26/07/2014

Acidente com o veleiro Samsara, Ilhabela Sailing Week 2014.( fotos de Gabriel Heusi :: Fotografia)

Imagens tristes, cena de filme de horror.

O veleiro Skipper 30 se aproximou demais da costa para fugir das correntes e acabou da pior forma possível.

Quase 20 barcos foram desclassificados por se aproximarem demais do baixio, dentre eles o Samsara, que não teve a mesma sorte.

Prestamos a nossa solidariedade ao comandante pelas avassaladoras avarias do barco nestas terríveis condições, esperamos que possa ser recuperado.

Avelok.





20/07/2014

Regata Vitória Trindade 2003.

Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, em 2003 tive a oportunidade de participar da regata Eldorado Brasilis, uma prova de endurançe, e compartilho aqui com os amigos a experiência resumida no diário de bordo, espero que gostem:


Quarta regata Eldorado Brasilis, Vitória - Ilha da Trindade -Vitória.
Largada 18/01/2003
As 12:30 , no segundo Pier, Praia de Camburi.
20.06 W
40.07 S



Um dia antes da largada foi o meu noivado com a Flávia, dia 18 meu aniversário, um começo bem bacana.
Na verdade não estava preparado para ir a um regata destas, tampouco havia planejado, a vaga surgiu através de um "eutrocínio" que fiz na ordem de R$ 3000,00 na época, mais despesas de viagem que deram umas 400/500 pratas, ajundando a comprar o rancho e acertos finais no barco.
O Bruno Martinelli e o Guiga, estavam montando este projeto, que contava com um barco alugado e faltava grana , assim sendo , "comprei" o direito de tripular o Raja Starcut, e fui como cozinheiro de bordo, sem me sentir menos honrado por isto, na minha opinião Deus dá o frio conforme o cobertor, e tudo tem um sentido.

Os preparativos que envolvem uma regata deste porte, não são poucos. Uma semana antes da largada a tripulação se desdobrava a fim de sanar todas as pendências .
Cada qual corria atrás de alguma coisa, os uniformes, o rancho, o "Pau de Spy"( que não tinhamos)balsa de abandono, rádio SSB, e até mesmo o próprio delocamento do Rajada Starcut de Bracuhy até Vitória.
O projeto da regata, partiu do Guigui e do Bruno, no ano de 2002 , quando correu a regata com seu próprio barco, mais conhecido como Rajadão, e nesta edição da regata(2003), pretendiam algo mais confortável, nada mau o que conseguiram.
Um belo Benetau 36 pés super luxo, novo e confortável mas.. que não orçava nada, como relatarei adiante.
Na semana que antecedeu a regata, os barcos estavam atracados na marina do ICES, e o clima estava no ar.
Aquele lance de "circo" montado:- gente de tudo que é canto, barcos belíssimos, containners para as equipes, intermináveis rodas de bate-papo na varanda do clube regado a cervejinha gelada e até um cocktail foi servido ás tripulações.
Tudo com ampla cobertura da imprensa.
Preparativos no Kanaloa, recordista de participações.


A tripulação do Rajada, super heterogênea , foi formada da seguinte forma;

  1. Comandante: Bruno Martinelli. 21 anos
  2. Proa; Eduardo Bediaga, 22 anos
  3. Proa 2; Bruno Larica, 21 anos
  4. Capitão e cozinha, Arturo Acosta, o Equatoriano de 30 anos.
  5. Organizador do time e faz tudo, Ricardo Guimarães 45 anos.
  6. Cozinha, auxílio no convés e cozinha; este que vos escreve,Renato Avelar, 34 anos
Todos eles velejadores do ICES, e já conhecidos de outras regatas.
Sábado 18/01/2003
12:30 h ,na Praia de Camburi, é dado o tiro de largada rumo a Ilha da Trindade, 623 milhas á leste de Vitória.
O espetáculo foi de rara beleza, várias embarcações acompanharam a largada das 13 embarcações rumo a Ilha. O vento soprava forte, e ao cair da tarde foi apertando , e apertando , tal como o mar desencontrado , fazendo tudo parecer uma espécie de montanha russa. Pauleira o tempo todo, sem descando nem intervalos.
Diante destas circunstâncias , mar grosso e muito vento, a mínima e singela locomoção a bordo já eram tarefa hercúlea, imagine para cozinhar, tomar banho e principalmente dormir.
O que vem a cabeça?
- Uma semana com este vento de proa e este mar mexido, vai ser punk!!
Não sei se vou aguentar este sofrimento.
Mas...ficamos firmes, rizamos vela grande na segunda forra e enrolamos um bocado a genoa 3, e posicionamos os galões de água e diesel a barlavento a fim de dar uma adriçada no barco.
Foram aproximadamente 22 ou 23 horas de pauleira , depois começou a melhorar.O vento continuava forte, mas o mar diminuira bastante , dando uma estabilizada nas coisas e finalmete pudemos fazer uma refeição decente , tomamos banho e trocamos de roupa, ou seja nos recompomos com dignidade, se não tomar cuidado vc vira" mendigo".
A disciplina consigo e com o barco, é fator preponderante para uma boa viagem.
Diariamente , as 8 da manhã e às 8 da noite , conforme estabelecido pela CR, era feita a radiofonia, onde iríamos passar ao Rebocador de alto- mar "Tridente", o R 22 da Marinha do Brasil.






