22/08/2010
20/08/2010
1.000 postagens!!! matéria especial, um "causo" da vela, e de verdade!!
Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, procurando inspiração para postar o milésimo artigo nesta revista, confesso aos amigos que estava completamente sem inspiração, e um acaso de sorte achei a matéria do azar.
Estava em casa vasculhando meus arquivos, e encontrei uma pasta onde estava este recorte, perdido há uns 10 anos.
Pois bem , dadas as circunstâncias que" isto" que se contempla na foto ocorreu, me veio a idéia de postar e compartilhar com vcs este "causo" da vela, verídico e reportado no Jornal a Tribuna, numa longínqua quinta feira de 1995.
Fica aí para a galera rir um pouco, abços e bons ventos a todos!
O vento neste dia chegou a 120 kmh e derrubou os guindastes da CVRD.
Estava em casa vasculhando meus arquivos, e encontrei uma pasta onde estava este recorte, perdido há uns 10 anos.
Pois bem , dadas as circunstâncias que" isto" que se contempla na foto ocorreu, me veio a idéia de postar e compartilhar com vcs este "causo" da vela, verídico e reportado no Jornal a Tribuna, numa longínqua quinta feira de 1995.
Fica aí para a galera rir um pouco, abços e bons ventos a todos!
O vento neste dia chegou a 120 kmh e derrubou os guindastes da CVRD.
19/08/2010
15/08/2010
A revista da vela, dentro de mais 2 postagens alcançará a marca de 1.000 matérias, agora vamos dar um break e preparar uma reportagem especial para esta marca!
Aberto obviamente ao envio de material dos leitores para entrarmos na casa dos 4 dígitos!!
bons ventos a todos.
bons ventos a todos.
14/08/2010
A crônica de uma viagem de volta ao lar depois de um macht inesquecível, um contravento de 60 horas, filosofias, , baleias, e a tristeza da droga que toma conta agora também mar.
Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão,
Semana passada , na sexta feira 9:20 da noite me aboletei num assento apertadíssimo, naquelas cadeiras centrais, on vc só mexe os olhos, num avião da Gol decolando de Vitória com destino ao aeroporto Santos Dumont, onde pousamos as 10:30 da noite, com precisão Britânica.
Peguei um táxi, com um simpático e loquaz motorista, ex-paraquedista e rumamos naquela noite fria e chuvosa para a avenida Pasteur, conversando sobre uma missão de sobrevivência que ele participara no ES, Em poucos minutos chegamos ao ICRJ, onde o Phantom repousava na piscina , ao lado do magnífico "Duma", um novíssimo/carbônico até os nabos, F11 Bruce Far, que estava sendo montado e recebendo os toques finais para voar no mares cariocas , a bordo do Fantasma, em minha espera estava o camarada e capitão Jens "Von Tabarly", recém chegado de uma travessia atlântica e que fora contratado pela locamaxx para transporte da nave de ilhabela de volta ao lar.
O plano era chegar e imediatamente embarcar na nave , zarpar e singrar as 280 nm que separavam o barco de casa, em Vitória. Todavia , além do tempo estar horroroso, a vontade de curtir um pouco o sensacional ambiente deste que para mim é o mais espetacular clube náutico do Brasil, decidi a pernoitar alí mesmo na marina, e na manhã de sábado iniciar a travessia até a cidade presépio. assim sendo, encomendamos 2 pizzas no restaurante" convés", mais meia dúzia de vergas e fomos para bordo papear e escutar boa música.
Tinha compromisso com minha saúde na segunda 13 horas, onde faria 11 pequenas cirurgias a fim de retirar minhas "pintas" que começam a dar sinais de problema em face a quantidade de sol ao qual me exponho, e durante muitos anos com 0 filtro solar, e imaginava estar com tempo hábil para o compromisso, haja vista o tempo gasto nesta rota é de 48 horas em 99% dos casos, obviamente com condições favoráveis que são previamente agendadas em face a previsão do tempo, o que era o caso.
Ledo engano.
As 11 horas de sábado, após um maravilhoso café da manhã na varanda, e uma passada na espetacular lojinha do clube e comprar um camisa do ICRJ como auto presente do dia dos pais , e mais uma igual para meu filhote como manda a regra da maison Avelar, deixamos o morro da Urca por boreste , subimos os panos e começamos uma desconfortável, (devido ao mar batido), e longa travessia até nossa casa.
