05/01/2014

Veleiro Procelária.

Tive o prazer de velejar nesse classe Brasil que na década de 80 tinha o nome de Nagual, antigo Procelária, o barco naquele tempo era do meu amigo capitão Paulo Tupinambá.
Foram muitas as historias e ainda possuo algumas fotos que em breve anexarei.
O barco passou algum tempo fundeado no ICES na Praia do Canto em Vitória e quase foi a pique, ajudei no resgate.
Após esse incidente fui convidado a seguir viajem com eles até Caravelas e os Abrolhos.
O barco seguiu até Fernando d...Ver mais

02/01/2014

Regata Vitória Guarapari 2014


23/12/2013

vela: travessia do atlântico para amadores, e bons vivants!!

Com três mastros, o veleiro francês de 88 metros de comprimento pode acolher até 64 passageiros e 32 membros da equipe, em um ambiente refinado de iate. A bordo estão piscina, sauna e dois restaurantes. Le Ponant oferece cruzeiros no mar Mediterrâneo durante a primavera e o verão europeus, e nas Antilhas e em Cabo Verde no verão do Hemisfério Sul. Duas vezes por ano também é possível atravessar o Atlântico sem escalas (a partir de 1.250 euros, sem tarifas). Mais informações no site da Compagnie du Ponant: www.ponant.com

18/12/2013

Velejando no Maestrale.

Este fim de semana tive a grata oportunidade de velejar no Maestrale , um Skipper 30 regateiro, e com uma turma nota dez, encaminho aqui uma resenha em agradecimento a oportunidade, e algumas fotos do Fred Hoffman, deste fim de semana magnífico, com as regatas Preben Schimdt no Rio Sailing Yacht Club, e a também emblemática regata Netunus no ICRJ, um fim de semana para ficar na lembrança!

"Prezados amigos , nautas e amantes da vela de plantão, 

Estive atolado de serviço nestes dois últimos dias, e somente agora consigo me aboletar no conforto do lar, para escrever um nota para os novos amigos do mar.

Na minha vida de velejador, tive algumas poucas oportunidades de tripular barcos de alto nível. Estive na Eldorado Brasilis( Vitória Trindade) de 2003 a bordo do rajada Starcut, na função  nada nobre de cozinheiro( e  numa  vaga comprada de última hora!) outra delas foi também aqui em vix na ocasião de uma regata que aconteceu durante a passagem de um cruzeiro costa leste em 2008, quando fui um grumete do Samurai Ni( ainda o Delta 32) a convite do Marins, e finalmente esta oportunidade vivida, que tive a convite do Almirante Casaes neste fim de semana intenso, e com regatas de alto náipe, visitando inclusive o Olimpo da vela nacional, o "Sailing".

Deixando de lado as churumelas , as encheções de linguiça e os jeb jeb, digo aos convivas que desta feita tirei muito proveito dos páreos como nunca o fizera.  Pude vivenciar o que é um trabalho em equipe forjado com maestria e foco. O grupo é muito bacana, trabalha muito bem, sabe o que faz, não julga um ao outro, tratam-se com carinho e bom humor, e nem por isto deixam de ostentar uma bela faca nos dentes. A "tripula" como se refere ao grupo o grande Almirante, é inspiradora.

Tive pouco tempo para conversarmos mais , todavia contudo porém pude sentir um pouco da linda natureza de cada um de vocês : -O Santiago homem de poucas palavras , um sábio,  um gigante que sabe como poucos o que faz, e qual é sua missão e a executa sem vírgulas , o LH  rei das mulheres  ,que se atenta com muita humildade em seu aprendizado e  eficácia somada a habilidade no que se propõe a executar, não obstante as doses industriais de bom humor que provém ao escrete; a Cris, que é a mãe de todos e fica cantando todos os passos da dança, a Lia que toca o piano com notas graves e agudas sem desafinar, e Luiz Felipe um jovem engenheiro naval , quem embora da geração y ama as "cousas" de outrora como os barcos clássicos e as histórias do mar. Mr. Marcelo, não pode ser esquecido, meu contemporâneo do Optmist,  que seguiu o domingo nos  dando uma aula de como navegar na difícil raia do Rio, traçando uma rota ousada na "entre lage", e também me ensinando a trimar com técnica apurada, além obviamente do Almirante submarinista, que soube que é a classe dos mais craques oficiais da marinha , que deixou patente sua destreza na manobra do "rosinha"( ai jesussss!!!), e que me impressionou não somente pelo comando, visto Almirante que é, mas principalmente em como estimular, treinar , inspirar, e manter este espírito Maestrale de velejar em grupo. na raiz de seu caráter está a prova que é um líder pelo exemplo, não pela patente, tampouco pelo poder.