Desta forma , quando no horário da radiofonia , ligávamos o motor, pois o rádio ssb( alcançe mundial) consome energia com muita "vontade" e a comissão de regatas permitia que o ligássemos nestes horários para recarga de baterias, todavia sem engrenar marcha alguma , afinal estamos falando de um esporte de cavalheiros. Com a radiofonia:
- quando passávamos a Velok, direção , latitude e longitude, sabíamos a posição dos outros barcos e marcávamos na planilha de "batalha naval", distribuída pela organização, onde cada barco era representado por uma cor diferente, e íamos diagramando a planilha em reuniões durante a radiofonia, uma grande diversão.
Até o terceiro dia, as condições de vento e mar melhoraram bastante, havia um vento médio o pouco mar , muito pouco mar, mas ... com muitos pirajás( pequenos temporais, com curta duração e localização específica, na forma de cogumelos).
A tripulação trabalhou o tempo todo, trocando velas, rizando, enrolando vela, põe... , tira, coloca , volta, etc.
O difícil foi aguentar a overdose de Reggae que a garotada colocava 30 horas por dia, já não dava mais para aguentar aquela música, por muita sorte eu e Guiga achamos um CD de Bob Charles( roberto carlos) e outro de Vivaldi, parace meio excêntrico, mas salvou a pátria.
Regata é regata, o tempo todo tentando tirar o maximo proveito da embarcação, cada centímetro, cada ondinha. Isto sem falar que cada tripulante passou 4 horas por dia no leme, pois não tínhamos piloto automático, revezávamos os 6 tripulantes, por quatro horas , a fim de fechar o dia, 24 horas.
Ficar quatro horas no timão é assim( principalemten se o barco estiver adernado), dói primeiro um pé, depois o outro, aí vc tenta se ajeita, depois dói a perna, depois a bunda , depois as costas depois o braço, pescoço, depois tudo junto e do outro lado, ao fim de 4 horas vc quer sumir e descer para descansar, já não aguenta mais.
Logo nos primeiros dias, fiocu nítido que o barco Rajada-Starcut era muito pobre na orça, haja vista calar somente 1,5 metros , mas mesmo assim estávamos andando bem, pois trabalhávamos o tempo todo em prol de um bom desempenho.
Na noite do quarto dia tentamos um bordo mais ao Norte, a fim de ganharmos altura em relação a Ilha, estávamos derivando como toda a flotilha.
Pensamos em subir umas 60 ou 70 milhas ao norte durante á noite . obs:Fui veementemente contra.
A manobra foi um erro grotesco de estratégia, e nos custou a berlinda na regata.
O que ocorre é que os barcos já iam um pouco adiantre de nós , mas com menos "altura" em relação á ilha, ou seja estávamos a barlavento da flotilha e mais próximos da ilha, e quando cambassem , estariam perto, foi quando Bruno argumentou :
- Vamos ganhar altura e lá na frente o vento ronda( provável hipótese) e a gente ganha altura e distância.
Mas aconteceu exatemente o contrário, a flotilha subiu para uma longitude menor e a gente , tentando ganhar latitude. O vento não rondou, o "pessoal" foi embora e nós ficamos atolados , sem orça e sem vento, ou seja, um bordo de 8 horas , para o lugar errado e nos levou a uma perda de nada menos do que 24 horas em face a flotilha.
No dia seguinte a tripulação estava abalada , chateada, moral lá embaixo pelo "ferro" que tomamos , mas fazer o que?
É muita "água', mas muita água mesmo, 6 dias e 6 noites , velejando , timoneando, tirando o máximo do barco.
O negócio é não pensar no tempo ,vamos nessa, vamos embora que a ilha nos espera.
Contuniamos a regata com toda a fibra, e no final do sétimo dia de regata, no sábado , as 1;40 da manhã, depois de um dia inteiro de ventos fracos e muita corrente contra cruzamos a linha de chegada.
Avistamos a Ilha neste mesmo sábado, de manhã, e só alcançamos no início da madrugada do outro dia.
Puxa vida , como é difícil um contravento de 7 dias!!
Uma pessoa normal , sem conhecimento de regatas não pode imaginar o sofrimento que é , mas como tudo que sobe desce, sabíamos que a volta seria um travéz folgado, e muito, mas , muito mais confortável. Sem aquela adernada permanente e total desconforto.
No dia que antecedeu a chegada a Ilha, a tripulação organizou uma espécie de "rave" com muito gelobol ,
Chegarmos exaustos, cruzando a popa do Tridente, na enseada dos Portugueses, bem em frente a vila da marinha, o P.O.I.T , posto oficial da Ilha da Trindade e em seguida rumamos para a enseada do Principe , onde atracamos.
Na enseada , só estava atracado ainda, o "Mar sem Fim" , do João Lara, o dono da rádio Eldorado e patrocinador da regata, o resto da galera já tinha partido de volta ao ICES no cair da tarde do mesmo dia.
Fomos os penúltimos a chegar a ilha , fora os 2 abandonos( o Osklen , por falta de rádio- mais tarde soubemos que o rádio pifou, e o mastro também, havia quebrado, o rádio era detalhe na verdade, e o motor também, voltaram com mastração de fortuna) e do Domani, que nos cruzou retornando a Vitória a apenas 20 milhas da Ilha com sérios problemas no estai de proa.
Fiz um belo bacalhau com batatas para comemorar a chegada , mas a água que eu usei estava contaminanda com areia depositada no fundo dos tanques, o que tornou impossível mastigar .
Que merda! um delicioso e cheiroso prato, feito com esmero por horas de cucção, e que foi parar na íntegra dentro do lixo, ou melhor no mar, para os "purfas", por causa da areia em seus ingredientes.
Dormimos no bagaço, e na manhã seguinte , ao acordarmos o que se viu foi para tirar qualquer um do estado normal. Imagine uma ilha que parece intocada, longe pracaramba de tudo, onde não vai navio de passageiro, onde não vai lancha, onde não vai helicóptero, muito menos aviões.
Somente os veleiros e os navios da marinha, um local acima de tudo mágico, magnético, com um visual surreal , com contrastes de cores e texturas impressionantes, e também com picos altíssimos, todos em rochas escarpadas, magnífico!!!
A ilha possui 5 kms de extensão , por 2 de largura, sendo seu ponto culminante o pico do "desejado" com mais de 600 metros de altura.
Com sua formação vulcânica , a impressão que temos é que "ficou pronta" ontem , você nunca viu nada igual na vida, é sem palavras para descrever o colosso no meio do nada.
Há um paredão na estremidade sul da ilha com 300 metros de altura, mais conhecido como "bauducão", por sua semelhança com o saboroso panetone, pela cor avermelhada e pelo formato.
Neste paredão , há um túnel de 15 metros de altura e 250 metros de comprimento, que liga de um lado ao outro da rocha.
O mar dentro do túnel , é violentíssimo, há pouco tempo antes da regata , um "naval" que se aventurou lá desapareceu e morreu obviamente, seu corpo nunca foi encontrado.
O desembarque na Ilha é uma coisa muito difícil, como a ilha possui poucas praias, as que existem são todas cercadas de pedras e corais, e nenhum atracadouro natural.