Vento de leste na cara!! no tampo mesmo, na testa e nos cornos, motor e vela o tempo todo, e assim foi até Guarapari.
O relato do que se passa a bordo, da rotina, numa viagem de veleiro é dispensável, pois as longas horas de solidão e escuridão, tem muito mais cunho interior que aventuresco, e como o tem, longas horas refletindo e vendo que vc não é bosta nenhuma, salvo alguns comentários jornalísticos floreados, como o intenso nevoeiro que atravessamos durante a segunda noite, e uma baleia gigantesca( redundância, mas mister de se observar e classificar) que junto com seu filhote nos fez uma aproximação a menos de 10 metros de nossa casquinha de ovo, me fezendo ficar com o c&%### ú na mão depois que ví o vídeo da beleia que atacou o barco em cape town.
Merece destaque também a passagem por São Tomé, montanha russa, porradeiro no casco, bateção estilo bate estaca, sobe e desce, pow!! sobe e desce pá!!, mas , o que me gerou alguma preocupação nas têmporas, pois o manto negro da noite profuna sem lua e invernal, tragada por um vento estranho, inciava sua cobertura no horizonte, mas ao nos aproximarmos da ponta do Açu, o mar acalmou, como previsto pelo "alemão" e entramos raspando a praia.
A passagem pelo cabo São Tomé é emblemática, "ver para crer",todavia sem o exagero descrito por muitos navegadores ou a imprudência de outros tantos, não é nada daquele "Horn" Brasileiro como alguns classificam , talvez para se auto promover.
É só não passar em cima dos bancos, ou abre muiiito ou fecha muuiito, neste caso a máxima que diz:
-" o melhor caminho e o do meio", não deve, não pode e não é aplicável em hipótese alguma, tampouco homeopática, é ou são?!: 8 ou 800.
A viagem não seria feita nas 48 horas, e sim umas 60 ou mais seriam necessárias pelo andar da carruagem . Prevendo o atraso já no domingo de manhã , em altura da ilha do Santana/ Macaé, aproveitando o excelente sinal de telefonia, liguei para casa para avisar do atraso que se ensaiava, e solicitar que minha esposa remarcassse a intervenção cirúrgica para outra data.
Nas viagens, não usamos o rádio para falar coisas que revelem rota ou quantos temos a bordo, por dica dos velejadores e amigos( e fica a dica), pois a pirataria é fato, e se vc se descrever uma presa fácil( com apenas 2 a bordo) ao passar sua posição, ou demais detalhes, prepare-se para provável a abordagem dos ladrões.
Ao sairmos , passamos nosso plano de rota para o Diram do ICRJ pessoalmente, e depois ligamos para o ICES para informar o plano. previsão e rota, a fim de não nos expormos no 68 ou no 16 do VHF.
Finalmente , no final tarde de segunda feira, o vento sudeste se apresenta. bravo!! , mesmo que com atraso de 2 dias segundo a previsão, e nos empurra a 6 ou 7 nós em direção a Guarapari onde precisaríamos reabastecer de diesel, água, e descansar um pouco, apesar de serem apenas 25 milhas, uma falta de vento tornaria o "restinho" da viagem um suplício, e como bons marinheioros sob a batuta de von tabarly o fizemos.
A viagem com apenas duas pessoas a bordo se torna cansativa devido as turnos curtos e ao sono picado, somada a bateção que atrapalha a cozinha gourmet (alegria de todos os navegantes de operar em sua plenitude) restando pois a nós homens modernos , a comermos insossos aqueles biscoitos, horríveis cup nuddlles, e estas comidas de astronauta afins, que para mim não passam de "ração de sobrevivência"( e ruim demais!), expressaram e revelaram nestes momentos faces tristes, pelo fato de termos verdadeiras iguarias a bordo, mas de preparo complexo, embora trivial, para um mar batendo daquele jeito.
São 8:00 da noite de segunda, e atracamos a contra bordo de um barco pesqueiro, no posto Dino, canal da Cidade Saúde, onde prontamente fomos ajudados na faina por um de seus tripulantes, um simpático senhor de uns 55 anos de idade, o qual preservarei a identidade , tal como a do barco, por motivos que verão adiante.
