Vito Dumas.
Argentino nascido em 1900 e falecido em 1965 em consequência de um derrame cerebral, Dumas em sua juventude foi um exímio nadador , especializado em probas de longas distâncias, tal qual Sir Robin Knox Jonshton que foi além de um grande nadador também um corredor de fundo, Vito também fora Boxeador, e como magnânimo Sir Chichester também foi um aviador, um parêntese para Sir Chichester: este homem deu a volta ao mundo solo aos 65 anos, já diagnisticado como portador de cancer terminal em 1967 , com apenas 1 escala, e é tido como um grande herói em seu país e no mundo da vela.
Vito Dumas por volta de 1923 ,por 5 vezes tentou fazer a travessia da foz do Prata a nado e fracassou as 5, em 1931 tenta atravessar o canal da Mancha, sem sucesso novamente.
Lá na Mancha foi onde teve o primeiro contato com os veleiros , no litoral Francês em Calais, esporte pelo qual ele se apaixona imediatamente .
Ali mesmo Dumas compraria seu primeiro barco, o Titave II , barco regateiro, veloz, campeão da classe Internacional de 1912.
Contrariando as superstições do mar, ( trocar o nome dá mau agouro)Dumas o rebatiza de Legh , que ao contrário do que diz no wikipédia não eram as inicias de sua amante, tampouco uma homenagem as embarcações escandinavas, mas orginário das iniciais das palavras: luta , integridade, hombridade e grandeza, que em espanhol são: Lucha, Entereza, Hombría, Grandeza , o lema, o código de honra do cidadão nascido em Palermo.
O Lengh chega a Nova Zelândia
Estes fracassos coletados sequencialmente por Vito Dumas foram importantíssimos para sua realização pessoal, pois como dizia Churchill, o sábio dos sábios dos anos das décadas de 1920/30 e 40:
"O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo."
Estes acontecimentos moveram este homem simples e determinado a sentir uma profunda necessidade interior de como fazer algo pela honra do esporte argentino, como se lê na carta ao amigo:
"Bueno Aníbal: la razón de mi aventura es haber comprometido mi palabra en hacer algo de mérito para el deporte argentino. Mis medios son reducidos y la vida que estoy pasando sólo yo se los sacrificios que me imponen.
Trecho de uma carta ao seu amigo Aníbal, escritas nas vésperas de sua primeira viagem , em 1931 de Arcachon na frança, a Buenos Aires, trazendo assim seu novo barco para casa.
Ao chegar em Buenos Aires, Dumas foi recebido com grande festa, pois essa travessia do Atlântico se constituiu na primeira aventura de vela em solitário da Europa para a América do Sul em todos os tempos.
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Inicia-se aí sua brilhante trajetória, lançando sua nave ao mar novamente em 1942 na sua sensacional viagem dos" Cuarenta Bramadores": Uma volta ao mundo nas latitudes do mar gigante e congelante, passando pelos 3 cabos mais meridionais e mais terríveis do mundo:
- Boa esperança, Lewin e Horn, com apenas 3 escalas, Cape Town, Wellington e Valparaíso.
A chegada em Valparaíso, Vito está literalmente em frangalhos) fonte navegantevitodumas.com.ar
A circunavegação foi feita no seu inseparável Yawl Legh II, que sequer tinha um rádio ou um motor, em condições precárias e em plena segunda guerra mundial. O LEGH poderia ser torpedeado ou fuzilado por um navio ou submarino, despedaçado por um canhão, ou afundado por um avião.
Dumas dependia da água da chuva para saciar a sede,( a falta de água e o cansaço pela falta de horas de sono foram os maiores inimigos) , usando até mesmo jornal por baixo das roupas para não congelar, e principalemente utilizando-se de uma técnica que invetou para velejar e sobreviver em condições extremas naqueles mares dantescos:
Navegando sempre de popa para o vento e num ângulo de 15 graus, correndo as tormentas e as ondas.
Durante uma tempestade no Pacífico , Vito sofreu um grave traumatismo craniano e teve alucinações, precisou de toda a vontade de viver e consquente da verdadeira garra de um yachstman para se superar e completar os ultimos 104 dias de viagem . Os terríveis dias finais, justamente no trecho mais duro que enfrentou em toda epopéia, mas... ele triunfou, venceu a si mesmo, ele consegiu!
Estas duas fotos são cortesia do Atilio Bermudez, ele as fez no Museu Naval Argentino. |
Devido a proibição e burocracia das autoridades argentinas naqueles terríveis dias da segunda guerra mundial, Vito que estava proibido de partir de Buenos Aires pelas autoridades, acaba por zarpar de Montevidéo( uma ironia!), para assim iniciar a legendária viagem que durou 1 ano e exatos 36 dias, navegando num mar antes nunca enfrentado frente a frente por um veleiro, através das latitudes dos "Cuarenta Rugientes ":- as 21 mil milhas para se dar a volta ao mundo nos mares mais furiosos e gelados do planeta água, nas baixas latitudes.