Lá o mar cresce rápido , de uma hora para outra , sobe de verdade, 3 a 4 metros de altura.
Ao lado do Bauducão, tem uma outra rocha o "pão de açúcar", com impressioantes 398 metros de altura, e lar de milhares de árvores em suas locas.
O som emitido pelas aves, é incrivel, o vento "rasgando" e os pássaros cantando, barulho á vera, mas muito legal, jurássico.
Ficamos atracados no pé do Pão de Açucar, na enseada do Príncipe, onde aproveitamos e, pela manhã seguinte do dia da chegada a ilha, demos ótimos mergulhos na água transparente, com mais de 40 metros de visibilidade.
Os peixes belíssimos e azuis "purfas", que comem tudo o que vêem , até mesmo fezes, parecem "piranhas " e os navais morrem de medo deles, já eu... morria de medo dos Tubarões Lixa (dizem ser inofensivos)que habitam a Ilha, pois tubarão para mim , só o nosso amigo e velejador de wind.
No início da tarde de sábado, desembarcamos na ilha, fomos até o Tridente com o nosso veleiro, chegando pela sua popa em uma manobra dificílima e arriscada , dado o tamanho das ondas, 3 a 4 metros.
O Tridente estava atracado na enseada dos Portugueses , na face leste da ilha, e de lá pegaríamos a "cabrita" até a praia.
A primeira imagem que se vê do R22, ao se olhar para a enseada , é o "cadaver" de um veleiro francês, de aço, amarelo, que há pouco tempo se espatifara nas rochas durante uma virada de tempo que pegou de surpresa os tripulantes que desembarcaram na ilha para um jantar com o comandante e deixaram o barco sem ninguém a bordo, o que é realmente um risco altíssimo , e que repetimos na nossa estada , quase "danificando " seriamente o veleiro que ficara amarrado na popa do R22.
A cabrita é uma balsa que mais parece uma gailoa, que leva 12 homens de cada vez, e que trafega presa a um cabo de aço tensionado, ligando o R22 a praia, passando pelo meio da arrebentração com ondas de 3 metros e meio!! saberias o que é isto??
Emoção garantida!
Gugui foi mergulhando, meio que em transe.
Tão logo desembarcamos na ilha , entramos em um outro universo, o mundo dos " 40 ilheús" isolados.
Os homens da marinha se revezam em turnos de 4 em 4 meses , e todos tem uma espécie de síndrome de "corno" pelo fato de ficarem tanto tempo longe de casa, dando oportunidades...
Algumas coisas interessantes:
O por do sol inesquecível, a placa em homenagem a "sir Peter Blake", os carangueijos amarelos que sobem em árvores, a fila para telefonar( enorme), filme pornô passando o tempo todo( non stop) na sala de comunicação dos navais, cafezinho servido com canela em "pau", e a troca de um maço de cigarros derby por um boné da Courtier, (pois errei na conta do cigarro e fiquei na maior frissura), uma poita de um barco Japonês que achei na praia, trouxe e de dei de presente a Pablito anos depois ( para decorar a sua casa no canal de Vitória), o Duda Bediaga que enfiou o pé no ouriço e teve que caminhar um Km om o pé todo furado e ser atendido por um médico "esquisito", e o desgosto de saber que um dia antes da nossa chegada , rolou o churrasco de Gala com todas a tripulações, menos a gente, e nós ficamos com água na boca.
continua...
A base do P.O.I.T( posto oceânico da ilha da trindade) possui ótima infra-estrutura, e tem o aspecto de uma pequena vila perdida no meio do Atlântico, o que é aliás sem sobra de dúvidas.
Logo na chegada, no ponto de desembarque da cabrita está aguardando os “chegantes” um pitoresco escafandro, como que um boneco em tamanho real, que porta um placa em uma das mãos com os dizeres:
-“Cheguei, sou voluntário!”
Caminhando alguns metros avistamos a academia “Sopapo”, mais uma centena de metros a horta “esperança”, e mais adiante uma arvore de natal cheia de poitas, poitas que vão dar nas praias da ilha , perdidas por barcos em sua maioria japoneses, que pescam ilegalmente em nossa costa e em águas internacionais, e que viram , com o bom humor irreverente dos ilhéus, uma árvore de Natal temática.
Depois de desembarcarmos , saímos para fazer uma caminhada na Ilha, acompanhados pelo sub-comandante da base, saímos no sentido sul, passamos pela praia das Tartarugas, pela praia da Parede de vulcão, e fomos até o túnel do “bauducão”, passando pelas piscinas naturais, onde tomamos um delicioso banho de mar.
Em trindade as tartarugas tem um tamanho de uma mesa de 6 lugares, e se encontram os rastros delas por toda a praia.O tamanho de suas pegadas, ou melhor “rastros” e o também de seus ninhos é de dar medo, parece coisa de dinossauro.
Quando estávamos a bordo do veleiro , rumando da enseada dos príncipes rumo a enseada dos portugueses, vimos algumas delas nadando embaixo do barco, indescritível.
Uma pena elas só chegarem a praia durante a noite, mas como falei anteriormente, com uma dose de sorte avistamos algumas.
No caminho de volta a Vitória , vimos também um cardume de golfinhos, que nos presenteou e nos acompanhou por boa parte do dia .
O contato com a natureza nos deixa Zen, veja só que interessante:
Ver o sol nascer , o sol se por , ver a lua minguando , ver o mar infinito, sentir o vento lhe envolvendo, tudo isto não tem preço.
A gente entra numa sintonia, saca o movimento do mundo, sente a presença da terra no universo.
A técnica é simples:
- de manhã, vc vê o sol despontar a leste, lá pelas 5 e meia da manhã, bem na proa( na ida), só mar ao través e popa, céu e mar.
Rumamos em sentido do sol, indo literalmente atrás dele. Ele sobe e vc avança, corre por sobre você o dia todo e... de repente ele se põe na sua popa, bem a oeste.Realizando com num moto contínuo, seu movimento eterno , preciso e singular.
Depois vem a noite ( dia 18 a largada foi dada em lua cheia), no primeiro dia ela apareceu as 7 , 7 e meia da noite, e dia após dia acompanhamos sua evolução.
Ao cair da noite o céu fica escuro como breu, não dá para ver absolutamente nada, tudo é preto, neste momento você fica em companhia das estrelas, no primeiro dia um pouco timidas, mas a medida que nos enfiávamos mar a dentro , longe das cidades e seus clarões, isolados no meio ocenao o céu rapidamente se transforma.
Ficávamos aguardando a chegada da lua, como um espetáculo com hora e lugar marcado.
A cada dia a bela dama vai diminuindo o tamanho de seu rosto e atrasa para o encontro em exatos 40 minutos.
No final dos 13 dias de viagem , ela desapareceu, não veio ao encontro, iluminar o nosso caminho, dar luz as trevas da noite oceânica, todavia , mesmo assim mandou um pouco de sua claridade por trás do horizonte, nos deixou a vontade para flertarmos com as estrelas.
A cada dia acompanhei o nascer do sol, o pôr do sol, o cair da noite , a nascer da lua, as estrelas e constelações que já reconheço com facilidade, enfim acompanhei o mundo girar, simples não?!