Pois bem , pois bem... atracados, tudo ok! deixo Jens a bordo , subo a escadinha que dá acesso do posto náutico embaixo da ponte , e ganho as ruas da cidade, ahh, terra firme, o chão balançando, coisa indesritível, prazer de chegar num porto é difícil de explicar.
Levo comigo o galão de 25 litros , pois o posto náutico estava fechado, atravesso a rua, e no Posto Dino( de veículos e não de barcos) abasteço o galão , sento-me numa mesa na varanda da lanchonete compro cigarros, acendo um malboro vermelho ( já estava há um dia sem meus "clove cigarretes" gudang garang) enquanto soboreio uma Brahma extra, no hiato assisto Jornal Nacional, relaxado, limpo, barbeado ,asseado e bem vestido, pois esta disciplina não abro mão a bordo senão vira-se mendigo em 2 dias, lição Macintyre.
Ao retornar para o barco, levo mais duas garrafinhas , uma pra mim e outra pro Jens, também uma maço de cigarros Lucky Strike para agraciar a ajuda do pescador em modesta retribuição ao meu ver, e assim terminaríamos a faina e preparararíamos a saída.
A bordo do Phantom , Jens estava a conversar com o pescador, papo de gente do mar, aquelas coisas:
- vcs pescam aonde?, qual velocidade andam?, como é vida a bordo? o que comem? quanto tempo ficam no mar?, a segurança?, a comunicação?, etc, pois a troca de informações é a base do conhecimento de qualquer yacht-man.
O pescador me convida então para conhecer o barco por dentro, e obviamente, aceito o convite, em uma fração de segundo, a bordo do barcão estou a "curiosar".
O que vi lá foi a visão do inferno, um ambiente imundo , repleto de baratas, inacreditavelmente espalhadas por TODOS so lados:
- em cima das panelas, das camas, da comida, dos ovos, e até dentro da cachaça inseparável do marujo cinquentão.
Fiquei chocado, mesmo assim puxei mais conversa, e aí ele foi contando que pela ausência de peixes , os barcos estão indo até a baixa de Williams, a 350 NM, e que eles saem do porto devendo 5.000 reais ao dono do barco. Ttem que pescar de qualquer jeito, mas o peixe está acabando, perto não já tem mais, assim sendo eles navegam naquele inferno de barco, uma ilha de imundície e desconforto pútrido, sem a menor condição de segurança( sem coletes, fogos, alguns sequer sem registro, 100% "pirata"), contando apenas com um excelente sistema de comunicação( 3 para ser exato, ssb, vhf e satélite), e um motor de ponta e bem azeitado e revisado, para que ao termino da viagem repartirem o resultado em :
2 partes para o dono do barco
1,5 para o mestre
2,5 pra dividir entre 3 pescadores, e tudo isto embalado o tempo todo por CRACK, MACONHA ,COCAINA E CACHAÇA, como ele frisou, o tempo todo!
Já havia visto reportagens sobre os homens das lavouras , fazendo uso de drogas para suportar as condições desumanas as quais são obrigados a trabalhar, e infelizmente vi que agora, no mar a coisa não se faz diferente.
O pescador era uma pessoa de altíssimo astral, vc jamais imaginaria que ele usava estas drogas, e eu, perguntei:
- VC não tem medo das drogas te matarem?
Ele respondeu mais ou menos isto ( completamente equivocado):
-"Vc tem que saber levar a droga , senão ela te leva pro buraco, como fez com muitos pescadores amigos meus, mas eu não tenho escolha, sem elas , não suportaria viagens de até 30 dias nestas condições, como fazemos."
O mínimo que eu poderia fazer, e fiz, foi anotar em letras de forma e muito legiveis a receita ensinada pelo Gunter Muller do Rio, numa das chopadas no bar "traumático" do ICRJ, para acabarem pelo menos com as baratas, pois mais que isto não caberia e a mim:
-" 50 gramas de ácido bórico, 1 cebola, 1 garrafa de cerveja."
Bate tudo no liquidificador, espalha em potinhos pelo barco todo e adeus cucarachas e periplanetas americanas.
Acabamos por pernoitar em Guarapari, pois um "caroço" se formava no horizonte, e também por que chegaríamos no meio da madrugada no ICES, o que de nada adiantaria pressa.