Tenho pois , que somente deixar aqui um mega muito obrigado a todos os novos amigos, e desde já , sem viadagem , me desculpando por algum deslize que possa ter cometido nestes dois maravilhosos dias que fecharem o certamen de 2014 da vela fluminense.

Um fraterno abraço a todos vocês!! 

Bons ventos e um 2014 magnífico!!"

Maestrale: avelok trima o balão.

avelok no balão.

Zing , esculacho!

Aillen, 101 anos, este barco que hoje é de São Torben foi prata em Estocolmo em 1912
.
Saga, vencedor da fastnet 1973, marcando presença na regata com Erling Lorentz ao leme.



11/12/2013

2014 ... carregando!

Bendito seja aquele que inventou o calendário, separando a vida em compartimentos chamados dias , meses e anos, e com o fim dos anos em especial observamos um fenômeno interessantíssimo: -a capacidade de nos reinventarmos, de ultrapassarmos uma linha de divisão que nos permite deixar para trás tudo que não interessa em um compartimento fechado , e em um novo espaço-tempo colocar vários planos em prática e até mesmo abandonar outro tanto de lixo no compartimento do ano que passou ajuda muito neste processo, se perdoar pelos erros e ter tesão pela vida encerram a profecia, e assim vamos seguindo a procissão , de preferência fora do piloto automático e com muita consciência!
Como a semana tá do meio para o final e o mês a partir de semana que vem é um morro abaixo dubaralho, só festa, fica aí meu recado para meus queridos amigos!!

09/12/2013

O naufrágio do Fratelli.

Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, tem aqueles dias que os ventos sopram do lado errado , que a correnteza leva contra, que tudo dá errado, é quando ficamos fulos da vida e imaginando por que Deus está contra a gente.
Quando de repente a gente se dá conta que está vivo, e "o que" ou o "do quê" estamos reclamando , pouco importa, pois problemas mesmo... aquele problema cabeludo , são aqueles, só aqueles do bicho preto da foice, e que dificilmente tem solução.
Diante do ocorrido com os amigos cabofrianos, o que se tem é que comemorar , e não lamentar absolutamente nada.
Pois a vida é bem maior, o resto a gente dá um jeito.
Força aos amigos, e precisando de um barco para navegar, o Phantom tá a disposição na hora que quiserem.
Segue o relato do dia ruim que tiveram o Novaes, o Colicchio e o Filhote do Novaes.
Que fique a alegria da vida no final, e vamos em frente  que tem muita água para passar debaixo da quilha de todos os 3!
Segue o relato:


Por Murillo Novaes:

Em Cabo Frio o Velamar 32 "Fratelli" e meu filho Pedro em sua primeira (e quase última) travessia a vela.
Bom dia amigos e amigas, hoje escrevo porque sinto que tenho o dever de compartilhar com todos o que aconteceu comigo, com meu grande amigo Fábio Collichio e com meu filho Pedro na noite de sábado. Mais precisamente por volta da 12:06 de domingo.
Fábio, meu melhor amigo em Cabo Frio, companheiro de inúmeras velejadas de Micro 19 e o feliz proprietário de um novo (para ele, claro) Velamar 32, o “Fratelli”, me chamou para trazer o barco de Cabo Frio para o Rio neste sábado para subi-lo no Clube Naval Charitas e fazer a pintura de fundo do veleiro, que ele estava terminando de reformar. Convoquei meu filho Pedro, de 13 anos, para fazer sua primeira travessia no oceano e por volta de 7:30 da manhã partimos do píer internacional de Cabo Frio.
Fábio havia me dito que soubera de um aviso de mar grosso no Rio, que, por rádio, tentamos confirmar com a atalaia de Cabo Frio, mas a moça nos disse que havia expirado, pois era de 24 horas. Eu, como navegador que sou, havia estudado a previsão e sabia que os ventos seriam de, no máximo, 14 nós, de E-NE, e haveria um swell grande residual da grande tempestade que tinha passado 48 horas antes pela costa do Rio. Mas nada muito preocupante já que tudo iria nos empurrar para o destino final. Zarpamos.
A viagem, apesar de lenta, por conta do casco sujo, dos ventos fracos no início e do motor que sempre procuramos deixar em uma rotação mais baixa (havia sido reformado há pouco), seguia tranquila. Pedrinho, depois da excitação inicial, como é típico dos adolescentes, foi para a cabine dormir. E fora um ou outro momento, passou boa parte do dia lá dentro, no sofá “da sala”, cochilando o tempo todo.
Eu e Fábio nos revezávamos no timão e assim foram passando as agradáveis horas do sábado nublado com sol esparso. Fomos por dentro do Boqueirão, em Arraial do Cabo, o que é sempre lindo. Pouco antes de Saquarema o vento aumentou e desligamos o motor. Velejávamos com o vento pela popa a 5 nós de média (com picos 6,5) e como não tínhamos balão íamos ziguezagueando e jaibando para manter o vento pela alheta e a velocidade por aí mesmo. Tudo seguiu na paz dos deuses.
Já de noite, no contorno das ilhas Maricás eu verifiquei a carta (nesta altura no Navionics do iPhone, pois o iPad já estava sem bateria. E sim, tínhamos a carta em papel também e outro GPS reserva) umas três vezes pois sei que à noite as distâncias enganam e tal. Passamos a sotavento das ilhas (com o perigo à barla) e seguimos com a proa em Niterói, nas ilhas do Pai e da Mãe. Nosso ETA (hora prevista de chegada) estava por volta de uma da manhã na entrada da baía de Guanabara. Normal.
Ao chegarmos às proximidades de Piratininga o mar ficou mais mexido e mais desconfortável e resolvemos ligar novamente o motor e baixar a genoa para ir só de grande e com o possante, o que daria mais segurança e nos permitiria ir direto ao ponto, sem jaibear ou manobrar muito. Claro que tivemos um probleminha com a refrigeração do motor, mas Fábio safou tudo e lá fomos nós na boa.
Meu plano inicial era passar entre as ilhas do Pai e da Mãe e ir direto para a boca da barra. Como o mar estava bem chatinho, com o swell mais alto, resolvi entrar logo entre a Mãe e o continente para ficar mais abrigado e aproveitar um pouco o embate das ilhas. Além do mais, já havia corrido “trocentas” regatas que montam o Pai e a Mãe, passara por ali dezenas (centenas?...) de vezes e aquilo não era mistério algum.
Depois de mais de 16 horas navegando, precisamente às 12:04, pois lembro que Fábio me disse as horas (e depois verifiquei no celular), resolvi ligar para meu filho mais velho, Gabriel, que fazia 25 anos no dia 8/12 e por tradição sempre nos falamos logo depois da meia noite. O telefonema foi super agradável, óbvio, e me lembro de ter dito a ele que: “só falta agora montar a Mãe, dobrar a última esquina e depois baía de Guanabara e casa”.
No meio da ligação Fábio me interrompeu dizendo que vira uma rebentação e que parecia uma laje. Eu, automaticamente e tirando onda (o arrogante sempre se ferra. E merece!), respondi que já havia montado aquela ilha em regata um monte de vezes, que tinha uma laje sim, mas que ele não se preocupasse. Gabriel ouviu minha bazófia pelo telefone e também nem deu muita importância. Mas aquilo ficou na minha cabeça. Sem perder tempo desliguei rapidinho e comecei a olhar em volta.
