela na semana internacional de vela com o 1º na ORC B e sexto geral no sul americano de ORC, que é a categoria máxima da vela de alta performance para barco com “handicaps”( 0s tempos são corrigidos de acordo com as caraterísticas do barco) em todo o mundo, e no circuito Rio, que terminou no último domingo 5 de novembro, fomos o (terceiro) 3º colocado geral na ORC , surpreendendo gigantes como o multicampeão Eduardo Souza Ramos e o estrelar regatista de voltas ao mundo( Volvo Ocean Race) André Bochecha por exemplo, com o nosso pequeno 30 pés Bravíssimo vencendo barcos bem maiores , alguns com com 50 pés por exemplo, e muitos deles repletos de profissionais com a faca nos dentes.
Só não fomos campeões no geral por que não corremos a Santos-Rio por questões de logística e trampo.
Nosso estilo de velejar é de bem com a vida, por prazer, com muito rock and roll na caixa, muita cerveja gelada, amizade, companheirismo risadas o tempo todo, festa todo dia e neste circuito rio até uns rojões andamos soltado no meio da raia...
Pode parecer coisa de um retardadado tirando vantagem este texto que vos escrevo, que aliás é a coisa mais comum nas redes sociais: o auto elogio, mas esta galera formada por Babá, Gordinho, Gary, Jova “the trucker”, Bunecus Hilárius, Léo Forébis, e este escriba lembra a história da primeira volta ao mundo contada no filme do espanhol Bernardo Arsuaga “The weekend sailor”, narrando como um grupo desconhecido de amigos velejadores mexicanos , sacaneados pela mídia inglesa da época, venceram a regata volta ao mundo, pretende com isto somente deixar uma mensagem:
-A vida é muito mais que uma regata, que um número ao final, uma posição, um pódium em qualquer que seja o desejo de seu ego. Portanto seja leve e o resultado será uma mera consequência das suas atitudes. Em tudo o que você faz, tenha foco, faça o melhor que puder, e divirta-se , ah... mas leve isto a sério “mês amis” divirta-se muito pois a vida não tem descarte nem reparação, ela é para valer!!
Este recado vai especialmente aos optipais que, sem ter consciência da loucura que se enfiaram estão levando a classe optmist, que é a base da vela pela contramão do sentido do esporte.
Não vale protestar depois.
Um beijo e um queijo a todos!!
Bravo Zulu Bravíssimo 4!!!
Porrada, tiro e bomba!!!!!!!!!!!!!!
Quero deixar também um obrigado a Shelter que fez os uniformes, lindaços!!!!!!!!
Renato Avelok Avelar.
São tripulantes do Bravíssimo 4 os seguintes elementos abaixo:
Luciano Secchin
Renato Avelar
Fabiano Porto
Jovair Voleske
Bruno Martinelli
Léo Oliveira
André Pimentel Filho.