Na manhã seguinte, zarpamos as 8:30 da manhã, ao largo preparei "aquele" café da manhã com direito a capuccino, ovos mexidos , bacon, e torradas especiais, e descemos a "ladeira" até Vitória.
Durante o trajeto aquilo não saía de nossas cabeças, e fomos trocando idéias:
- como estes caras podem viver assim? , de forma tão miserável e a base de drogas pesadíssimas, num ambiente tão hostil e insalubre como o oceano, nos pergutávamos.
E assim percorremos as 5 horas finais.
No começo da tarde, a exatas 13 horas de terça feira, o Phantom of the opera, enfeitado igual a penteadeira de p##$$%%&uta, com bandeiras em todas as adriças, termina a faina de atracação no pier sul do ICES, mais de 30 dias depois de ter ido para ilhabela participar da RISW.
72 horas de viagem , 60 de navegação.
A coisa ainda rebate na minha cabeça, o que será que podemos fazer para ajudar esta gente??
Bons ventos a todos, e por favor, enviem suas sugestões!
Semana passada , na sexta feira 9:20 da noite me aboletei num assento apertadíssimo, naquelas cadeiras centrais, on vc só mexe os olhos, num avião da Gol decolando de Vitória com destino ao aeroporto Santos Dumont, onde pousamos as 10:30 da noite, com precisão Britânica.
Peguei um táxi, com um simpático e loquaz motorista, ex-paraquedista e rumamos naquela noite fria e chuvosa para a avenida Pasteur, conversando sobre uma missão de sobrevivência que ele participara no ES, Em poucos minutos chegamos ao ICRJ, onde o Phantom repousava na piscina , ao lado do magnífico "Duma", um novíssimo/carbônico até os nabos, F11 Bruce Far, que estava sendo montado e recebendo os toques finais para voar no mares cariocas , a bordo do Fantasma, em minha espera estava o camarada e capitão Jens "Von Tabarly", recém chegado de uma travessia atlântica e que fora contratado pela locamaxx para transporte da nave de ilhabela de volta ao lar.
O plano era chegar e imediatamente embarcar na nave , zarpar e singrar as 280 nm que separavam o barco de casa, em Vitória. Todavia , além do tempo estar horroroso, a vontade de curtir um pouco o sensacional ambiente deste que para mim é o mais espetacular clube náutico do Brasil, decidi a pernoitar alí mesmo na marina, e na manhã de sábado iniciar a travessia até a cidade presépio. assim sendo, encomendamos 2 pizzas no restaurante" convés", mais meia dúzia de vergas e fomos para bordo papear e escutar boa música.
Tinha compromisso com minha saúde na segunda 13 horas, onde faria 11 pequenas cirurgias a fim de retirar minhas "pintas" que começam a dar sinais de problema em face a quantidade de sol ao qual me exponho, e durante muitos anos com 0 filtro solar, e imaginava estar com tempo hábil para o compromisso, haja vista o tempo gasto nesta rota é de 48 horas em 99% dos casos, obviamente com condições favoráveis que são previamente agendadas em face a previsão do tempo, o que era o caso.
Ledo engano.
As 11 horas de sábado, após um maravilhoso café da manhã na varanda, e uma passada na espetacular lojinha do clube e comprar um camisa do ICRJ como auto presente do dia dos pais , e mais uma igual para meu filhote como manda a regra da maison Avelar, deixamos o morro da Urca por boreste , subimos os panos e começamos uma desconfortável, (devido ao mar batido), e longa travessia até nossa casa.
Vento de leste na cara!! no tampo mesmo, na testa e nos cornos, motor e vela o tempo todo, e assim foi até Guarapari.
O relato do que se passa a bordo, da rotina, numa viagem de veleiro é dispensável, pois as longas horas de solidão e escuridão, tem muito mais cunho interior que aventuresco, e como o tem, longas horas refletindo e vendo que vc não é bosta nenhuma, salvo alguns comentários jornalísticos floreados, como o intenso nevoeiro que atravessamos durante a segunda noite, e uma baleia gigantesca( redundância, mas mister de se observar e classificar) que junto com seu filhote nos fez uma aproximação a menos de 10 metros de nossa casquinha de ovo, me fezendo ficar com o c&%### ú na mão depois que ví o vídeo da beleia que atacou o barco em cape town.