Demorei talvez uns 40 segundos ou um minuto para tentar me localizar, pois o celular, claro, havia me distraído bastante. Estava perto demais da ilha? Da laje? Uma linha de espuma a nosso bombordo confirmou. Estava do lado da laje!! Falei com Fábio que estávamos ali, ele reclamou que havia me avisado, nem tive tempo de responder. Guinei fortemente o barco para boreste. Neste momento uma parede íngreme de água de quase 3 metros (havia sim um aviso de ressaca no Rio e o swell vinha de 2 a 3 metros mesmo) nos pegou em cheio pelo través (de lado certinho, a pior condição possível para qualquer embarcação). Ainda sentimos que quando a onda sugou a água para quebrar, nossa quilha deu uma batida seca na pedra no fundo. Tudo apagou.
Na minha próxima lembrança já estou embaixo d´água lutando contra cabos e velas (e também o mastro quebrado, eu perceberia depois) para subir à superfície. Lutando pela minha vida. Na minha cabeça esses foram intermináveis momentos de angústia total. Lembro-me que só pensava: “eu não posso morrer aqui, pois tenho que salvar meu filho que está dentro da cabine”. Para mim foi uma eternidade a ponto de me lembrar de Horacinho Carabelli, dias antes, no Match Race Brasil, me contando como Andrew Simpson morreu no acidente do “Artemis”, na Copa América, preso embaixo do barco. O terror! O horror!!
Não tenho a memória de como voltei a bordo. Apagou. Mas me recordo de estar no cockpit novamente, na gaiúta principal, gritando pelo Pedro. Ele tinha acordado na confusão e, ainda atordoado, me perguntava o que tinha acontecido. Respondi que tínhamos capotado, mas estava tudo bem. A água, dentro da cabine, estava na cintura dele e demos a mão para que ele saísse. Nesta altura Fábio já me ajudava a tirar o Pedro de dentro do barco e vi que estava tudo bem com ele também. Graças a Deus!
Pusemos o menino sentado no cockpit, imediatamente vestimos um colete nele, outros em nós e eu expliquei que se tivéssemos que abandonar o barco iríamos nos amarrar os três juntos e derivar para a praia de Camboinhas ou Piratininga em frente (apontei as luzes) ou tentar subir na ilha ao lado. Por sorte, não foi preciso.
O “Fratelli” era o próprio caos. O mastro quebrado, caído para bombordo, uma zona total de cabos e estais, a gaiutinha do topo da cabine estourada, uma rachadura grande no topo da cabine à bombordo, outra no costado no encontro do casco e do convés, as vigias de bombordo da cabine quebradas, o bimini retorcido e nós ainda em cima da laje recebendo onda atrás de onda pela proa. Para piorar, a noite nublada e, claro, as baterias mortas embaixo d´água, deixavam tudo no breu total. E ainda tive tempo de ver nossa lanterna, acesa, afundando.
Fábio entrou na cabine e percebemos que a água não estava subindo. Vi que ainda tínhamos leme e tentamos, no instinto (jamais daria certo, claro), ligar o motor. Amarrei outro colete salva-vidas no Pedrinho e falei com ele que ficasse tranquilo, pois a água era quente e poderíamos boiar horas sem problemas, se fosse preciso. Meu filho me deu uma lição de bravura. Jamais entrou em pânico, nos ajudou no que foi necessário, até nos consolou dizendo que estava tudo bem e que ficaríamos bem também e disse que estava preparado para fazer o que fosse preciso. Choro só de lembrar...
Pedro também, milagrosamente (mesmo!), achou meu celular. Como, não sei. Pois acho que caí no mar com ele na mão. Enfim. Peguei o telefone, que tinha uma capa à prova d´água recém-adquirida para minha travessia do Atlântico, e liguei novamente para Gabriel apesar dos 4% de bateria. Apenas 6 minutos depois do primeiro telefonema (às 12:11, sendo que o primeiro telefonema durou um minuto). Disse o que havia acontecido, nossa localização, a possibilidade de termos que “abandonar o navio” e para onde iríamos possivelmente e pedi que ele avisasse a Marinha, os bombeiros, Vanessa, mãe do Pedro (com quem havia falado duas horas antes dizendo que estava tudo ótimo), minha tia (que é minha mãe).
Fábio havia me mandando um SMS antes de irmos, pedindo para eu levar meu VHF portátil à prova d´água. Levei. Sorte! Logo que percebi que tudo estava relativamente bem, com todos a bordo sãos e salvos, antes mesmo de tentar achar o celular, já peguei o radinho e comecei a ladainha no canal 16: “mayday, mayday, veleiro Fratelli capotado na laje da ilha da Mãe, 3 tripulantes a bordo, uma criança, preciso de socorro imediato. Mayday, mayday”. Os minutos de silêncio antes de achar meu telefone foram angustiantes. Nem uma resposta sequer.
Claro que um rádio portátil tem um alcance limitado, mas como explicar que uma hora depois eu falava alto e claro, ainda do barco, com Rio Rádio por aquele mesmo aparelho e também com a lancha da Marinha? Lembro que quase uma hora depois do acidente, um cara identificado como Mar Dive fazia uma ponte desesperada no rádio, gritando que nós precisávamos de socorro e que já havia passado muito tempo, que tinha criança a bordo e ninguém respondia. Foi aí que a moça da Rio Rádio entrou na fonia. Nesta altura, agradeci, disse que havia falado com a Marinha e que uma lancha da capitania vinha nos resgatar.
