27/02/2017

Evgeny Gvoznev, um grande navegador em seu pequeno barco, uma homenagem do velejador Roberto Rodriguez.








Segue matéria ecaminhada ao nosso amigo Marcelo Gusmão, do Iate Clube de Santa Catarina, que gentilmente enviou para postagem em The Yacht-man.
Prezados amigos apaixonados por vela
Eu( Roberto Rodriguez), sabia que "aquele Russo que deu a volta ao mundo num pequeno barco à vela" tinha construido seu veleirinho em uma sacada de apartamento (já reformei muito barco em terra firme e imagino como deve ter "sofrido" para fazê-lo), eu, sabia que ele tinha dado uma volta ao mundo, eu, sabia que era com um barco muito pequeno (menor que um Marreco 16 - eu que já tive vários "Marrecos" e nem por sonho me via em alto mar com um barco desses, apesar de achar muito seguro e gostar muito do Marreco 16)), eu, sabia que ele havia falecido, mas nunca tinha me inteirado exatamente como?
Por ser um admirador desse notável velejador (que voltou no tempo ao inverter o progresso da navegação de cruzeiro, sem motor, etc), lendo um artigo em um dos sites que participo da Argentina (ADAN - La Asociación Deportiva Argentina de Navegantes), paginando por seus artigos, me deparei com esse "grande navegante" e acredito que muitos devam conhecer sua história, mas também acredito que muitos não o conheçam, porisso tomo a liberdade de narrar alguns fatos desse notável velejador,mais como uma forma de homenageá-lo, pois esse merece e ficarei muito feliz de compartilhar com aqueles que tem o espírito aventureiro e cheio de sonhos que nem eu.
Evgeny Gvoznev, um grande navegador em seu pequeno barco.

"O anúncio demorou muitos dias em se conhecer". Evgeny nunca foi de ocupar as primeiras páginas dos jornais e muito menos das revistas náuticas (apesar que faço menção da Revista Náutica ter publicado um artigo à respeito bem interessante na época).Seu sonho era de navegar em sua pequena nave, fazer amigos em cada porto (quem o conheceu, com certeza concorda), porém, infelizmente isso não é notícia, mas com certeza é um exemplo de vida.
Zarpou em Maio de 1999 e no dia 29 de novembro de 2008 (poxa, um dia antes do meu aniversário?), seu barco atual o Getan II, foi açoitado por um forte vendaval que quebrou seu mastro e a corrente o levou sobre as costas de Ostia, Itália no dia 30 de novembro (pô, no dia do meu aniversário?).
Evgeny se comunicou com seu amigo David Muhumaev de Makhachkala, sua cidade natal, comentando o sucedido e que se preparava para chegar ao porto mais próximo para reparar seu barco.
Infelizmente nunca chegou.
Uma fria crônica de um jornal em 2 de dezembro de 2008, comentou que fora encontrado por um carabinero seu barco o Getan II sobre a costa e a poucos metros dalí, jazia Evgeny sem vida, com uma ferida na cabeça.
Para a náutica é uma enorme perda. Evgeny era um modelo de navegante, tinha persistência, garra, determinação e sobretudo, muita humildade.
Seu exemplo, sempre estará presente em todos os navegantes.
Imagine você que veleja, partindo sozinho?
Agora imagine você, partindo sozinho e num pequeno barco à vela (e bota pequeno nisso)
É pessoal, temos que dar muito crédito à esse velejador solitário que partiu para navegar, mas com certeza, agora está navegando nos mares do céu.

MANUAL AMADOR DE NAVEGAÇÃO EM TEMPOS DE VENTO FORTE, por Caê Guimarães.