O RETORNO.

Ficamos na ilha da madrugada de domingo até as 2;45 da madrugada de segunda feira, quando partimos deste ponto longínquo, fantasmagórico e maravilhoso.
Zarpamos da enseada do príncipe deixando para trás a âncora danfort de 20 kilos que havíamos lançado no meio da tarde, deixamos uma poita presa a ela, quem sabe no ano seguinte ainda nos aguardaria??
A F.D.P da âncora agarrou no fundo de areia e pedras , tentamos todas as manobras possíveis com o potente motor do Starcut, mas só seria possível retira-la mergulhando, e de noite, numa escuridão intensa, com o mar cheio de tubarões , e uma correnteza enorme, quem se habilita??, ta louco!!! deixa para lá, marcamos o ponto dela no gps e fomos embora.
Já em Vitória fomos surpreendidos pela tripulação do “ Mar sem fim” que havia resgatado a nossa âncora e nos entregado em mãos , em casa. Coisas de Thomas Lipton.
Cruzamos a proa do Tridente com um vento fresco de cerca de 15 nós, e dada a largada o cronômetro dispara em um regata contra o relógio.
Uma semana e um dia depois da largada , exatas 2;45 da manhã.
Velejamos todo o tempo com ventos pelo través, o que fez com que a regata adquirisse um aspecto mais esportivo e menos aventureiro/sôfrego, que na ida quase um teste de resistência física..
Com ventos favoráveis o barco surfou as ondas do atlântico cruzando no paralelo 20 as longitudes de 40 a 31 graus, numa velog de 6 a 9 nós.
Ondas grandes, bons ventos, o que mais poderíamos querer para vejelar?
Durante a tarde do segundo dia do retorno,ficamos encalmados, sem vento nenhum , durante pelo menos umas 3 intermináveis horas, é TERRÍVEL, super SACAL! O barco joga de um lado a outro, sacode a vera mas não sai do lugar.
Ao cair da tarde , com a queda da temperatura entrou uma brisa e o rajadão starcut voltou a singrar bonito.
Velejamos noite e dia, dia e noite, sempre com um timoneiro tirando o máximo em parceria com um trimer, que seguia regulando as velas, regata 24 horas por dia, á vera.
O tempo todo um tira e põe de velas que não se tem idéia, trabalho mesmo.Tira genoa, coloca balão, tira balão coloca genoa, quebra adriça sobe no mastro( c/ barco andando a mil ...).
O Arturo subiu no mastro 4 vezes para acertar a adriça, com um vento de 20 nós e ondas de 3 metros da altura.
Alías nas empopadas, nos ventos favoráveis, foi quebrando um monte de coisa do barco, toda hora uma besteira , primeiro a adriça, depois o garlindéu do pau de spy , depois o sistema de fixação dos moitões do traveller, depois o preventer, em seguida uma escota puída, a assim foi indo e a gente vendo o lindo e luxuoso benetau se transformando num verdadeiro laboratório de aparatos técnicos( gambiarras).
Apesar dos pequenos percalços o percurso de volta foi uma delícia, deu para curtir cada segundo no barco, timonear, surfar aquelas ondas, sentir a natureza, sentir o organismo, o próprio corpo se regenerando , se tonificando, a plena saúde do corpo e da alma.
No último dia de viagem , a noite começou com um ventão do caramba, balão em cima, e o barco se demonstrou excelente em...:- cavalos de pau, atravessava com uma facilidade incível, tinha que ficar vivo no leme senão era, plá-pla-plá, a vela chicoteando a mil até retomarmos o rumo novamente.
Céu estrelado, o barco deslizando, zunindo, todos dando o máximo de si , empenhados, fazendo cáculos de tempo para ver saber de nossas possibilidades com nossos concorrentes( curumi e shaltz).
Precisávamos chegar até as 9 da manhã para ganharmos as 12 horas que perdemos na ida e faturarmos a regata, recuperávamos hora por hora , dia por dia, o andamento estava excelente.
Tudo indo muito bem, a média, o rumo certinho e vento a vontade.
Cansado fui dormir as 2 e meia da manhã, ao término do meu quarto, ansioso por acordar e acompanhar a aproximação da terra.
Acordei com aquele sacode, pá ... pou... cleeeeeeeks.. pá.. calmaria total, boiávamos no meio do mar, que estava super mexido. Que merda!
A nossa previsão de chegada passara de 9 da manhã para as 13 horas, e a nossa colocação já era, mas mesmo assim fomos em frente com o astral de campeões pois cientes estávamos de todo esforço que fizemos em prol da performance.