Com o veleiro aparentemente não fazendo água (ou muito pouca) eu e Fábio tentamos ajeitar as coisas a bordo. Colocamos o mastro mais para cima e o amarramos para evitar que ficasse batendo contra o casco. As ondas já haviam nos empurrado para fora da laje e estávamos à deriva, bem no embate da ilha, indo para fora. Resolvi lançar o ferro e ficamos ali, protegidos do vento e das ondas, por mais de duas horas no fim.
Pouco depois das duas da manhã tivemos a visão reconfortante das sirenes da lancha “Anchova” da Marinha do Brasil. Pelo VHF consegui os orientar e eles vieram até nossa popa. Passei imediatamente o Pedro e pela primeira vez pude sentir a dimensão da tragédia que poderia ter acontecido ao meu filho. Mas não tínhamos tempo a perder. Fábio, que havia posto sua roupa de neoprene (e até catado os pés de pato para o caso de termos de nadar), voltou para dentro da cabine para tentar resgatar nossas carteiras, mochilas, etc. Paradoxalmente só conseguiu achar a minha e a do Pedro. Nada seu...
Ele não conseguiu localizar as outras lanternas que estavam a bordo e a lancha da marinha não tinha uma lanterna sequer. Tentamos jogar a luz do holofote da lancha para dentro da cabine, mas estava tudo muito difícil com o mar mais batido. Com a ajuda da “Anchova” rebocando tentamos trazer o mastro mais para cima. Mas adiantou muito pouco e ainda serviu para afastar o barco da ilha e deixá-lo mais desabrigado de mar.
O mestre da lancha (que soube depois foi quem, no peito e na raça, mesmo com a impraticabilidade do porto pelo aviso de ressaca, resolveu sair) nos avisou que sua missão era salvar vidas e que devíamos abandonar o barco e ir. Foi o que fizemos. Antes, porém, demos o máximo de cabo possível no ferro e deixamos o “Fratelli” sozinho fundeado e avariado para trás. A visão mais triste do mundo para mim e, especialmente, para o Fábio que tanto esforço fizera para ter aquele barco e reformá-lo.
Na lancha, Pedrinho nos consolava e nem a visão do seu Playstation e seu DS (o cara é viciado em games) encharcados na mochila o atrapalhava. Um menino de ouro. Eu só conseguia abraçar meu amigo e meu filho e pedir desculpas, desculpas, desculpas pelo meu erro crasso e quase fatal para nós. Algo que um navegador digno do nome (eu não sou!) jamais poderia ter cometido.
Chegamos por volta de 4 da manhã ao píer do ICRJ onde Vanessa e os Gabrieis, meu filho e o marido de minha sobrinha Juliana que havia trazido Vanessa, nos aguardavam. Viemos para minha casa no Posto 6, tomamos um banho, colocamos roupas secas, deixei Fábio descansando com minha tia e comecei minha peregrinação para tentar rebocar o barco.
Fui ao Salvamar e nada (“nossa lancha não pode sair com aviso de ressaca e nossa prioridade não é o patrimônio e sim vidas”). Fui à capitania, onde agradeci a todo aquele plantão (não lembro os nomes, me perdoem) por nos ter salvado, mas soube que eles não podem mesmo fazer qualquer tipo de reboque. Resolvi ir ao Charitas, em Niterói, e tentar algo por lá. Tive que esperar até 7 horas quando chegam os marinheiros e o Josué, chefe da náutica, foi nota dez. Liguei para meu amigo Ricardo Ermel, que logo, como bom homem de Marinha, safou minha onça e convocou o comandante Carvalho para a faina.
Carvalhão chegou ao clube e após os ajustes necessários, que a lei de Murphy sempre proporciona, conseguiu me levar na sua lancha até a ilha da mãe por volta de 9 da manhã. O comandante Ralph Rosa, grande velejador e amigo, me emprestou o alicatão para cortar os brandais e estais (que todos sempre devem ter a bordo. Nós não tínhamos.), pegamos um cabo de reboque, um pneu para ajudar a fazer a catenária (a “barriga” do cabo de reboque) por conta do mar grosso e lá fomos nós. Minha ideia era tentar salvar o mastro, mas se não fosse possível, cortar tudo e deixar ir ao fundo. Tentei ainda arrumar uma moto-bomba ou bomba elétrica com extensão, mas não consegui (a bomba manual do barco não pôde ser acionada por falta do manete - ou algo parecido - que sumiu na confusão. E fez muita falta!)