É possível navegar usando o mapa luminoso das estrelas. Olhe para o céu. O mapa está lá, desde que não haja nuvens encobrindo a crosta terrestre, pele fina de areia, terra e minérios que impede que voemos pelos ares implodidos pelo magma que borbulha lá embaixo. Deixe-se levar pela grafia do tempo. Isso que você vê com o pescoço virado para cima é o que há de mais antigo a ser captado pelo olho humano. Variará de acordo com a hora da noite e a época do ano. Mas será sempre o mesmo céu. Só muda quando você cruza a linha do Equador. Lá, são outras estrelas a guiar faroleiros, marujos e bucaneiros.
A constelação de escorpião escorre sinuosa no final da tarde. As Três Marias, dentro do retângulo de Ôrion, brilham como meninas tristes, paralelas sem nunca poder se tocar. O Cruzeiro do Sul é o marco de quem vive nessa parte do planeta. Uma cruz imensa, completa por uma testemunha discreta, pequena, posicionada no quadrante inferior esquerdo, como se fosse uma intrusa aceita pela benevolência dos pontos mais luminosos. Também tem Vênus, com suas insinuações mitológicas e sensoriais. Primeiro sinal a aparecer, é a luz mais sensual e hipnotizante dos corpos celestes que nos são dados observar. O que vemos são chamados corpos austrais. No do norte do planeta são boreais. É outro céu, mas também é uma carta de navegação, de onde se pode definir o rumo de uma rota, a distância pra chegar daqui até aí e o tempo certo para ancorar ou içar velas. Outra ferramenta de navegação é a leitura do vento. Um olho na vegetação e outro na pele de pantera do oceano. As folhagens indicam o sentido e intensidade, como um movimento de esgrima. Na Patagônia, por exemplo, todas as árvores crescem para o norte, deformadas pelo constante vento sul. Às vezes ele chega forte aqui. Imagine lá. Vento é ar em movimento. Pode suavizar o calor escaldante e derrubar os muros erguidos sobre as convicções confortáveis. Pode ser mudo ou cantar uma nênia que língua alguma traduz sem os contornos da subjetividade. O lado contrário ao sentido de onde vem o vento é chamado sotavento. Seu oposto é o barlavento. De forma simplificada, um é onde sopra e o outro de onde sopra. Também há ferramentas inventadas pela mão humana. A mais comum é a bússola, uma agulha imantada que aponta sempre o norte. A partir daí sabemos onde fica seu oposto, o sul, e seus escudeiros, leste e oeste. Por isso as palavras nortear e orientar se incorporaram ao nosso vocabulário com uma segunda função, que é indicar o caminho certo, a direção, o ponto aonde se quer chegar Certa vez, parodiando a melosa frase “longe é um lugar que não existe”, alguém me disse que “norte é um lugar que não existe”. Pode ser. As agulhas das minhas bússulas sempre subvertem a lei da natureza. No lugar de apontar ao norte magnético, elas giram incessantemente. Como moinhos engarrafados. Por isso as estrelas, o vento....

Epifânia.

A bordo do Phantom, sozinho e em epifânia . Contemplo o Sir Wallace se aproximando da linha de chegada, caturrando muito, suas velas enfunadas, o mastro envergado , velejando adernado num vento de 30 nós, com o timoneiro pendurado na escora, segurando nas unhas o terceiro lugar geral na última regata a ocasião da copa estreante. Um dos momentos mais especiais de minha vida. Não pelo resultado, e sim pelo amor ao esporte que se descortinou, e abriu um horizonte de uma vida completamente diferente para a família. Momento cristalizado pela lente de Camilla Baptistin.

30/01/2017

Tá chegando a hora da Regata Vitória Guarapari, a festa da vela capixaba!

Há uma faixa no litoral brasileiro pouco conhecida por muitos navegadores, e que fica bem perto do Rio e de Salvador, este trecho compreende o litoral entre Vitória e Guarapari. Talvez um dos trechos mais lindos de todo litoral Brasileiro, dada a preservação total da natureza em quase metade do percurso, e a passagem pelo paradisíaco arquipélago de 3 ilhas. Somados aos fatores geográficos, a regata é um percurso de aproximadamente 29 milhas, e ladeira abaixo, com vento de popa e balçao em cima o tempo todo, o que a transforma a regatra promovida pelo Iarte Clube do Espírito Santo , em um passeio rápido para quem curte cruzeiro, e numa balonada incrível para os que tem as facas nos dentes. A recepção da regata e a premiação são realizadas a bordo da escuna indiana( gigantesca), que estará a espera dos barcos atracada na praia do morro, aos pés do morro da pescaria, num local perfeito para atracação e com águas incrivelmente translúcidas. A flotilha capixaba de oceano deixa aqui um convite aos velejadores de todo o Brasil para que venham participar desta prova única no calendário nacional. Sábado, dia 11 de fevereiro de 2017. mais informações pelo meu email: avelok@gmail.com Ats Renato Avelar BRA 2345 Phantom Of The Opera.

16/01/2017

Oportunidade de viajem de travessia aberta no My Bless, segue para divulgação.