Momentos finais.

9;45, entra um brisa de 4 nós e começamos a nos deslocar devagarzinho.

Como não tinha há muito o que ser fazer, a não se esperar, preparei a última refeição disponível a bordo, interessante pois acertamos a conta do rancho na mosca, ao abrir a lata de feijoada e prepara-la com alguns ingredientes extras como alho, cebola, bacon etc., tal como um arroz , terminava ali o nosso estoque de comidas.

Apriveitamos para tomar nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn banhos de água doce, no banheiro e tudo, e depois todos colocamos nossas roupas de gala limpinhas , prontos e ansiosos para chegarmos ao porto.

Já avistávamos o Mestre Àlvaro desde o começo da manhã, que aos poucos com o vento entrando e entrando , foi se aproximando rapidamente, e no comecinho da tarde entramos empopados de balão na rota da praia de camburi, onde já nos esperava Alexandre Negão em seu “melhora”, apontamos para o clube ansiosos para chegar, e nos metros finais ainda rompemos o pau de spy ao meio.

Chegamos ao clube literelamente voando baixo, empurrados por um Nordestão inimaginável naquele dia que começara com uma bela de uma calamaria, fomos surfando em direção a boca do píer norte do ICES, e lá minha futura esposa acenava para o grupo.

Baixamos as velas, entramos na marina e atracamos no flututante , onde fomos recebidos pelos nossos amigos e familiares com champagne e um delicioso banho de mangueira.

Fim de prova, tudo em ordem, uma alegria contida, um "rito de passagem", um desafio completado, agora poderia me sentir um verdadeiro navegador, afinal foi um bordo mar adentro de 634 nm( num total de 1268 nm), coisa que poucos fizeram, 15 dias no mar, 15 dias vendo a vida de outra forma , 15 dias que mudaram minha vida para sempre.

16/07/2014

Programa Espirito de Aventura com o Phantom Of The Opera.

Olá Amigos , nautas e amantes da vela de plantão!
Já está no ar , no canal 13 da RCA, Canal Itv, o programa Espírito Aventura, com a apresntação da simpatissíssima Luíza que veio dar um bordo conosco no PHANTOM OF THE OPERA, onde  rolou um bate papo super descontraído com a tripula, levando com uma linguagem simples , um pouco do mundo da vela para todos , vocês podem conferir a matéria que ficou bem ilustrativa no youtube, acessem o link e bom velejo!
https://www.youtube.com/watch?v=Rf-Xc_FG1iw 

German Frers, Light Crest.

Da época do onça, o magnífico light crest Typhoon, projeto de German Frers protagoniza a foto histórica.

O barco da foto é o Typhoon, da familia Brown , construído em 1958 no estaleiro do Mago Manoel Varetta, com projeto do renonado arquiteto naval argentino German Frers( Pai),a foto mostra o incío do enrocamento da ilha do boi, e presumo que seja no início dos anos 70, ou fim dos 60.
Uma pérola que encontrei aqui no face , esta manhã, com a assinatura da magnífica página "capixaba da gema".

29/06/2014

Shackleton & Paul Larsen, duas lendas separadas por um século, agora unidos pela expedição Shackleton Epic .

Shackleton & Paul Larsen, duas lendas separadas por um século, agora unidos pela expedição Shackleton Epic .


Neste primeiro vídeo um resumito da expedição deste gigante, que até hoje é um exemplo de liderança alcançada por poucos.

A maior lição de resiliência e liderança da história moderna, Ernest Shackleton & Endurance, 100 anos depois...
Paul Larsen, recordista mundial de vela com seu Sail Rocket , resolveu aprontar uma loucura com seus amigos, reproduzindo na íntegra a expedição  do Shackleton em seu bote James Caird em 1916, inclusive utilizando somente e integralmente a tecnologia, roupas, comidas  e equipamentos usados há 100 anos atrás.

Assista primiero este vídeozinho da expedição original, assim vais entender melhor .
Se quiser saber mais a respeito  digite Shackleton, na busca neste blog mesmo ali ao lado e veja a história na íntegra.

Neste link ao lado, há um filme de 39 minutos, legendado que narra a epopéia de forma espetacular:  https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=64XIK5_jy4A
A expedição Sir Ernest Shackleton's Trans-Antarctic Expedition pretende retraçar a viagem épica do navegador polar Sir Ernest Shackleton que há 100 anos velejou num bote salva-vidas desde a ilha Elefante até South Georgia, uma rota de 800 milhas nos mares austrais, para salvar os companheiros da viagem ao Pólo Sul. O velejador australiano Paul Larsen - recordista de velocidade com o radical e inovador veleiro Vestas Sailrocket - parte agora numa expedição antárctica a bordo do barco Alexandra Shackleton, uma réplica do bote salva-vidas de 6,9 metro, com cinco companheiros.
Numa homenagem ao célebre navegador e aventureiro polar Sir Shackleton - que em 1914, na sua terceira viagem à Antárctica a bordo do navio Endurance, planeava cruzar o continente a pé, mas viu seu navio apresado pelo gelo no início de 1915 e finalmente naufragado dez meses depois. Em Abril de 1916, Shackleton e cinco marinheiros a bordo de botes salva-vidas conseguiram a incrível proeza de navegar 800 milhas nos mares austrais em 16 dias até alcançar South Georgia e depois escalar os cumes da ilha para finalmente pedirem socorro numa estação baleeira. A restante tripulação foi resgatada pelo próprio Shackleton em Agosto de 1916.