Merece destaque também a passagem por São Tomé, montanha russa, porradeiro no casco, bateção estilo bate estaca, sobe e desce, pow!! sobe e desce pá!!, mas , o que me gerou alguma preocupação nas têmporas, pois o manto negro da noite profuna sem lua e invernal, tragada por um vento estranho, inciava sua cobertura no horizonte, mas ao nos aproximarmos da ponta do Açu, o mar acalmou, como previsto pelo "alemão" e entramos raspando a praia.
A passagem pelo cabo São Tomé é emblemática, "ver para crer",todavia sem o exagero descrito por muitos navegadores ou a imprudência de outros tantos, não é nada daquele "Horn" Brasileiro como alguns classificam , talvez para se auto promover.
É só não passar em cima dos bancos, ou abre muiiito ou fecha muuiito, neste caso a máxima que diz:
-" o melhor caminho e o do meio", não deve, não pode e não é aplicável em hipótese alguma, tampouco homeopática, é ou são?!: 8 ou 800.
A viagem não seria feita nas 48 horas, e sim umas 60 ou mais seriam necessárias pelo andar da carruagem . Prevendo o atraso já no domingo de manhã , em altura da ilha do Santana/ Macaé, aproveitando o excelente sinal de telefonia, liguei para casa para avisar do atraso que se ensaiava, e solicitar que minha esposa remarcassse a intervenção cirúrgica para outra data.
Nas viagens, não usamos o rádio para falar coisas que revelem rota ou quantos temos a bordo, por dica dos velejadores e amigos( e fica a dica), pois a pirataria é fato, e se vc se descrever uma presa fácil( com apenas 2 a bordo) ao passar sua posição, ou demais detalhes, prepare-se para provável a abordagem dos ladrões.
Ao sairmos , passamos nosso plano de rota para o Diram do ICRJ pessoalmente, e depois ligamos para o ICES para informar o plano. previsão e rota, a fim de não nos expormos no 68 ou no 16 do VHF.
Finalmente , no final tarde de segunda feira, o vento sudeste se apresenta. bravo!! , mesmo que com atraso de 2 dias segundo a previsão, e nos empurra a 6 ou 7 nós em direção a Guarapari onde precisaríamos reabastecer de diesel, água, e descansar um pouco, apesar de serem apenas 25 milhas, uma falta de vento tornaria o "restinho" da viagem um suplício, e como bons marinheioros sob a batuta de von tabarly o fizemos.
A viagem com apenas duas pessoas a bordo se torna cansativa devido as turnos curtos e ao sono picado, somada a bateção que atrapalha a cozinha gourmet (alegria de todos os navegantes de operar em sua plenitude) restando pois a nós homens modernos , a comermos insossos aqueles biscoitos, horríveis cup nuddlles, e estas comidas de astronauta afins, que para mim não passam de "ração de sobrevivência"( e ruim demais!), expressaram e revelaram nestes momentos faces tristes, pelo fato de termos verdadeiras iguarias a bordo, mas de preparo complexo, embora trivial, para um mar batendo daquele jeito.
São 8:00 da noite de segunda, e atracamos a contra bordo de um barco pesqueiro, no posto Dino, canal da Cidade Saúde, onde prontamente fomos ajudados na faina por um de seus tripulantes, um simpático senhor de uns 55 anos de idade, o qual preservarei a identidade , tal como a do barco, por motivos que verão adiante.
Pois bem , pois bem... atracados, tudo ok! deixo Jens a bordo , subo a escadinha que dá acesso do posto náutico embaixo da ponte , e ganho as ruas da cidade, ahh, terra firme, o chão balançando, coisa indesritível, prazer de chegar num porto é difícil de explicar.
Levo comigo o galão de 25 litros , pois o posto náutico estava fechado, atravesso a rua, e no Posto Dino( de veículos e não de barcos) abasteço o galão , sento-me numa mesa na varanda da lanchonete compro cigarros, acendo um malboro vermelho ( já estava há um dia sem meus "clove cigarretes" gudang garang) enquanto soboreio uma Brahma extra, no hiato assisto Jornal Nacional, relaxado, limpo, barbeado ,asseado e bem vestido, pois esta disciplina não abro mão a bordo senão vira-se mendigo em 2 dias, lição Macintyre.