Meus amigos e velejadores, Estou avaliando a possibilidade de levar o MY BLESS II para a Europa, atravessando o Atlântico Norte, e percorrendo o Mar Mediterrâneo até a Grécia, onde farei alguns passeios com interessados. Para isso, estou disponibilizando vagas na tripulação para as seguintes etapas: TRAVESSIA DO ATLÂNTICO NORTE FORT LAUDERDALE – PORTUGAL MAIO (2a quinzena) – JUNHO aproximadamente 40 dias Fort Lauderdale – Bermudas aprox. 950 nm 5-7 dias Bermudas – Açores aprox. 1900 nm 10-14 dias Açores – Portugal (Lagos) aprox. 970 nm 5-7 dias Tripulantes a bordo: 4-5 Custos por tripulante: US$1500 + despesas de alimentação, marinas, taxas de imigração, diesel, etc. MEDITERRÂNEO RUMO À GRÉCIA image LAGOS (POR) – GRÉCIA JULHO aprox. 20-25 dias. Lagos - Estreito de Gibraltar aprox. 170 nm Gibraltar – Almeria (ESP) aprox. 190 nm Almeria (ESP) – Ilhas Baleares aprox. 200 nm Ilhas Baleares – Sardenha (ITA) aprox. 300 nm Sardenha – Palermo (ITA) aprox. 200 nm Palermo – Reggio di Calabria aprox. 100 nm Reggio di Calabria – Lefkas (GRE) aprox. 250 nm Tripulantes a bordo: 4-5 Custos por tripulante: EURO 1500 + despesas de alimentação, marinas, taxas de imigração, diesel, etc. PASSEIOS NA GRÉCIA - LEFKAS Períodos previstos: JULHO 28 – AGOSTO 7 AGOSTO 9 – AGOSTO 18 AGOSTO 20 – AGOSTO 29 Tripulantes a bordo: 4 Custos por tripulante: EURO 1500 + despesas de alimentação, marinas, taxas de imigração, etc. Seja um tripulante do My Bless II. Para mais informações, entre em contato. Capt. Valtinho My Bless II TIM +55(61)8111-6612 USA +1(305)773-6664 (WhatsApp) Skype: captain_vjr valterjr@myblessboat.com

15/12/2016

Neste sábado , os capixabas estarão na raia participando desta magnifica festa da vela.

Regata Preben Schmidt, o Patriarca dos Grael, fundador do "Sailing".

The legend is back!

Bravo Zulu.

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA DE EXPRESSÃO "BRAVO-ZULU". Em idos 1866 durante a guerra do Paraguai, houve um herói cujo o feito tornou-se lendário e até hoje pouco conhecido, foi o CORNETEIRO JESUS, escravo alforriado, foi a guerra em troca da liberdade. Numa época em que as batalhas eram Travadas ao som da corneta, era ele a voz do comandante, sendo assim alvo do inimigo, pois matando o corneteiro, calaria o comando da tropa. Em certo momento, no ardor do batalha, o valente corneteiro que combatia bravamente, foi alvejado em uma das mãos, mesmo sangrando pegou a corneta com a outra mão e continuou a tocar. Mais um tiro lhe atingiu a perna e outro o torax, que o levou ao chão. ferido de morte, os seus leais companheiros se aproximaram e lhe perguntaram; -O que tu queres que façamos por ti! Respondeu ele; -Ponha-me em cima daquele barranco, para que sobre os cadáveres dos meus inimigos, para que eu, ao menos possa dar o toque da vitória! E assim foi feito, vindo depois a falecer, por este motivo ganhou o título de "O CORNETEIRO DA MORTE". O oficial de campo ao saber da história perguntou; -Quem era este homem, de onde ele veio!... E lhe responderam; -Dizia ele ser um nobre africano, descendente da tribo dos zulus. Neste momento o Comandante com pesar, disse as celebres palavras: -VERDADEIRAMENTE ESTE HOMEM ERA UM BRAVO, UM "BRAVO-ZULU"!!! A partir deste momento Bravo-Zulu passou a ser sinônimo de trabalho bem feito. (A história que os livros não contam).

18/11/2016

John Guzzwel, cidadão fora de série. Um gigante da determinação e raça, um cara que podemos chamar de "cascudo".

Um barco projetado por J.Laurent Giles, um yawl com 20,6 pés fez história em 1959, quando seu dono e construtor J.Guzzwel , retornou ao seu porto de partida em Victóra , em British Columbia, 4 anois depois de zarpar para uma viagem sem grandes pretenções e sem muito alarde.

Sem planejar uma circunavegação , John zarpou em 1955 , com apenas 25 anos para uma viagem até o Hawai, e o que veio foi um dos maires feitos da navegação deste inglês radicado na Austrália, e que posteriormente escreveu um dos best selleres da vela mundial.