Por volta de nove e meia do domingo, ainda sem pregar um olho, tive a segunda visão mais triste da minha vida. O “Fratelli” não estava mais lá. Uma garrafa de mate pela metade boiando (era nossa, com certeza!) e outros objetos que estavam dentro da cabine, à deriva na direção de Camboinhas foram o indício de que o veleiro tinha afundado. E há pouco tempo. Como? Não sei. Talvez um pequeno vazamento pela quilha, talvez um registro ou mangueira abaixo da linha d´água que com a pressão aumentada pelas toneladas de águas na cabine se rompeu, talvez o mar, sempre ele, batendo contra o costado que havia rachado a bombordo foi embarcando paulatinamente mais água. Não sei.
Agora estou aqui aguardando os mergulhadores que devem tentar localizar e, se houver condições, retirar o barco do fundo. Fábio voltou, arrasado, para Cabo Frio. Sem documentos, sem seus papeis, seu notebook, seu celular, sem a bíblia de sua falecida mãe, sem seu barco, com roupas emprestadas e com o sonho desfeito (mas vamos ter “nosso” Velamar 32 de volta, meu amigo, nem que seja outro. Eu prometo!). Pedro nem queria ir ao hospital fazer exames. Mas a mãe o obrigou e, apesar da pancada no quadril e no queixo que deixaram marcas, está tudo bem.
Eu... Bem eu, estou aqui refletindo sobre como pude ser tão estúpido e cometer o erro mais idiota e simples que um navegador jamais deve cometer: achar que está no ponto A, enquanto, na verdade, está no ponto B. Na era do GPS algo inadmissível. Tenho vontade de dormir e não acordar nunca mais!! Mas não posso, tenho que viver para ressarcir meu amigo de todos os prejuízos que lhe causei.
Fica o relato e a reflexão sobre o que deu errado. Primeiro e acima de tudo, acho que o celular é realmente algo que, a mim especialmente, distrai muito (rebocando, de “Lady Lou”, os clássicos 6M de Lars e Torben para Angra uma vez, saí 90 graus do rumo por conta de um torpedinho. Noutra, bati meu carro). Se eu não estivesse tão desatento, provavelmente não estaria escrevendo esta história hoje. Como pude verificar com tanta atenção a montagem das ilhas Maricás, por sotavento, e dar apenas uma conferidinha boba na carta, minutos antes, ao montar a ilha da Mãe (com sua laje), por barlavento? Por que confiei, em uma noite escura, apenas na minha visão com tantos instrumentos a bordo? Por que fui tão arrogante e babaca quando Fábio me alertou, momentos antes, sobre a laje? Jamais saberei. Claro que o fato de ser um lugar conhecido ajudou, mas jamais poderia ter entrado naquele canal estreito, com mar grosso e perigo a sotavento, sem o auxílio da carta. Jamais!
Acho que independentemente do que tenha causado o episódio inicial do acidente, o que se passou depois pode servir também a todos que navegam. Não tínhamos uma bolsa de abandono preparada (faltou uma faca decente, lanternas, o manete da bomba manual... E poderia faltar água, biscoitos, uma roupa quente, etc.). Depois que o barco deu o 360° na laje (e em qualquer capotamento, mesmo em mar aberto) a cabine vira o caos e, portanto, se você tiver ferramentas, documentos e outras coisas importantes trancadas em um armário que não se abra facilmente, alto e acessível, vai ajudar muito (nossas manicacas sumiram e não pudemos usar as catracas para auxiliar em nada, p.ex. Perdemos todos os nossos cartões e documentos. Não achamos as lanternas e por aí vai...). Quando sair, mesmo em uma aparente velejadinha simples, verifique sempre as condições de vento e mar na rota (eu sabia que havia o swell grande, mas jamais soube que era uma ressaca na barra do Rio de Janeiro porque simplesmente vi os GRIBs e a carta sinótica e não entrei na página da Marinha para ver os avisos de mau tempo. Essa desinformação não causou o acidente, mas atrapalhou o resgate). Não confie que apenas lançar um Mayday no rádio vai ser suficiente, se puder, tenha um EPIRB a bordo e o acione imediatamente. E, por fim, se estiver próximo à costa tenha um celular com bateria e capa protetora sempre à mão e amarrado (o meu não estava e foi um milagre tê-lo achado). Espero que você jamais passe pelo que passamos, mas, se for o caso, esteja preparado!
É com um gosto amargo na boca que escrevo isso tudo e sinto profunda vergonha pelo erro que cometi. Ao meu amigo querido e ao meu amado filho só posso pedir desculpas pelo risco que os fiz passar, pela minha falha e prometer jamais repeti-la. Saber que o prejuízo foi apenas material ajuda, mas não aplaca a tristeza e a desonra. Espero que Netuno, Éolo, Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes, Iara e tantas outras entidades do mar e das águas continuem a nos proteger. Mas espero mesmo que todos usem sempre a ciência e os incríveis instrumentos tecnológicos que temos hoje para navegar com mais segurança. E que sempre, sempre que estiverem no timão de um barco estejam com 100% de sua atenção voltada para isso. Eu não o fiz. Quase morri. E quase matei meu filho e um grande amigo.

