10/07/2013

Velejando até Abrolhos, por Glober Knuth.

Velejada Vitória-Abrolhos-Vitórira

Preparativos:
A decisão de velejar durante o feriado de Corpus Christi foi tomada no domingo, 26/05/13, a princípio para oarquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia, a depender do tempo. Conforme a semana foi adiantando, viu-se que estava para entrar uma frente fria na noite de quinta-feira, o que faria o vento rondar de NE para S e nos levaria para Abrolhos.








Chegamos ao Iate Clube do Espírito Santo por volta do meio-dia de 29/05/2013 e iniciamos a preparação final do “Meninusca”, um Peterson 33' do Cmte. Bruce; o skipper responsável pela navegação era o CAm. Jens. Na verdade os preparativos haviam começado no dia anterior com a compra dos mantimentos e limpeza interna do Meninusca. Faltava acomodar as compras, o que foi feito em trinta minutos e foi iniciada a limpeza externa - Para quem não sabe, a empresa siderúrgica Acelor/Mitral fica a NE do ICES, e com o vento predominante da mesma direção, de um dia para o outro já se nota algum acúmulo da poeira escura que insiste em sair pelas chaminés, burlando os filtros. Enquanto isto esperávamos a rondada do vento, que se mostrou firme de NE até por volta das 15:00 h, quando caiu e nos deixou mais confiantes. Ledo engano.

Ida:
Ainda sem vento, às 17:00 h largamos motorando até que entrasse o vento S, tomamos o Rv 076° até a posição de latitude 20°17,5' S e longitude 040°15,1' W, quando montamos a bóia do canal do Porto de Tubarão e guinamos para Rv 145°, driblando os navios que aguardam a entrada aos portos de Vitória e Tubarão. Quando deixamos a extremidade do píer externo do Porto de Tubarão por BB, a noite havia caído e demandamos o Rv 060° por 6,5 MN. Esta era a hora de ter cuidado com o Baixo de Carapebus, um alto fundo que frequentemente apresenta rebentação, o qul deve ser deixado por BB, principalmente à noite, a não ser por quem queira aumentar o risco. Não era o caso do Cap. Jens. Então o vento... não quiz ajudar. Parece que a frente estava atrasada.
A primeira noite com ondas pela proa, pesqueiros e redes, felizmente bem sinalizadas, mas que pediam bastante atenção, revezamo-nos em turnos tranquilos de duas horas, sendo que fiquei com o primeiro turno às 00:00 h da quinta-feira, 30. Foi neste turno a primeira vez em que... Alimentei os peixes. Isto mesmo, mareei, com ondas de 0,7 m a 1,0 m. Uma barbaridade. Assim, após cada turno, eu deitava. Foi desta maneiera que passei as primeiras vinte e quatro horas: Tomando remédio, hidratando e passando mal. A frente fria só dava mostras no horizonte, pela popa, mas nada de vento.
Quando amanheceu surgiu um ventinho que nos permitiu só ouvir o barulho do mar por quase todo o dia. Velejamos todo o dia com velocida de 4 nós, por vezes aumentava um pouco, e depois de nove horas só de vela, o bravo motor foi ligado novamente, pois vento voltou a cair.
Asegunda noite, felizmente eu estava bem, pois o “Malcon Tato” subiu à bordo e resolveu atrapalhar o piloto automático. No começo apenas apagava, voltava em “stand by” e era reativado. Todos que conhecem eletricidade sabem que um dos piores defeitos elétricos é o mau contato, pois quando se tenta medir tensão ou continuidade, está tudo bem e no minuto seguinte o contato abre. Felizmente depois de algum tempo abriu de vez e o Cmte. Bruce, experiente “chief engineer” inglês, equivalente ao Chefe de Máquinas brasileiro, encontrou o problema – Era na conexão do interruptor do piloto. Ressalto neste momento o quanto fiquei impressionado com o carinho do  Cmte. Bruce dispensa ao motor, principalmente, e à manutenção em geral.
Chegamos ao arquipélago com o clarear da sexta-feira, entrando por SW, entre as ilhas Siriba e Sueste, tendo percorrido 173 MN à velocidade média de 4,7 nós. Para quem chega do sul, é desaconselhável passar pelo leste da ilha Sueste devido aos recifes de corais que se estendem a leste do arquipélago, o Parcel de Abrolhs; nosso precavido capitão não arriscaria.
Alguém poderia adivinhar quem chegou logo depois do Meninusca? Ganhou quem apostou na já não esperada frente fria. Não chegou forte, mas após passarmos o dia ao norte da ilha Siriba, com mergulhos em águas límpidas, entre peixes e arraias, passamos a noite ancorados ao norte da ilha Santa Bárbara, a principal, situada no lado norte do arquipélago.

Volta:
Após uma noite bem dormida, o sábado começou com um lauto desjejum preparado pelo Bruce, pois o almoço do dia anterior tinha sido preparado pelo Jens, inciamos os preparativos para o retorno: Subir bote, pear motor de popa, fechar gaiútas, e por volta de 09:30 h içamos âncora e deixamos o abrigo da ilha Santa Bárbara. A entrada da frente fria foi uma maravilha: Vento na cara para voltar; um SW, que normalmente é passageiro, persistiu, obrigando-nos a motorar novamente. Isto trouxe um grande problema: O combustível estava baixando; não há estoque de veleiro que aguente um travessia de 350 MN quase toda no motor. Com o tanque baixo, na madrugada de domingo o motor foi desligado. O vento baixou para valores entre 3 e 4 nós, orça apertada, velocidade de 1,8 nós e eu tendo que trabalhar na segunda-feira, nos levou a fazer planos de arribar no Portocel, na Barra do Riacho, para comprar diesel e eu desembarcar, onde seria salvo pela minha Comandanta, mais comumente chamada de esposa.
Às 11:00 h avistamos um pescador, ligamos o bravo motor e partimos para cima deles. Ao nos aprximar, já preparavam peixe para nós, imaginando que este seria o motivo desta aproximação, mas informados de nossa necessidade, prontamente prepararam 50 l de óleo diesel. Com manobra de mestre, o Jens aproximou pela popa do pesqueiro entre dois cabos que rebocavam as redes. Ao querermos pagá-los, recusaram-se a receber e ainda de lambuja nos deram seis lagostas. Disseram que estamos no mar para nos safar na dificuldade. Em grata retribuição, nós os presenteamos com duas garrafas de vinho, que era o que tínhamos.
 Voltamos à navegação em direção à Vitória. Às 14:00 h finalmente o vento rondou para SE e aumentou um pouquinho, 5 a 7 nós, o que nos ajudou a tirar o atraso, pois não desligamos mais o motor.

Assim, com vento e motor, chegamos a 9 nós de velocidade, o que nos permitiu fazer a mesma média de velocidade da ida. Entramos no ICES às 22:30 h do domingo, dia 02/06/13. Mesmo com a falta de vento, de combustível e meu enjôo, foi uma travessia muito prazeirosa, deixando saudade e nos fazendo iniciar acordo de fazer outra. Mas isto será assunto para o próximo relato.

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