Ele construíra seu barco nos fundos de uma loja de peixes, o cara voltou para casa com 2 recordes, o primeiro "brit"( australiano radicado) a dara a volta ao mundo e o menor barco a fazê-lo, este segundo recorde pedrdurou até 1987, quando Serge Testa o quebrou a bordo de seu 12 pés.
Jonh também fez parte da Tripulação do Tzu Hang, numa trégua durante sua circunavegação, e para quem leu o livro sabe que do que se trata, um yacht-man de verdade, que cortou o maior dobrado a bordo deste ketch de 46pés, o barco capotou no Horn e ficou sem mastro, e parte do convés, e graças as habilidades de marcenaria de Jonh não foi para os braços de netuno, foram para o chile , ficaram meses arrumando o barco, que depois zarpo e tudo de novo: sem mastro , capotagem e o escambau, mas esta história fica para outro dia, vamos também publicá-la em breve.
O intrépido navegador nasceu para a faina, aos 3 anos, zarpou com sua família num Kecht de 53 pés chamado de "our boy", da Inglaterra rumo a Cape Town, terra natal de sua mãe, e durante a viagem eclodiu a segunda grande guerra, sendo feitos prisioneiros toda a familia Guzzwel, que fora enviada a um campo de concentração onde permanceram de 1942 a 1945.
O conteúdo desta matéria sugerido por JACKSON BERGAMO, o professor dos Woodens Boats do Brasil.


www.jacksonbergamo.com.br

Regata Recife Noronha, um evento que todo velejador deve ir uma vez na vida ao menos, a meca da costa brasileira.

Há 4 anos atrás tivemos a honra de participar desta regata maravilhosa, e um grata surpresa nos foi agraciada : Esta magnífica foto exatamente no momento que nós chegamos a Noronha.
A foto foi tirada pela esposa do Bailly, e perpetuou este momento mágico na história de nossa equipe e de nosso barco.
Este ano não vai dar para participar, entretanto já confirmamos nossa participação no Circuito Rio no fim de outubro.
Afinal velejar é preciso!
Na ocasião da regata preparei este texto para a revista velejar, que pode dar dicas legais para quem quer participar do evento.
















A imperdível Refeno, Visão, depoimento, constatações e dicas de um cara fascinado pela vela, para quem quiser participar, no futuro, da Regata Internacional Recife Fernando de Noronha.



A imperdível Refeno

Visão, depoimento, constatações e dicas de um cara fascinado pela
vela, para quem quiser participar, no futuro, da Regata Internacional
Recife Fernando de Noronha.

Por Renato “Avelok” Avelar



Há muitos anos tenho ouvido histórias de velejadores que participaram
da Refeno, regata Recife Fernando de Noronha, e estes relatos vêm
povoando minha mente desde longínquos anos, deixando a certeza de que
um dia iria participar deste evento e decifrar seus enigmas, até mesmo
por nunca ter pisado na Ilha.


O interessante é que, de todo o material que lia ou que ouvia pelos
clubes e nas temidas “rodas de varanda” do Brasil afora, nenhum deles
conseguiu criar uma imagem determinada em minha mente. Tampouco
documentários televisivos acerca da ilha desenharam seus contornos em
linhas claras no meu cérebro. De fato, eu não tinha uma imagem da
ilha, ou, se tinha, era irreal, ao menos até conhecê-la de verdade.


Não sei se de propósito, ou porque nunca havia lido algo bem ou mal
escrito, que realmente despertasse a minha atenção, mas minha
consciência refugava predeterminações e imagens pré-concebidas, ou
mesmo pré-conceitos, uma vez que no meu âmago estava estabelecido que
um dia iria participar da regata.

Não foram raras as vezes que ouvi casos exageradamente aventurescos a
respeito dela, contados por velejadores que a fizeram e se
vangloriavam do feito, ou por varandeiros que nunca a fizeram e
preferiam mistificá-la a encará-la!

Concluí, para clarear as ideias que povoavam minha cabeça, que era
preciso participar da regata.



Participei – graças a Deus

Pois bem, amigos nautas e amantes da vela de plantão, estamos aqui
escrevendo sobre a Refeno; então, obviamente, realizamos o sonho.

O maior desafio para se participar da regata Recife Noronha, não é
travessia das 293 milhas que separam o Marco Zero do Recife antigo, da
linha de chegada no Boldró, em Fernando de Noronha, mas sim a
dificuldade de estar lá, na largada.