Agora, Paul Larsen e a equipa de aventureiros ingleses e australianos serão os primeiros a 
tentar repetir o feito de Shackleton a bordo de uma réplica do bote salva-vidas, sem cabine, num projeto que está a ser desenvolvido desde 2008 pela neta de Shackleton, com o apoio de Tim Jarvis, de 46 anos, um veterano em expedições polares.

Segundo Paul Larsen o plano é despedirem-se hoje de Alexandra Shackleton no aeroporto de Heathrow, em Londres, seguirem para Buenos Aires, Argentina, e daí para o Ushuaia para encontrar o navio The Australis para a rota até King George Island.
Nesta ilha ao largo da península antárctica, o grupo irá embarcar na réplica do bote James Caird para recriar a épica viagem de Shackleton, usando as roupas, comida e equipamentos tradicionais de 100 anos atrás.
"Pessoalmente não estava seguro quanto a fazer esta viagem agora, depois de ter conquistado os recordes de velocidade no Vestas Sailrocket na Namíbia. Mas estou feliz por ocupar um lugar na equipa. Sempre pensei no propósito desta viagem e nas razões que me levam a faze-la, mas é difícil explicar. Aventura é claro. O contexto é diferente da viagem de sobrevivência de Shackleton e seus homens, mas creio que eles também embarcaram numa aventura.", tentou explicar Paul Larsen.
O fato é que eles foram , fizeram e retornaram com sucesso, veja as imagens e os links e fique por dentro deste lance, é papo garantido na próxima vez que sair para velejar com seus amigos!
Bons ventos a todos.









     Para ver imagens da aventura, clique no link:   http://shackletonepic.com/gallery/

26/06/2014

Outro bordo do Avelok, conheçam o lado B do escriba deste pasquim.

Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, além dos barcos tenho uma grande curtição por carros antigos, e não sei se sabem mas sou corretor de imóveis além de velejador amador, e nas horas vagas me debruço sobre este projeto que desenvolvo em paralelo ao meu ganha pão que é na imobiliária Locamaxx Netimóveis, o eutrocinador da equipe Phantom Of The Opera, juntando minhas paixões num programa de tv bem relaxado.
 Faço o programa Rolê imobiliário com o mesmo carinho que escrevo esta edição para meus amigos, espero que gostem!!
Segue a apresentação do programa pelo pessoal da TV:
"O corretor Renato Avelar apresenta o Role Imobiliário que tem como propósito fazer uma abordagem do Mercado de forma leve e inusitada, convidando o telespectador a fazer um passeio pelas ruas da cidade de Vitoria, conhecendo, alem do Mercado imobiliário, historias e as particularidades de cada local, sempre usando uma linguagem jovem e descontraída , totalmente diferente de todos os programas sobre imóveis do Brasil. Confira hoje na Imagem TV as 18h00 (canal 13 da RCA) ou online noWWW.IMAGEM.TV.BR/AOVIVO"


Aqui abaixo coloco algumas imagens que gravamos em nossos programas.
Teaser


Aqui temos o episódio gravado na Mata da Praia.
Programa com meu amigo Gustavo Tio, sobre o mercado de luxo.

24/06/2014


Voilá!!! Voiles et Voiliers!!

O bom e velho Sir Wallace ,mesmo depois de vendido continua me dando alegrias. Primeiro que meu amigo Eduardo Grafullha o reformou , ou melhor o restaurou por completo, depois por que ele manteve o nome da nave com muito orgulho e ainda por cima o meu querido Fast 303 Half Tonner foi capa do site Voiles et Voiliers, a revista mais respeitada do mundo!!
Voilá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

http://www.voilesetvoiliers.com/grande-croisiere/petite-histoire-de-grande-croisiere-n-22-lagoa-dos-patos-une-mer-interieure-au-bresil-12/deliaPreview=1/#.U6lkm32-5WJ.facebook


G-force Yachts.

Scrutiny is in the eye of the beholder...
Once a yacht passes our comprehensive 100+ point inspection process, you'll find it difficult to tell the difference between a new X-Treme by G-Force Yachts and a Certified pre-owned X-Treme racer. We are sure you will appreciate our attention to detail and the absence of uncertainty in owning a true G-Force Yachts certified pre-owned X-Treme. Welcome to G-Force Yachts.


23/06/2014

Ocean Cleanup

Garoto cria sistema que limpa metade do Pacífico em 10 anos

A tecnologia  funciona como uma barreira flutuante que aproveita as correntes oceânicas para bloquear os resíduos encontrados no mar.

ão Paulo - O rapaz da foto acima tem apenas 19 anos, mas é responsável por um plano ambicioso apoiado por mais de 100 pesquisadores, cientistas e ambientalistas.

