29/01/2013

Iatismo não é granfinismo.


Correio esportivo 1949.


Iatismo não é granfinismo

Meus senhores:

No iatismo impera a Lei Mar, o comandante determina e as ordens são rigorosamente cumpridas. O comodoro Peixoto decidiu que eu deveria saudar a Vossa excelência, e dizer-lhes algumas palavras sobre a posição das atividades do Iate Clube do Espírito Santo, no cenário da vela esportiva nacional. Embora reconhecendo as dificuldades da tarefa que me foi designada, não me é dado discutir a ordem recebida.
Lamento por Vossas excelências que o indicado não fosse outro que melhor pudesse abordar o assunto. Creio que não seria exagerado dizer que o último conflito internacional projetou mundialmente o iatismo como ponto de partida na formação da consciência naval de um povo.
Winston Churchill, discursando aos iatistas ingleses que tomaram parte na heróica retirada de Dunquerque declarou que a mesma teria sido impossível sem o concurso da audácia e perícia dos iatistas britânicos.
Mais tarde, Lord Cunnighan, em outra oportunidade, declara o sucesso do desembarque de um grande exército de invasão na França exprimia a vitória dos pequeninos barcos dos veleiros ingleses.
O iatismo inglês ficou assim ligado aos dois fatos culminantes da história naval na Inglaterra.  Um rápido exame da atividade prodigiosa da marinha mercante dos EE.UU na última guerra, multiplicando a tonelagem de suas embarcações para manter supridas todas as frentes de batalha revela que o assombroso aumento de sua frota só si tornou possível com a convocação dos iatistas amadores para o serviço ativo de sua marinha.
Terminada a guerra, as nações compreenderam que os iates clubes eram a reserva naval com que poderiam contar para as emergências da guerra e aprenderam que o homem do mar não as improvisa.
O esporte da vela prepara o homem para a dura vida do mar, ensina-o a conhecer os elementos e a dominá-los, enrija-lhe os músculos, é uma lição de paciência e pertinência, é uma escola de disciplina e cavalheirismo.
Por isto os mais adiantados países procuram incrementar as atividades iatistas, facilitando-a a ponto de tornarem obrigatórias nas reformas urbanísticas e previsão de docas para barcos de esporte náutico.
Até ao ver de um governo perspicaz e utilitarista ao extremo como o soviético o iatismo deixou de ser um regalo de riscos burgueses – como ainda alguns o consideram – para ser um esporte de prática obrigatória para os jovens russos.
Está desfeito o tabu.
Iatismo não é granfinismo nem desporte requintado.
A aristocracia que o caracteriza é a que nasce dos sentimentos e da educação e não aquele que o sangue da e o ouro improvisa.
O capixaba é por índole, um apaixonado por desportes do mar. Tem dado provas disso, brilhando sempre no cenário desportivo brasileiro, nos setores do remo e da natação. Entretanto, apesar dessas tradições náuticas o iatismo custou a surgir entre nós.
Até mesmo se levarmos em consideração as primeiras tentativas de Cícero Sudre, Tarquínio da Silva, Raul Sodré e Beraldo Madeira da Silva, o primeiro dos quais graças a muita habilidade e paciência, construiu com planos publicados em escala reduzidíssimas nas revistas alemãs, as primeiras embarcações de vela esportiva de Vitória, as “yoles” olímpicas “ALCYON” “DUNGA” e “SIMAR” não se terá que recuar vinte anos, para se fixar o marco inicial do iatismo em águas espírito-santenses.
A semente veleira que estes pioneiros lançaram, somente em 1946 encontrou ambiente propício para se desenvolver organizadamente. Surgiu, então, o Iate Clube do Espírito Santo, sendo empossada a sua diretoria em 7 de Setembro daquele ano e eleito Comodoro o Dr. Asdrúbal de Rezende Peixoto.
Adquirindo o local para o levantamento da sede, pouco tempo, depois eram lançados os dois primeiros barcos construídos com finalidade esportiva e absoluto rigor técnico: os snipes AJAX e GUARÁ de Howard e Tarquínio da Silva.
A pequena frota desenvolveu-se em pouco tempo. Em 1947 fundou-se flotilha 245, filiada a Associação Internacional de Regatas da Classe Snipe.
Começa ai, verdadeiramente, a vida ativa do Iate Clube como integrante da comunidade veleira nacional. Nesse mesmo ano, iatistas cariocas realizaram nas águas da baía de Vitória a primeira regata nacional interflotilhas, acontecimento este decisivo, no desenvolvimento da veja Capixaba e que deu segura orientação as suas atividades.
Os resultados não se fizeram esperar. Um ano após, o jovem Morris Brown com 14 anos, disputando na baía de Guanabara contra experimentados veleiros cariocas, paulistas, gaúchos e mineiros, conquistou para o Espírito Santo o Campeonato Brasileiro da Classe Snipe – a mais numerosa e difundida classe de veleiros do mundo.
Estava lançado o Espírito Santo ao cenário da vela desportiva Nacional.
Vieram após as magníficas vitórias do campeão menino nas disputas da Taça SULACAP emblemática do campeonato de pontos compensados entre os paises da península Ibérica: França, Itália e América Latina nos anos de 1948 e 1949.
Volta, pois, ao Brasil com o feito de um capixaba, o troféu que desde 1946, permanecia em poder dos iatistas portugueses.
Foi a consagração para incipiente vela capixaba que hoje desfruta de largo prestigio no iatismo nacional. Outras vitórias vieram, trazidas por Paulo von Schilgen, último vencedor da Taça Cidade _______________.
Outros virão, ainda, porque a mocidade do Espírito Santo atira-se com amor ao esporte de vela e as autoridades responsáveis pelo nosso estado saberão amparar as atividades iatistas.
Entretanto, a conquista da Taça SULACAP tem o sabor de primeiro feito e por isso ela constituirá a página mais brilhante na história do Iatismo capixaba.
Terminando, solicito a S. Excelência Senhor Governador, a fineza de fazer entrega da taça SULACAP.

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