Exceto os barcos do Norte e Nordeste, os barcos do Sul e Sudeste fazem
uma gigantesca jornada para prestigiarem o evento. Para nós, que
partimos de Vitória, ES, foram 2.600 NM no total; para o Roberto
Bailly, de Niterói, foram quase 3.200 NM; para a galera de Porto
Alegre... 5.100 NM. Que tal? Até mesmo para a turma de Salvador, que
mora “ali ao lado”, são 1.500 NM, ida e volta.

Mas, a distância não é problema para quem quer fazer esta regata, nem
o tempo despendido e nem mesmo os altos custos são obstáculos, com
cada um encontrando a forma de realizá-la à sua maneira (se assim o
quiser de verdade). As opções são muitas e o cristão pode escolher a
que melhor lhe aprouver.



Senhores do Tempo

Os “Senhores do tempo” podem ir velejando em seu próprio barco,
especialmente se aproveitarem um grupo sensacional como o pessoal do
Cruzeiro Costa Leste, que se realiza de dois em dois anos e sobe
calmamente o litoral Brasileiro, saindo do Rio e indo até Recife,
gastando meses inteiros com várias escalas em portos, praias,
enseadas, festas e recepções, curtindo não menos a viagem do que o
destino final.

Esta opção tem um inconveniente: não serve para aqueles que ainda são
óleo para a máquina do dia a dia e que não são donos de seu
calendário. E mesmo para os libertos, o Costa Leste só acontece de
dois em dois anos. Mas é, sem dúvida alguma, a opção mais segura e
divertida para quem pode.



Sem lenço e sem documento

Pode-se ir, também, no próprio barco, sem lenço e sem documento, como
fez meu amigo Serginho Rossi em 2010, no Gato Xadrez, um pequeno Cal
9.2, quando iria completar 50 anos. Deu a si mesmo um presente de
aniversário inesquecível: tirou o relógio de pulso, desligou o celular
e entrou em 40 dias de férias para poder ir e voltar da Refeno sem
stress, saindo de Vitória em companhia de dois amigos, um bom violão,
muita picanha e curtindo a navegada com tempo suficiente para velejar
a favor do vento e sem relógio de ponto, curtindo cada momento.

Neste mesmo estilo, mas em outra vibe (mais regateira), o Roberto
Bailly, do Xeqmate, foi de Niterói num tiro só até Salvador, correu a
Aratu, deixou o barco lá e voltou para trabalhar. Depois, tirou
férias, foi de Salvador a Recife, fez a Refeno, voltou em nove dias de
navegada, saindo direto de Noronha e só parando em Búzios, rapidinho,
para comprar gás e, finalmente, chegando a Niterói. Cascudo esse
Roberto...



Para quem ainda é “óleo para máquina”

Para esses existe a opção de mandar um skipper levar o barco e ir de
avião, como foi nosso caso.

Primeiro despachamos o barco para Salvador, onde ficou por quase 40
dias, onde aproveitamos para participar da Aratu-Maragojipe (matéria
nesta edição), curtimos o fim de semana e voltamos ao nosso dia a dia.
Em seguida, dentro do cronograma da largada, o skipper o levou até
recife. Essa opção é uma mordomia e tanto, mas não sai barato, pois,
além do trabalho do skipper, existem os custos de refeições e
passagens aéreas, rancho, diárias para tripulantes, diesel, peças que
quebram etc., o que, numa viagem onde o barco ficou fora de casa por
cinco meses, acaba saindo caro. Mas, se planejado e rateado entre
todos os tripulantes, torna-se uma opção bem razoável, ao alcance de
escravos do tempo, como nós.



Para os inexperientes

A opção de comprar uma vaga como tripulante de algum veleiro também é
muito tranquila, talvez a mais “resort” de todas, ideal para quem quer
um cruzeiro ao pé da letra. É, sem sombra de dúvidas, a opção mais
acessível, pois não precisa nem saber velejar. Para os inexperientes
que tem barco, ou que tripulam barcos de amigos, ou que velejam
normalmente entre amigos, esse formato traz a desvantagem de não estar
rodeado de pessoas que costumam fazer parte de sua vida, os seus
amigos do peito; assim, o aspecto “regata” não tem muita importância!
Aliás, este “aspecto regata” fala muito baixo nesse evento, que
prefiro chamar de festa.



