A família de Gijon, Espanha, viera par o Brasil para o patriarca, engenheiro, trabalhar na Hispanobrás, na época uma concessionária da vale do rio doce, moravam no Ed Bertrand Russel ao lado do clube, e estudavam no sacre-couer, onde na época eu também estudava, somado a isto, Sir Wallace( meu Pai) era colega de "Vale" do Soaeres, e logo criamos laços de amizade familiares que foram dar nas regatas e no convívio infanto/adolescente no Iate Clube, que era bem diferente de hoje, um clube 100% esportivo, e onde a garotada gastava as tardes diariamente.
Não me lembro bem quando , neste cenário os irmãos começaram a velejar, primeiro de optimist, onde a caçula Ana se destacou como um jovem talento, mas antes disto, os irmãos fizeram várias temporadas conosco nas regatinhas locais, e em seguida partiram para o Snipe.
O "Espanhol" como era chamado por todos correu regatas por um bom tempo com Jacaré, tendo inclusive viajado com a delegação capixaba( eu e fernando mendonça, ele e jacaré) para o mini norte-nordeste de Snipes em Aracaju, no longínquo ano de 1986.
Este campeonato merece um destaque a parte, pois foi lá que ví a cena mais insólita numa competição em toda minha vida:
- Haviam duas tripulações rivais, mais rivais mesmo, um era do Valtinho e a outra não sei o nome do cara. Pois bem o tal do Valtinho era um cabra destemperado e doido, apesar de velejar muito bem, e durante a regata ele discutiu com seu arqui rival e o couro comeu.
O Valtinho inicia então uma perseguição ao alvo(o caboclo rival), esqueçe da regata e vai atrás do cara, velejando o máximo, trimando tudo na perfeição, fazendo o que podia e não podia para alcançá-lo, passaram o lay line e foram embora canal acima, mas nada do Valtinho pegar o cara.
O caboclo perseguido, talvez pelo desespero, ou talvez por que era bom mesmo em regatas e fugas, deixou o cabra macho para trás, e ele foi dando a volta lá em cima do canal de Aracajú, rondando com a corrente , deu um olé no Exu caveira, e depois vem voltando para o clube para salvar o cour, e se ver livre do facão enorme que Valtinho empunhava numa mão, o leme na outra, como que num filme de índios e mocinhos.
Na chegada ao clube , o sujeito entra com tudo na rampa, joga o barco de qualquer jeito para riba da terra sem carreta sem nada, encalhe selvagem mesmo, e Valtinho vem logo atrás, soltando fogo pelas ventas. Chegando segundos depois , o cabra macho desvairadamente louco, tal qual cordel de fogo, um gogol bordelo alucinado com um facão na mão , e não um violão, pois aí o adversário não tem alternativa e empunha a cana de leme de seu novíssimo e lindo snipe para se defender, senão virava picadinho de charque, pois o baixinho tava possuído pelo demo, e saiu dando porrada para tudo que é lado com a cana para não morrer.
A turma do deixa disso( ou do S.O.S) intervem e segura os os dois, o caboclo perseguido dá no pira do clube, e o Valtinho pega um formão daqueles parrudos e faz uma dúzia de furos no casco chubasco novinho do cabra, coisa de maluco mesmo! O espanhol achaou naquele dia que tourada é esporte para garotos , imaginei com meus botões, pois Jesús, apesar da pouca idade era e sempre foi um cavalheiro.
O máximo que fazia quando ficava nervoso, era ficar com o rosto vermelho igual a um pimentão.
Voltando a vaca fria, os irmãos "Espanhóis" , incentivados pelo pai e gente finíssima Soares, que passava as tardes na varanda do bar golfinho( na época o unico bar do ICES) a tomar uns tragos com papai, na mesma mesa, a esquerda da porta principal, sempre servidos pelo garçon Lutigal e seu terno piguin, alinhadíssimo ,apesar da casa ser uma mistura de cantina e boteco. pois bem , os irmãos logo receberam de su padre, um belo barco de presente, ideal para velejarem em regatas.
Merecidamente pois a dupla estava em ótima performance.
O barco era o "hai-kai", um exemplar de madeira( lindenburguer, acho que é assim que escreve) todo envernizado, até os costados, lindo de morrer, que pertencera ao Danilo, um velejador de Brasília que mudou-se para Vitória e logo passou para a vela de oceano, vendendo o barco tratado a pão de ló aos irmãos, que passaram a andar na cabeça da flotilha.
Durante uma regata de vento muito forte( toco mesmo), não me lembro bem, acho que Volta da Taputera, o barco virou ao largo da ilha do frade, e os irmãos não conseguiam desvirá-lo.
Por perto havia uma lancha da marinha que foi prestar socorro, foi onde o desastre aconteceu.
Os navais não tinham muita noção de salvatagem , tentaram rebocar o barco emborcado, com mastro vela e tudo pra baixo, e não conseguiram obviamente, aí o barco foi dar nas pedras da ilha do frade, exatamente na frente da casa de Bruno Tommasi, e literalmente se despedaçou.
O pouco que restou fora saqueado durante a noite.
No fim dos anos 80 a família retornou para Gijón, cidade natal da prole, onde vivem até hoje, infelizmente Jesús me deu a má notícia que Soares falecera há uma ano.
O "espanhol" nunca parou de velejar, ficou no sangue, e sangue espanhol é brabo! ele tem tido ótimos resultados com seu belíssimo J80( o da foto), sendo inclusive destaque na mídia local, e também obteve êxito no certamen espanhol de Snipes, Ana ainda velejou de Kadet um tempo mas parou.
Seguem umas fotos do Espanhol ontem e hoje,
Salve Jesús, quando puder venha nos visitar e velejar conosco!
Jorge, Andrea Noccetti, e Jesús na quadra do ICES O espanhol no timão de um open 60
Jesús agachado no canto esquerdo ao lado de Bruno Tommasi, Juliana Queiroga, e o Hélvio( camisa escura), de pé da esquerda para direita, Alexsandro, Frank Brown, Renato Avelar, Eduardo Zenóbio, Albert Bitran, Paulo Tommasi, e Renato Zanol Santos Beves, 1981.
Bons ventos amigos que os levem e os tragam para nos visitar!
Não tenho paravras. Muita saudade. Chegará o día de voltar a velejar em Vitoria. Belarus cidade e boa gente. Parabens Renato . Disculpemos meu português
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