Ao retornar para o barco, levo mais duas garrafinhas , uma pra mim e outra pro Jens, também uma maço de cigarros Lucky Strike para agraciar a ajuda do pescador em modesta retribuição ao meu ver, e assim terminaríamos a faina e preparararíamos a saída.
A bordo do Phantom , Jens estava a conversar com o pescador, papo de gente do mar, aquelas coisas:
- vcs pescam aonde?, qual velocidade andam?, como é vida a bordo? o que comem? quanto tempo ficam no mar?, a segurança?, a comunicação?, etc, pois a troca de informações é a base do conhecimento de qualquer yacht-man.
O pescador me convida então para conhecer o barco por dentro, e obviamente, aceito o convite, em uma fração de segundo, a bordo do barcão estou a "curiosar".
O que vi lá foi a visão do inferno, um ambiente imundo , repleto de baratas, inacreditavelmente espalhadas por TODOS so lados:
- em cima das panelas, das camas, da comida, dos ovos, e até dentro da cachaça inseparável do marujo cinquentão.
Fiquei chocado, mesmo assim puxei mais conversa, e aí ele foi contando que pela ausência de peixes , os barcos estão indo até a baixa de Williams, a 350 NM, e que eles saem do porto devendo 5.000 reais ao dono do barco. Ttem que pescar de qualquer jeito, mas o peixe está acabando, perto não já tem mais, assim sendo eles navegam naquele inferno de barco, uma ilha de imundície e desconforto pútrido, sem a menor condição de segurança( sem coletes, fogos, alguns sequer sem registro, 100% "pirata"), contando apenas com um excelente sistema de comunicação( 3 para ser exato, ssb, vhf e satélite), e um motor de ponta e bem azeitado e revisado, para que ao termino da viagem repartirem o resultado em :
2 partes para o dono do barco
1,5 para o mestre
2,5 pra dividir entre 3 pescadores, e tudo isto embalado o tempo todo por CRACK, MACONHA ,COCAINA E CACHAÇA, como ele frisou, o tempo todo!
Já havia visto reportagens sobre os homens das lavouras , fazendo uso de drogas para suportar as condições desumanas as quais são obrigados a trabalhar, e infelizmente vi que agora, no mar a coisa não se faz diferente.
O pescador era uma pessoa de altíssimo astral, vc jamais imaginaria que ele usava estas drogas, e eu, perguntei:
- VC não tem medo das drogas te matarem?
Ele respondeu mais ou menos isto ( completamente equivocado):
-"Vc tem que saber levar a droga , senão ela te leva pro buraco, como fez com muitos pescadores amigos meus, mas eu não tenho escolha, sem elas , não suportaria viagens de até 30 dias nestas condições, como fazemos."
O mínimo que eu poderia fazer, e fiz, foi anotar em letras de forma e muito legiveis a receita ensinada pelo Gunter Muller do Rio, numa das chopadas no bar "traumático" do ICRJ, para acabarem pelo menos com as baratas, pois mais que isto não caberia e a mim:
-" 50 gramas de ácido bórico, 1 cebola, 1 garrafa de cerveja."
Bate tudo no liquidificador, espalha em potinhos pelo barco todo e adeus cucarachas e periplanetas americanas.
Acabamos por pernoitar em Guarapari, pois um "caroço" se formava no horizonte, e também por que chegaríamos no meio da madrugada no ICES, o que de nada adiantaria pressa.
Na manhã seguinte, zarpamos as 8:30 da manhã, ao largo preparei "aquele" café da manhã com direito a capuccino, ovos mexidos , bacon, e torradas especiais, e descemos a "ladeira" até Vitória.
Durante o trajeto aquilo não saía de nossas cabeças, e fomos trocando idéias:
- como estes caras podem viver assim? , de forma tão miserável e a base de drogas pesadíssimas, num ambiente tão hostil e insalubre como o oceano, nos pergutávamos.
E assim percorremos as 5 horas finais.
No começo da tarde, a exatas 13 horas de terça feira, o Phantom of the opera, enfeitado igual a penteadeira de p##$$%%&uta, com bandeiras em todas as adriças, termina a faina de atracação no pier sul do ICES, mais de 30 dias depois de ter ido para ilhabela participar da RISW.
72 horas de viagem , 60 de navegação.
A coisa ainda rebate na minha cabeça, o que será que podemos fazer para ajudar esta gente??
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12/08/2010
11/08/2010
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