Para quem tem muitos amigos e um barco pequeno

Também é muito interessante alugar um belo barco de regatas, como fez
o João Ricardo Fernandes, de Niterói, que reuniu nove amigos e se
lançaram na regata a bordo de um sensacional Benneteau 40,7. Saiu mais
barato, por exemplo, do que a opção que escolhemos, com a vantagem de
ter à disposição um barco bem grande e confortável, o que, de fato,
faz a diferença na regata.



Para os fora de série!

Se você é um cara duro (no sentido de resistente e corajoso), faça
como o Kan Chuh, gigante da vela de oceano no Brasil: mande toda essa
conversa fiada as favas, pegue seu mini-transat e vá sozinho, sem
frescura e sem conforto, voando baixo e chegando rápido. Aliás, a
Refeno é um passeio de criança para este sino-baiano, que tem um
currículo como o daqueles velejadores francês malucos, para os quais o
mundo é muito pequeno.



E parafraseando Walt Disney: ”Você é do tamanho do seus sonhos!”

De uma forma ou de outra , você, querendo, vai participar da regata, o
Circo se arma!

Definida a forma da participação, a inscrição é super-organizada,
online, no site da regata, www.refeno.com.br, lembrando que deve ser
feita com bastante antecedência, pois o valor vai aumentando assim que
a largada se aproxima e o numero de participantes é limitado (neste
ano foram apenas 100 barco).


Marcos Medeiros( diretor da regata), Avelok, Marcão Albuquerque, Léo, Roberto Bailly e Suely( staff).

Pintura do Avelar , noite estrelada na refeno


Organização profissional

O pessoal da secretaria do Cabanga, a Suely, o Júnior e o Marcos
Medeiros (diretor da regata), são muito solícitos, estando à
disposição o tempo todo para tirar dúvidas e orientar os
participantes, e olha que eu liguei umas 30 vezes para lá, por conta
de sermos marinheiro de primeira viagem e estarmos preocupados com
todos os detalhes (a estadia do barco, as cartas náuticas exigidas
pela Capitania dos Portos, passando pelo rastreador Spot, e estação
navio da Anatel).

Pois bem, o staff da Refeno é profissional mesmo. Trabalham com
alegria e dão todo apoio necessário; não se vê ninguém estressado,
muito pelo contrário.

Os dias que antecedem a regata no Cabanga são sensacionais, o
movimento dos barcos na marina, todos nos preparativos finais, o
ambiente pré-regata... E cada barco de babar, como os catamarãs
gigantes, a exemplo do Guruçá; o lindíssimo Bavaria 55 Mussulo; o
Sessentão; o premiadíssimo Ave Rara; o Grand Luc, do François Moreau;
o impecável Brasília 32 mega-ultra-equipado Bear Ship e  tantos outros
barcos dentre o cento que aguardava a hora e o dia da largada.



Rega bofe e porre, mas com energia positiva...

A organização preparou um sweepstake de primeira categoria. Teve
barril de Chopp todo dia, apresentação de maracatu, happy hour, muito
agito e convívio social e, coroando os dias da pré-regata, o magnífico
jantar na antevéspera da largada.

Aliás, este jantar, que eu vou ter que chamar de festa, merece
destaque, por ser na antevéspera e dar tempo para todo mundo curar a
ressaca; assim sendo, a festa vira festa mesmo! Este ano teve um grupo
de rapazes tocando Beatles, todos caracterizados com terninhos pretos,
perucas e tudo mais. Até o guitarrista era canhoto, como o Paul, e o
batera a cara do Ringo! Os caras arrasaram, tocavam muito! Os
velejadores vibraram com a música, todo mundo dançando em pé,
especialmente os mais “antigos”, como os velejadores mineiros
Deusdedit e  Célio (tripulantes do veleiro Madame), que foram
literalmente para o gargarejo no palco. O clima emanava energia
positiva!


O jantar foi realizado na quadra de esportes do Cabanga, onde deveria
ter umas 500 ou 600 pessoas. Cada barco tinha sua mesa reservada, com
o nome da nave em forma de vela, ornamentando uma caixinha de madeira
cheia de chocolates e bolo de rolo (especialidade recifense), um
presente de boas vindas da organização para as tripulações. O serviço
incluiu champanhe a rodo, cerveja gelada, salgadinhos o tempo todo e a
píece de resiténce: medalhão ao molho madeira, ou bobó de camarão! Que
maravilha!



Hora de coisa séria

No dia seguinte, reunião de comandantes com a Marinha do Brasil. Uma
reunião de comandantes de verdade, com nada menos que 3 horas de
duração, onde a segurança foi, de fato, levada a sério, um trabalho
bonito de ver, e a relação da Marinha com a regata e os velejadores,
mais bonita ainda!