Murillo Novaes

03/12/2013

Iate Clube do Espirito Santo, 1978...

Meu primeiro barco, matéria comemorativa da revista da vela e uma saudosa lembrança de Papai que há dois anos deu o bordo para cima.

Agora , a segunda geração da familia velejando, eu e meu filho dando uma planada .

Redação em 1978, por Avelok
O ano era de 1978, e eu acabava de voltar da aula no colégio Sacre-Couer, localizado no alto da Ponta Formosa, na Praia do Canto , onde todos os dias ia caminhando , ida e volta. A distância parecia maior que de fato era, talvez pela ansiedade mirim que meus 8 anos pré -adolescentes manifestavam , talvez pela ladeira que tinha que subir e descer, onde eu utilizava um atalho não convencional pelo meio do mato para cortar caminho, ou até mesmo pela vontade de chegar logo em casa e sair para andar de bicicleta, na época minha diversão predileta, ou de contar os dias para  o fim de semana quando eu ia velejar com meu amigo Laurentino Bicas no seu optimist Zebrinha, na função de "proeiro", para mim um mundo novo que se descortinava e me efeitiçava.
Avelok posando na frente da nave, foto do acervo de Sérgio Rabelo.

Naquele dia, ao chegar em casa papai estava me esperando, e eu não entendi bem porquê. O trabalho na Vale do Rio doce , onde Seu Wallace, engenheiro metalurgico, civil e de minas, formado na turma de 58 em ouro preto, era gerente da pelotização , exigia muito do tempo e responsabilidade, e além disto eu ainda tinha mais 3 irmãos para dividir a atenção do amado pai, e não entendi o porquê dele me esperar para almoçar tão cedo.
Equívoco mirim , não era para almoçar que ele me aguardava, haviam outros planos no ar .
sir wallace jovem

Sir Wallace( violão) e Maria Lucia no namoro em Ouro Preto, 1961



Papai me leva até a garagem dizendo que precisaríamos sair rapídamente e depois voltávamos para almoçar,  entramos no maverick GT branco e saímos para passear, sob o pretexto de irmos cortar cabelo( ele sempre me levava no salão Garcia na praça Costa Pereira,  no centro de Vitória, mas isto era aos sábados, e meus irmãos Alvaro e Léo também iam juntos,  assim , mais desconfiado eu ficava a cada esquina que passavamos , será que eu aprontei alguma e vou levar uma bronca? ficava me indagando.


O casal nos anos 80.

Pegamos a aveninda "Navegantes", o V8 do mavera em marcha lenta, borbulhando baixinho, ganha a avenida e fomos em direção ao iate clube, aí eu perguntei por que estávamos indo naquela direção, se o salão era no centro?
turma da vela em 1981, Alexandro, Frank Brown, Avelok, Dudu Zenóbio, Albert Bitran, Paulinho Tomassi e Renato Zanol, embeixo, Jesus Soares, Bruno Tommasi, Juliana Queiroga e Helvio Pichamone.

-Ah nós temos que dar uma passada no Iate para deixar o dinheiro da mensalidade da escolinha de vela com a tia Marina Zenóbio, ele disse num tom calmo enquanto dava um longo trago em seu "Minister", olhou para  mim , piscou e o olho direito meio que dizendo, confia em mim filho! E tocou direto para lá, sempre na marcha lenta e devagar , curtindo seu cigarro e as suas músicas no tocafitas TDK, para ele o carro era um prazer e a música uma paixão.
Chegando no clube ele me chama para descer e acompanhá-lo até a secretaria, e para lá fomos juntos.
O clube era muito deferente do que é hoje , e a garagem de vela ficava anexo a portaria e o mar logo "alí", depois foi tudo sendo aterrado e lanchas e mais lanchas chegando, naquela época a maioria eram os barcos a vela.
Fomos caminhando pelo pátio e eu aproveitando para mostrar para ele os barcos dos meus amigos, falando o nome da cada um dos barcos, quem era o dono, se era bom velejador ou não, e tagarelava solto encantado em estar acompanhado de meu pai no meu novo meio social, junto comigo, só comigo sem nenhum irmão para dividir a atenção.
De repente estranho e vejo um barco numa capa verde escura parado em frente a garagem e falo:
- Papai, este  barco deve ser novo aqui, não conheço nenhum barco que tem uma carretinha destas e uma capa, o pessoal coloca os barcos em cima de pneus, e capa nunca vi.
Ele responde:
- Vamos lá perto para ver melhor sô!( num mineirês atêntico).
E fomos nós. Ao pararmos em frente ao barco, ele começa a tirar a capa como que curisoso para ver o que tinha dentro, e eu digo:
-Pai , não mexe não, depois o dono pode não gostar , reclamar com a gente ,  achar ruim, sei lá...
Aí ele olha para mim abre um sorrisão, e com aquele vozeirão diz, este é o seu, se chama "Xande ", mandei o dinheiro para o seu tio Lilino  e ele comprou o barco no Iate Clube do Rio e mandou para cá de caminhão, você gostou da supresa? perguntou.


