Para você que procura e não acha motivos e vive criando soluções mirabolantes para sair velejando por ai, leia o texto do velejador baiano Gerson Silva, que agora também navega nos marés da net com o blog Tô Indo Velejar, e inicie o seu fim de semana com velas ao vento.
Desde o início desta fase da minha vida que tenho vontade de escrever sobre “tempo para cruzeirar”. Não confundir com velejar. Dedicar tempo para esta atividade não é fácil e traz uma série de leves complicações na vida social. Começa pela ausência aos eventos passando pela exclusão social até a diminuição da perda financeira por diminuir a jornada de trabalho.
Aí é que começam as técnicas para compensar o deixar de acumular bens materiais pelos ganhos espirituais, sem que no futuro haja arrependimentos. É lógico que precisamos fazer uma base inicial, sólida, para as expectativas do horizonte que desejamos alcançar. A matemática consiste em usar 30% do acumulado para comprar o barco adequado ao sonho, 30% para o custeio da vida como um todo (barco e suas manutenções, clube ou marina, plano de saúde, viagens, comunicação, combustível e o dia-a-dia). A outra fração, equivalente a 40%, deve ser destinada a compensação pela depreciação de tudo conseguido. Investimentos em aluguéis, aposentadoria, meios para trabalhos extras sem vínculo empregatício são bem vindos.
A compra do barco certo não existe, pois tem uma máxima que diz: “barco é como um cobertor curto, você cobre a cabeça e descobre os pés”. Então o que fazer para diminuir a probabilidade de erro. Converse, leia, pergunte, confronte as opiniões das varandas dos clubes. Aprenda a velejar e, paralelo a isto estude, faça curso para Arrais, Mestre e, se possível, Capitão Amador. Lendo você terá subsídios para questionar e comparar as opiniões. Tente velejar em alguns barcos, oferecendo-se para ajudar no translado e suas impressões começarão a sedimentar sobre este ou aquele de barco.
Ok, horizonte definido, barco comprado, reformas e adequações feitas, chegou a tão sonhada liberdade. Inicialmente é muito confuso, principalmente se você tinha uma vida muito ativa. E agora seus amigos estão ocupados e você neste delicioso ócio. No meu caso optei por desacelerar paulatinamente, trabalhando de segunda a quarta até as 14 horas. Após esta jornada, vou ao barco e executo uma tarefa por mais simples que seja. Não esqueça que trabalho num veleiro é o que não falta, seja ele novo ou usado. Faça uma lista das tarefas e nunca tente zerar, até porque se conseguisse, acabaria a graça.
Chega o final de semana, barco abastecido de combustível, água e alimentos, quatro dias pela frente, previsão de tempo tirada. Para onde vou? Comece com velejadas de no máximo 50 milhas do seu porto. Nove horas em média a depender do barco para cobrir esta distância. Como um canário que o dono abriu a porta da gaiola, todos os anos faça uma “pernada” maior, acima de 200 milhas.
Como exemplo, posso citar Salvador/Santo André-BA, 218 milhas náuticas. Quase dois dias de mar e paz. Linha de pesca na esteira do barco e uma gostosa ansiedade pela chegada. A programação deve sempre ser feita para chegarmos com o alvorecer aos portos desconhecidos. No fundeio, com o barco bem ancorado, e só curtir que você merece. Não queira saber dos noticiários: DNIT, Obras do PAC, Empreiteiras, MST, CUT, Une, Linha vermelha e a Copa do nosso Mundo.
Abraços e seja feliz. Tô Indo!
Gerson Silva/Veleiro Tô Indo