Durante a reunião exibiram um vídeo amador, feito por um dos
tripulantes de um trimarã que capotou na edição de 2010 e que fora
salvo graças ao uso do rastreador “Spot”. Isso foi mais do que
suficiente para todos se convencerem da importância deste moderno e
obrigatório equipamento, que é um pé de coelho misturado com um Epirb
e custa o preço de um GPS.

Passada a festa, curada a ressaca, barcos vistoriados pela marinha,
solucionadas as pendências da vistoria, feita a reunião de
comandantes, barcos abastecidos, todos se preparam para a largada.
Fato curioso, pois, apesar da largada ser ao meio dia de sábado, todos
os que tinham mais de 1,60 de calado deveriam sair do Cabanga as
2:00hs da manhã de sábado, caso contrário, ficariam presos pela maré
baixa. Assim sendo, a partir de 1:00h da manhã praticamente toda a
flotilha se lançou para a região do porto antigo da cidade, a fim de
jogar o ferro e aguardar, em área profunda, a hora da largada.



A largada!

Mais uma vez a organização falou alto, mostrando toda sua experiência
na lida com a numerosa flotilha. Os barcos foram divididos em grupos,
com horários de largada e de check in separados por 30 minutos de
antecedência. A área da largada ainda fora definida por duas zonas: 1.
Zona de largada e check in, e 2. zona de “espera”, onde o grupo que
não iria largar deveria aguardar em área demarcada por boias, antes da
área de largada.


Assim que os grupos iam navegando no canal do porto rumo a área do
check in, havia uma multidão aboletada em arquibancadas no Marco Zero,
onde um locutor apresentava os barcos, um a um, ao público, que
acenava e aplaudia as tripulações. Confesso que meus olhos se encheram
de água, pois nunca havia visto nem sentido isto antes na vida: a
interação com o público, algo quase impossível neste  esporte sem
plateia, realizado mar adentro.



Velejando pra Noronha

As condições de mar e vento estavam tranquilas, exceto por um mar
desencontrado nas primeiras 24 horas, que fez com que os barcos
pequenos sofressem mais um pouco e deixassem o estoque de remédio de
enjoo reduzido. Nada demais! Um vento de 12 a 18 nós empurrou os
barcos tranquilamente, num través de um bordo único, em noites sem
lua, com uma miríade de estrelas no firmamento, acompanhando aqueles
marinheiros rumo à ilha dos sonhos.

Conforme definido pela marinha do Brasil, não obstante o uso
obrigatório do spot, a radiofonia, também obrigatória, se realizaria a
partir das 8 da manhã e em ordem alfabética, sendo que, quem não
conseguisse passar a posição, diretamente, para um dos dois navios da
Marinha, deveria fazê-lo via ponte com outro veleiro, com a pena de
não o fazendo ser desclassificado.

Os barcos com mais linha d’água levaram grande vantagem neste
passeio/regata e, até mesmo o campeoníssimo “Ave Rara”, ficou atrás do
Sessentão, o Fita Azul, e do Mussulo, segundo colocado.



Surreal, mas sem mistérios

A Refeno não tem mistério nem muito jeb jeb. A travessia num bordo só
é algo bem simples de se fazer, com toda cautela, precaução e
segurança, obviamente. Não tem história de monstros marinhos,
redemoinhos, nem de furacões, tampouco sereias ou outros mitos, que
impossibilitam muitos de saírem de seus portos para irem a mares
azuis, deixando para trás a tranquilidade das baías e o aconchego do
lar.

A chegada à ilha foi surreal! Algo que esperei muito para ver com meus
próprios olhos e da qual, graças a Deus, não tinha nenhuma imagem
preconcebida!

Nós a avistamos as 9 da manhã de um dia de almirante, com vento de 18
nós, um mar roxo, céu azul, temperatura agradável e cruzamos o través
do Boldró às 13 horas e 3 minutos de uma segunda feira.

Como fomos num 31 pés, demoramos mais a chegar, gastando, ao todo, 48
horas e 3 minutos. As horas finais da chegada à ilha foram daqueles
momentos que se vive uma vida pra sentir. Não tenho como escrever aqui
páginas e mais páginas. O cidadão tem que ir e sentir o que é. Cada um
vai ter um gosto, um cheiro e uma cor diferente, mas, pode ter certeza
que estará beirando o seu Shangri-lá.