O holandês Boyan Slat criou a Ocean Cleanup, umatecnologia capaz de limpar o lixo do Oceano Pacífico em uma década.
O sistema funciona como uma barreira flutuante que aproveita as correntes oceânicas para bloquear os resíduos encontrados no mar.
Nos testes com um protótipo, a barreira foi capaz de coletar plásticos em até três metros de profundidade.
O sistema também recolheu pouca quantidade de zooplâncton, o que facilita o reaproveitamento e a reciclagem do plástico.
A estimativa é de que o sistema remova 65 metros cúbicos de lixo por dia.
Slat teve a ideia anos atrás, quando mergulhava na Grécia e viu mais garrafas de plástico do que peixes.
Desde então, desenvolveu a tecnologia, montou um site com todas as especificações, fez um estudo de viabilidade e uma campanha para financiar sua ideia.
A primeira apresentação da tecnologia aconteceu em um TEDx na Holanda há dois anos. Sua ideia não foi bem recebida por todos.
Como resposta, Slat e uma equipe de pesquisadores fizeram um relatório com 530 páginas, em que justificavam a viabilidade do projeto.

O próximo passo é testar o sistema em larga escala e aumentar a produção do sistema. Para isso, ele busca financiamento coletivo. A meta é conseguir 2 milhões de dólares em 100 dias.
Ela já conseguiu 30% da meta em 14 dias.

22/06/2014

Sailing Regatta - Naples Lner (1938)

Yacht hit by tanker off Cowes, Isle of Wight



Como diria o célebre escriba das águas Cabo Frienses, Mr Murillo Novaes:

-"#ihdeumerda"!!!!!

Vito Dumas y los Cuarenta Bramadores

Vito Dumas.


Argentino nascido em 1900 e falecido em 1965 em consequência de um derrame cerebral, Dumas  em sua juventude foi um exímio nadador , especializado em  probas de longas distâncias, tal qual Sir Robin Knox Jonshton que foi além de um grande nadador também um corredor de fundo, Vito também fora Boxeador, e como  magnânimo Sir Chichester também foi um aviador, um parêntese para Sir Chichester: este homem  deu a volta ao mundo  solo aos 65 anos, já diagnisticado como portador de cancer terminal em 1967 , com apenas 1 escala, e é tido como um grande herói em seu país e no mundo da vela.
Vito Dumas por volta de 1923  ,por 5 vezes tentou fazer a travessia da foz do Prata a nado e fracassou as 5,  em 1931 tenta atravessar o canal da Mancha, sem sucesso novamente.
Lá na Mancha foi onde teve o primeiro contato com os veleiros , no litoral Francês em Calais, esporte pelo qual ele se apaixona imediatamente .
 Ali mesmo  Dumas compraria seu primeiro barco, o Titave II , barco regateiro, veloz, campeão da classe Internacional de 1912.
Contrariando as superstições do mar, ( trocar o nome dá mau agouro)Dumas o rebatiza de Legh , que ao contrário do que diz no wikipédia não eram as inicias de sua amante, tampouco uma homenagem as embarcações escandinavas, mas orginário das iniciais das palavras: luta , integridade, hombridade e grandeza,  que em espanhol são:  Lucha, Entereza, Hombría, Grandeza , o lema, o código de honra do cidadão nascido em Palermo.
O Lengh chega a Nova Zelândia


 Estes fracassos coletados sequencialmente por Vito Dumas  foram importantíssimos para sua realização pessoal, pois como dizia Churchill, o sábio dos sábios dos anos das décadas de 1920/30 e 40:
"O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo."

Estes acontecimentos moveram este homem simples e determinado a sentir uma profunda necessidade interior de como fazer algo pela honra do esporte argentino, como se lê na carta ao amigo:

 "Bueno Aníbal: la razón de mi aventura es haber comprometido mi palabra en hacer algo de mérito para el deporte argentino.  Mis medios son reducidos y la vida que estoy pasando sólo yo se los sacrificios que me imponen. 


Trecho de uma carta ao seu amigo Aníbal,   escritas nas vésperas de sua primeira viagem , em 1931 de Arcachon na frança, a Buenos Aires, trazendo assim seu novo barco para casa.

 Ao chegar em Buenos Aires, Dumas  foi recebido com grande festa, pois essa travessia do Atlântico se constituiu na primeira aventura de vela em solitário da Europa para a América do Sul em todos os tempos.
http://www.navegantevitodumas.com.ar/

Inicia-se aí sua brilhante trajetória,  lançando sua nave ao mar novamente em 1942 na sua sensacional viagem dos" Cuarenta Bramadores": Uma volta ao mundo nas latitudes do mar gigante e congelante, passando pelos 3 cabos mais meridionais e mais terríveis do mundo:
- Boa esperança, Lewin e Horn, com apenas 3 escalas, Cape Town, Wellington e Valparaíso.
A chegada em Valparaíso, Vito está literalmente em frangalhos) fonte navegantevitodumas.com.ar

A circunavegação foi  feita no seu inseparável Yawl Legh II, que sequer tinha um  rádio ou um motor, em condições precárias e em plena segunda guerra mundial.  O  LEGH poderia ser torpedeado ou fuzilado por um navio ou submarino, despedaçado por um canhão, ou afundado por um avião.
Dumas dependia da água da chuva para saciar a sede,( a falta de água e o cansaço pela falta de horas de sono foram os maiores inimigos) , usando até mesmo jornal por baixo das roupas para não congelar, e principalemente utilizando-se de uma técnica que invetou para velejar e sobreviver em condições extremas naqueles mares dantescos: 
Navegando sempre de popa para o vento e num ângulo de 15 graus, correndo as tormentas e as ondas.

Durante uma tempestade no Pacífico , Vito sofreu um grave traumatismo craniano e teve alucinações,  precisou de toda a vontade de viver e consquente da verdadeira garra de um yachstman para se superar e  completar os ultimos 104 dias de viagem . Os terríveis dias finais,  justamente no trecho mais duro que enfrentou em toda epopéia, mas... ele triunfou, venceu a si mesmo, ele consegiu!
Vito estava imbuído de motivos nobres e idealistas , como afirmara :Voy,en esta época materialista,a realizar una empresa romântica,para ejemplo de la juventud“.
Agora imagina o leitor se naquela época o mundo era materialista hoje então... Jesus apaga a Lu!!
Estas duas fotos são cortesia do Atilio Bermudez, ele as fez no Museu Naval Argentino.