Este é o Capixa( 1728), ainda na ativa na escolinha do ices,eu magrelo e sem camisa, no barco preto, o Ferramenta Paulinho Tommasi, acervo Roberta Ruscui.

Naquele momento minha cabeça entrava em parafuso, um flash!, não conseguia acreditar que teria meu próprio barco, deixaria enfim de ser um proeiro do Zebrinha e seria comandante! ainda mais de um barco que veio do Rio de Janeiro!Eu seria o máximo perante meus amigos.
Dei um abração daqueles nele, e agradeci em êxtase, tagarelando sem parar!
Então começamos a tirar a capa do barco, e foi revelado um belíssimo e ultra bem tratado casco negro, com um interior envernizado com maestria , com flutuadores "Bruder" amarelos e transparentes, catraca "elvstrom" mastro de alumínio e uma vela vermelha "la Rochelle" que tinha o percurso olímpico como logo, e um cheiro... ah!! mas um cheiro de barco, de barco de madeira misturado com maresia, e velas e tudo mais, o mais fino dos perfumes da minha memória, que agora escrevendo isto o cheiro me veio a mente e eu fiz uma viagem no tempo vivendo de novo o momento.
Ranking 1983, assinado pelo Sir Wallace

Até hoje, toda vez que vejo um barco de madeira, chego bem perto para ver se tem aquele cheiro! para mim o cheiro da vela, do iatismo!
Naquele instante, junto com papai, não foram só as narinas que o cheiro invadiu, ele invadiu  a minha alma e desde este instante passei a me dedicar a este maravilhoso esporte, o iatismo , que na época tinha um mito recém criado pela morte prematura e pela carreira sensacional, Joerg Bruder( o mesmo do flutuador), um tri campeão mundial que morrera no auge de sua vida, com 36 anos indo participar de um campeonato mundial na frança, num acidente aéreo.
Eu e Guará, a camisa é do Gupo dos Shurmann em passagem por Vitória na sua primeira volta ao mundo , presente de Pierre, o primogênito.

Bruder habitou todos os meus sonhos infantis e juvenis, sonhos de glória e triunfo, de obstinação e garra , imaginava aquele barco para homens gigantes( o Finn) planando em uma regata com 100 barcos e ele na frente ostentando o numero 3, junto com o BL, o legendário BL3 e voando como um "fliyng duchtman"!
Papai e eu em 1983.

NO  dia 15 de Junho de 2011, meu Pai foi dar um bordo no Céu, restando apenas agora as lembranças, o que me faz pensar no sentido da vida. A gente guarda da vida só lembranças, pois o que passou no minuto passado ja é lembrança, e o que passou a 10 ou 30 anos é também lembrança, aí tive a conclusão mais feliz da minha vida,: se tudo é lembrança,  e elas são atemporais, então que se viva a vida a cada momento, para montar o se repertório de lembranças que ficarão gravados em nossa memória para eternidade, e nesta vida o que fica é o seu legado a sua memória, e desta forma, meu pai foi o maior craque , pois como disse meu tio e padrinho João Henrique no Funeral,. a respeito da vida do Sir Wallace, citando Neruda: " posso dizer que vivi!"
Obrigado Pai, obrigado Deus! por tudo, e agora irei multiplicar os ensinamentos para meu filho!

Harry Manko, sempre com filmes sensacionais e gozadíssimos!

Um vídeo de compilações da Volvo Ocean Race, a volta ao mundo.

Os nós mais usados no mundo náutico, uma vídeo aula, aprenda para não chamar cabo de corda!