Tão logo cruzamos a linha final rumamos para o portinho, onde já havia
51 barcos nos aguardando. O visual é lindo, deixo as fotos para
registrar aqui!

Uma precaução na atracação: Use duas âncoras, muita corrente e muito
cabo e, se possível, mergulhe (cerca de 10 a 12 metros) para
certificar-se de que está bem ferrada (unhada), pois o local é bem
traiçoeiro e é comum barco sair a garra.



Fascinação é normal, mas tem um ladinho B...

A ilha de Noronha me fascinou, deixando-me maravilhado com tudo que vi
e senti. O que me chamou a atenção dentre muitas coisas foram as casas
em centro de terreno, herança dos americanos (bem diferente do estilo
europeu colonial entulhado). A ausência total de violência e da
epidemia do crack, um lugar onde todos trabalham e são solícitos. A
educação é de impressionar (oferecer carona é um hábito), não se
explora o turista (preços mais baixos que Búzios e Arraial d’Ajuda por
exemplo) e a beleza das praias é redundância falar.

Mas tem também o lado B: Ruas esburacadas nas vilas; acessos às praias
em péssimo estado; pavimentação na vila dos remédios em deterioração
absoluta; problemas com lixo (sucatas, especialmente); carros em
excesso (mil e quinhentos carros ao todo, numa comunidade de 4 mil
pessoas), mas nada que não seja de fácil solução.



Passa a régua e fecha a conta...

Bom, “més amis”, fica difícil resumir a experiência, mas espero que
meu relato não tenha atrapalhado os planos de ninguém. Se você quer
participar desta regata ou de qualquer outra, faça o seguinte: Just do
it! A gente chega cansado, molhado, todo esbagaçado, sem dormir nem
comer direito, cheio de roxo nas canelas, torrado de sol e doido para
começar tudo de novo!

Ano que vem tem mais causo para contar, se Eólo e Netuno nos permitirem!!



BOX

Dicas para quem vai de primeira viagem

Roupas: Você vai usar uma ou duas mudas de roupa durante a regata e a
roupa de tempo. Na ilha todos andam muito descontraídos e sem luxo.
Portanto, leve uma mochila compacta e nela só o necessário.

Rancho: opte por comidas que possa comer com a mão, tipo sanduíches
feitos na hora, Cup Nudles e barras de cereais, por exemplo.
Importante ter tudo nas menores porções possíveis, inclusive água. È
bem mais prático ter água em recipientes de 500 ml do que em 5 litros.
Gelo, não vale a pena, só se tiver onde conservar. Sofisticar no
cardápio pode significar que todos fiquem com fome, ou fica ruim para
cozinhar (devido ao balanço), ou fica ruim para comer (idem).

Lanternas: duas no convés e uma para cada tripulante

Objeto pessoal: um canivete para cada um também é importante e pode
salvar de um problemão.

Linha de vida: A noite sempre amarrados nela.

Escora: Para os que estão com as facas nos dentes, escora o tempo todo
(são só 48 horas!). Todo o peso colocado a barla! Faça um berço de
lona no beliche de barla e coloque tudo ali, tudo mesmo! Das mochilas
à água, das velas reserva à ancora. Faz uma diferença de umas 3 a 4
horas no tempo final.

Calçados e luvas sempre: Dia e noite, leve a sério, pode acabar que
sua regata vire um inferno por causa de um machucado. Eu, por exemplo,
felizmente machuquei o calcanhar a apenas 2 milhas da ilha, mas foi o
suficiente para me impossibilitar de calçar sapatos, o que me rendeu
mais quatro machucados sérios posteriores, adquiridos em passeios nas
trilhas e praias.

Chegue antes ao Cabanga: Leve seu barco para o Cabanga com a maior
antecedência possível, chegar antes significa tranquilidade na regata.

Planejamento: Use a abuse do planejamento e lembre a todos que é
barco, é um só, e todos são igualmente responsáveis pelo sucesso da
regata.

Piloto: tenha sempre dois, quem tem um não tem nenhum.

Leme e estaiamento: Revise seu leme e o estaiamento, para evitar o pior.



Na Refeno, o importante mesmo é chegar inteiro e feliz! Um beijo e um
queijo, bons ventos a todos!!

Harry Manko, sempre com filmes sensacionais e gozadíssimos!

Um vídeo de compilações da Volvo Ocean Race, a volta ao mundo.

Os nós mais usados no mundo náutico, uma vídeo aula, aprenda para não chamar cabo de corda!