Devido a proibição e burocracia das autoridades argentinas naqueles terríveis dias da segunda guerra mundial, Vito que estava proibido de partir de Buenos Aires pelas autoridades, acaba por  zarpar de Montevidéo( uma ironia!), para  assim iniciar a legendária viagem  que durou 1 ano e exatos 36 dias, navegando num mar antes nunca enfrentado frente a frente por um veleiro, através das latitudes dos "Cuarenta Rugientes ":- as 21  mil milhas para se dar a volta ao mundo nos mares mais furiosos e gelados do planeta água, nas baixas latitudes.
                           Dumas é recebido como herói em Buenos Aires em 8 de agosto de 43.
                                     A chegada na capital portenha. (fonte navegantevitodumas.com.ar)

Uma piada reflete o espírito de Dumas:
AI partir, un amigo le preguntó cuánto dinero llevaba encima. Desconcertado, Dumas sacó su billetera y constató que solamente contenía un billete de 10 Pesos. "Y con eso piensas dar la vuelta al mundo?" le preguntó el amigo. Dumas replicó: "Y donde pretendes que gaste el dinero navegando?". El amigo no supo qué contestarle, pero le entregó diez libras esterlinas en billetes, "por las dudas..." 
http://www.navegantevitodumas.com.ar/



Do site Brasileiro  que por sinal é muito bem feito, um primor de informação, e tem ótimo material de pesquisa, o site maresnavegantes.com.br, pego "emprestado" a parte final desta matéria que narra o ultimo cruzeiro de Dumas conhecido como :


-O Cruzeiros dos Imprevistos
Em 1945-46,nova aventura de Vito Dumas,que quase custou-lhe a vida –viagem de Buenos Aires à Nova Iorque. Seus problemas começaram justamente em frente à Coney Island,muito perto do porto de Nova Iorque,quando uma calmaria e corrente forte contrária o impediram de entrar no rio Hudson. A situação ficou tão complicada,com o Legh II sendo tão arrastado de volta para alto mar e em seguida entrando fortes ventos contrários (Vito Dumas nunca instalou motor em seu barco),  que ele foi obrigado a rumar para os Açores,atravessando o Atlântico,pois lhe seria impossível aportar na costa americana. Mas nunca chegou lá tampouco,ao invés disso esteve ao largo da ilha da Madeira,e depois avistou as Canárias,e de modo incrível a situação anterior se repetiu em ambas as vezes –ventos contra ou calmaria total,com forte correnteza desviando o Legh II para outra direção…Desistiu das ilhas,e com a fome levando-o ao desespero e tornando-se praticamente um esqueleto vivo,rumou para a costa africana,mas não precisou arribar,pois um cargueiro passando próximo viu seus sinais de socorro,e atirando-lhe alimentos,salvou-lhe a vida. Finalmente,o Legh II ruma de volta para a América do Sul,voltando a atravessar o Atlântico,e chega ao Ceará,no Nordeste brasileiro,depois de 106 dias sem escalas no mar…De lá retorna à Argentina,mas ainda tem o infortúnio de encalhar na costa uruguaia. Esta viagem lhe rendeu muitas críticas,com conterrâneos o desqualificando como navegador. No entanto,foram mais de 17 mil milhas percorridas em 234 dias no total da viagem. Da experiência ele escreveu o livro “O cruzeiro do imprevisto“.
Foi em 1955 que Vito Dumas empreendeu sua última viagem,novamente para Nova Iorque,num veleiro ainda menor que o Legh II,oSirio,quando novamente enfrentou graves problemas. Foi obrigado a desistir da idéia de chegar nos Estados Unidos sem escalas,aportando nas Bermudas com problemas de saúde. Recuperado,completou o desafio chegando em Nova Iork em 25 de setembro de 1955,depois de cobrir 7 mil milhas marítimas em 117 dias.
Vito Dumas faleceu em 28 de março de 1965,vítima de derrame cerebral. Escreveu os livros “Mis Viajes“,“Solo,rumbo a la Cruz del Sur“,“Los cuarenta bramadores”e “El crucero de lo imprevisto“.
Infelizmente,Vito Dumas quase acabou esquecido pelos seus compatriotas durante sua vida. Seu barco,Legh II,que provavelmente realizou a maior façanha náutica do século XX com a volta ao mundo pioneira pelos “cuarenta bramadores”ficou abandonado e perdido (ao contrário do barco de Moitessier,o Joshua,que foi recuperado e navega até hoje patrocinado por um museu marítimo francês). Mas depois de sua morte,seu valor foi aos poucos sendo reconhecido por todos os cruzeiristas do mundo,e sua fama teve grande novo impulso quando Bernard Moitessier confessou ser fã de Dumas,e ainda ter adotado técnicas de navegação do argentino para conseguir navegar nas altas latitudes.

Existe uma polêmica em se discutir que foi o maior navegante no site argentino navegantevitodumas.com.ar:
Chichester ou Dumas?
Na minha opinião foi Dumas, apesar da "fumaça" que ronda sua história pelos próprios velejadores da Argentina.
O leque é maior para se comparar: Scott, Amundsen, Shakleton, Slocum, Tabarly, Moitissier, RKJ, Slocum, James Cook?! me lembrei de um post interessante que fizemos há algum tempo, que  recorro a piada deste próprio pasquim para colocar nosso ponto de vista, assim sendo a resposta está na próxima postagem!

Harry Manko, sempre com filmes sensacionais e gozadíssimos!

Um vídeo de compilações da Volvo Ocean Race, a volta ao mundo.

Os nós mais usados no mundo náutico, uma vídeo aula, aprenda para não chamar cabo de corda!