Dumas é recebido como herói em Buenos Aires em 8 de agosto de 43.
A chegada na capital portenha. (fonte navegantevitodumas.com.ar)
AI partir, un amigo le preguntó cuánto dinero llevaba encima. Desconcertado, Dumas sacó su billetera y constató que solamente contenía un billete de 10 Pesos. "Y con eso piensas dar la vuelta al mundo?" le preguntó el amigo. Dumas replicó: "Y donde pretendes que gaste el dinero navegando?". El amigo no supo qué contestarle, pero le entregó diez libras esterlinas en billetes, "por las dudas..."
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Do site Brasileiro que por sinal é muito bem feito, um primor de informação, e tem ótimo material de pesquisa, o site maresnavegantes.com.br, pego "emprestado" a parte final desta matéria que narra o ultimo cruzeiro de Dumas conhecido como :
-O Cruzeiros dos Imprevistos
Em 1945-46,nova aventura de Vito Dumas,que quase custou-lhe a vida –viagem de Buenos Aires à Nova Iorque. Seus problemas começaram justamente em frente à Coney Island,muito perto do porto de Nova Iorque,quando uma calmaria e corrente forte contrária o impediram de entrar no rio Hudson. A situação ficou tão complicada,com o Legh II sendo tão arrastado de volta para alto mar e em seguida entrando fortes ventos contrários (Vito Dumas nunca instalou motor em seu barco), que ele foi obrigado a rumar para os Açores,atravessando o Atlântico,pois lhe seria impossível aportar na costa americana. Mas nunca chegou lá tampouco,ao invés disso esteve ao largo da ilha da Madeira,e depois avistou as Canárias,e de modo incrível a situação anterior se repetiu em ambas as vezes –ventos contra ou calmaria total,com forte correnteza desviando o Legh II para outra direção…Desistiu das ilhas,e com a fome levando-o ao desespero e tornando-se praticamente um esqueleto vivo,rumou para a costa africana,mas não precisou arribar,pois um cargueiro passando próximo viu seus sinais de socorro,e atirando-lhe alimentos,salvou-lhe a vida. Finalmente,o Legh II ruma de volta para a América do Sul,voltando a atravessar o Atlântico,e chega ao Ceará,no Nordeste brasileiro,depois de 106 dias sem escalas no mar…De lá retorna à Argentina,mas ainda tem o infortúnio de encalhar na costa uruguaia. Esta viagem lhe rendeu muitas críticas,com conterrâneos o desqualificando como navegador. No entanto,foram mais de 17 mil milhas percorridas em 234 dias no total da viagem. Da experiência ele escreveu o livro “O cruzeiro do imprevisto“.
Foi em 1955 que Vito Dumas empreendeu sua última viagem,novamente para Nova Iorque,num veleiro ainda menor que o Legh II,oSirio,quando novamente enfrentou graves problemas. Foi obrigado a desistir da idéia de chegar nos Estados Unidos sem escalas,aportando nas Bermudas com problemas de saúde. Recuperado,completou o desafio chegando em Nova Iork em 25 de setembro de 1955,depois de cobrir 7 mil milhas marítimas em 117 dias.
Vito Dumas faleceu em 28 de março de 1965,vítima de derrame cerebral. Escreveu os livros “Mis Viajes“,“Solo,rumbo a la Cruz del Sur“,“Los cuarenta bramadores”e “El crucero de lo imprevisto“.
Infelizmente,Vito Dumas quase acabou esquecido pelos seus compatriotas durante sua vida. Seu barco,Legh II,que provavelmente realizou a maior façanha náutica do século XX com a volta ao mundo pioneira pelos “cuarenta bramadores”ficou abandonado e perdido (ao contrário do barco de Moitessier,o Joshua,que foi recuperado e navega até hoje patrocinado por um museu marítimo francês). Mas depois de sua morte,seu valor foi aos poucos sendo reconhecido por todos os cruzeiristas do mundo,e sua fama teve grande novo impulso quando Bernard Moitessier confessou ser fã de Dumas,e ainda ter adotado técnicas de navegação do argentino para conseguir navegar nas altas latitudes.
Existe uma polêmica em se discutir que foi o maior navegante no site argentino navegantevitodumas.com.ar:
Chichester ou Dumas?
Na minha opinião foi Dumas, apesar da "fumaça" que ronda sua história pelos próprios velejadores da Argentina.
O leque é maior para se comparar: Scott, Amundsen, Shakleton, Slocum, Tabarly, Moitissier, RKJ, Slocum, James Cook?! me lembrei de um post interessante que fizemos há algum tempo, que recorro a piada deste próprio pasquim para colocar nosso ponto de vista, assim sendo a resposta está na próxima postagem!