21/09/2014

Velejador solitário cai no mar , por Ricardo Pereira.

Passados alguns dias do ocorrido acho interessante disseminar o fato para,no mínimo,compartilhar a experiência,talvez prevenir uma malfadada repetição e até,para os que eventualmente navegam comigo,compreendam um ou outro procedimento de segurança que venha a ser adotado no futuro.
O susto em questão deu-se às 1200 do sábado,dia 15 último,dia este que apresentava-se com bastante vento,de SE,mar agitado e chuviscando.Um esclarecimento oportuno,com esta CONDIÇÃO PARTICULAR de vento reinante,de SE com alguma força,dependendo muito mais da direção do que propriamente da intensidade,crescem ondas,algumas realmente grandes,sobre um cordão de pedras denominado Cordão de Camburi,que está muito próximo do trajeto que temos que seguir para proceder para o Iate Clube do Espírito Santo.

Eis que vinha eu,retornando para o Iate,à bordo do MADAME,já com as velas recolhidas,motorando com 2.300 RPM,sem usar piloto,ou seja,levando o barco no manual,utilizando a roda de leme de BE,em solitário e sem usar nenhum aparato de segurança.Foi quando,chegando nas proximidades do Cordão de Camburi e través com as Ilhas Galhetas, ao sentir o barco se elevar,olhei para trás e vi uma onda enorme formando-se justo pela alheta de BE do barco.Ainda tentei descer a onda com o barco,carregando o leme para BB,porém o barco atravessou para BE e,após isso,a próxima imagem de que me recordo foi eu sendo,violentamente,empurrado para BB e,em seguida,na água.Ou seja,eu tinha sido varrido do barco por uma onda.
Uma vez na água constatei que o barco continuava navegando e estava completando uma rotação,por BE,aproximando-se bastante de mim,sendo assim tratei de deixar água para o barco passar e após a passagem,verifiquei que havia um cabo cujo chicote estava n'água.Na próxima volta(é,o barco estava com o leme carregado e navegando em círculos),agarrei-me ao dito cabo e passei a ser rebocado.Tentei por todos os modos subir a bordo,inclusive disparando a escadinha para emergência,que fica locada na parte inferior do espelho de popa.Aqui cabem algumas considerações:o cabo cujo chicote estava n'água era fino e liso;a dita escadinha é para ser utilizada com o barco parado,na ocasião ela ficava todo o  tempo quicando à flor d'água;a descarga d'água produzida pela rotação do hélice era muito forte,fazendo com que eu necessitasse usar,durante quase todo o tempo,as duas mãos para poder me manter sendo rebocado;como já comentado,o mar não estava propriamente calmo e,tenho força nos braços para me safar no dia a dia,mas não sou nenhum Hulk para conseguir içar-me nas condições que se apresentavam.Ou seja,eu tinha sido varrido do barco e não tinha como voltar para bordo.
Pensando nisso e na energia que eu estava gastando,sem resultados práticos,optei me largar do barco e nadar para o ponto de terra mais próximo,enquanto ainda tinha gás.Este ponto era a Ilha do Frade,que estava a,cerca de,meia milha,a sotavento. A prioridade então passou a ser meu couro,ou melhor,a preservação do meu couro,o que eu só poderia considerar garantida quando lá chegasse.Então,desfiz-me do casaco e sapatos que usava na ocasião,e lá fui eu nadando.O barco ficou rodando sozinho... Afortunadamente,não tive grandes dificuldades para me aproximar da ilha,além de ter o vento a meu favor,encontrei um pedaço de madeira que usei como uma destas pranchas usadas para natação.Uma vez próximo à ilha,contornei o paredão,aonde as ondas estavam arrebentando e subi nas pedras na área abrigada,após passar pelo canal formado entre as ilhas do Frade e Rasa.O couro estava safo,hora de pensar no barco.

Uma vez na ilha apressei-me em contornar a ponta xxxx e prosseguir para uma área próxima à praia das xxxx,onde tinha visto dois pescadores.Interessante notar que até este momento eu não tinha avistado ninguém,nem no mar navegando,nem na face exposta da ilha pescando,como é muito comum,tampouco nas casas.Aproximei-me destes homens,e perguntei se teriam um celular para me emprestar,expliquei que se tratava de uma situação de emergência e fui prontamente atendido.Por estas artes do destino que não conseguimos explicar,neste momento estava passando uma lancha da Praticagem,que após desembarcar um prático no Iate,estava retornando para Vitória.Liguei para a Praticagem e pedi ao plantão para entrar em contato com  mestre da lancha e instruí-lo para parar e me aguardar.Após isso fui para a praia,nadei para a lancha,embarquei e seguimos para fora.No momento que estava telefonando para a Praticagem também pedi para contactar o Iate clube e solicitar que mandassem uma outra lancha para auxiliar no resgate do barco.Assim foi feito e,rapidamente o Iate disponibilizou uma lancha que seguiu conosco para o MADAME.Quando saímos da área abrigada avistamos o MADAME,ainda navegando em círculos,só que  aproximando-se muito perigosamente do paredão de pedras da lha do Frade.Isto porque,embora o barco permanecesse rodando ,ele também permanecia sendo empurrado pelo vento em direção à ilha.Apressamo-nos em abordá-lo,o que foi feito sem maiores problemas,passei para o barco,assumi o leme e saímos daquela área de risco onde ocorreu o resgate e retornamos para o Iate Clube.
Avarias neste que escreve foram poucas,alguns hematomas e inchaços e o resto do final de semana meio que de molho,bastante doído,em casa.No barco,somente as calhas que fixam a parte inferior do "dog house",as secções de BB e central,que foram arrancadas,com os parafusos inclusive,devido à força do impacto da massa d'água.Note-se que esta calha está localizada a,cerca de,quatro metros a vante da posição em que me encontrava quando ocorreu  o acidente,daí dá para se ter uma ideia do volume de água embarcado...Porém como reza o dito popular:"entre mortos e feridos,salvaram-se todos".
Ainda na seção dos ditos populares,"o que não mata,engorda",ficou a experiência,que deverá servir para alguma coisa no futuro.Porém o objetivo aqui foi tão somente relatar o ocorrido,e não sair ditando regras de segurança,assim sendo fico por aqui.
abs 

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