21/03/2011

Campeão moral, o que vale isto?! Crônica da 57ª regata Volta da Taputera!

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Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, neste último fim de semana sob  céu  nublado  e pancadas de chuva garoantes nestas  bandas de nossas terras Brasilis foi realizada a 57ª regata volta da Taputera, um evento que ocorre desde 1949.
jornal de 1949

No sábado foi a vez dos veleiros de oceano se lançarem ao mar, categoria que reúne grandes tripulações e exige do escrete um verdadeiro trabalho em equipe  proporcionando um colorido sem igual com seus balões descendo o canal da quase quinhentista capital,  e no domingo realizou-se a acirradíssima, atlética e maravilhosa regata dos monotipos que tivemos o prazer de assistir a bordo do phantom em companhia das crianças e de bons amigos, presenciando o fato histórico do renascimento da vela capixaba com 6 snipes na água e a volta dos antigos barcos da classe HC 16 .

Na sequência fotos de Camila Baptistin: www.bgfotografia.com.br

A ultrapassagem do Kiron no Alvares

Recuperação no canal, o fantasma se aproxima do ser mistico

momento da montagem da bóia no alvares, troco neles!!


que beleza!



Pois bem caros leitores, sem jeb jeb ou mais delongas, vamos então ao macht!
o aventureiro já no contravento da vola e o kiron ainda descendo para a bóia do alvares, nós passamos os dois num dia de gala!
A  disputa da regata se iniciou fora da água, semanas antes, com uma polêmica estarrecedora sobre a medição do Phantom Of the Opera, onde alguns “comentaristas” de plantão foram incisivos nos comentários ( alguns maldosos, desculpem a franqueza)em que nosso barco era isto e aquilo, que a quilha era assado, que o leme era isto, o projeto era um armengue, que o mastro foi esticado, que a gente TAVA ROUBANDO e tal e tal. Polêmica inútil, infundada e estúpida, pois nossa nave participou em 2010 de 4 provas do grand slam da vela brasileira, e fora vistoriada em 3 delas por autoridades da RGS Brasil, sendo que o nosso certificado foi emitido pelo presidente da classe nacional Sr Walter Becker, homem honrado e de alta patente no certamen da vela brasileira.
Nós do Phantom Of the Opera, somos fans de Thomas Lipton, dentre algumas provas de nossa conduta , destacamos( infelizmente temos que citar isto):
Nós trouxemos por nossa conta( do meu bolso diga-se de passagem ), o presidente da classe a Vitória para ministar curso e fazer as medições de TODA nossa flotilha( fomos os primeiros do Brasil a fazê-lo).
Durante os preparativos para a Rolex Ilhabela Sailing Week, pairava no ar uma dúvida com relação ao material de casco dos Scheaffer e outros barcos de ponta, e nós não nos furtamos e literalmente metemos a  broca e perfuramos nosso  casco para achar o divinycell que suspeitávamos, que nos faria e fez aumentar o rating uma baba,  simplesmente fotografamos e mandamos para a coordenação nacional da classe, e por tal recebemos uma carta honrando a atitude e um agradecimento em nome de toda a BRA-RGS pela relevante iniciativa que protagonizamos.
Alem disto tudo , se não bastasse, o nosso barco tem o maior rating da flotilha.

O cavalheiro Stephan( de azul) recebe o troféu Guaracy de Oliveira Assis, um dos 3 que papou


Sexta feira , véspera de regata. Saio da torre de comando da locamaxx as 18 horas para ir ao clube encontrar com Lucky a fim de colocarmos as velas negras de prolam com garrunchos que acabaram de chegar do rio,(com o objetivo era baixar o rating), lá chegando encontro o engenheiro aeronáutico do Ita transtornado pois os garrunchos eram pequenos demais e não serviram, e ainda assim não sabíamos muito bem como tirar o Tuf-Luf, enfim a lei de Murphy , ela!! A  que tem maior atração no mundo náutico, isto é fato , prevaleceu! O que pode dar errado, vai dar! Assim sendo, deixamos para lá as alterações e decidimos correr com nossas  velas de pentex da quantum semi novas, de côr cinza e com shape maravilhoso, mesmo gerando um rating absurdamente alto!

Havíamos marcado um treino com nossa equipe, o barco ficara docado por 30 dias e nós sem atvidade alguma a bordo neste hiato, o pessoal compareceu as 20 horas, mas nada de vento, entonces ficamos a tomar gelada e batendo papo com alguns amigos, o que foi por demais aprazível.
Ao bem da verdade, nosso páreo nem precisaria de rating, pois os barcos andam 100% iguais, o Aventureiro do Stephan, O Phantom e o Skipper 30 Kironsete de Simão Bassul, para a gente o que vale na verdade não é o troféu, é quem dos 3 chega na frente, e assim ( mesmo que neguem!!) todos se comportam.
Mas como rating é rating e como vamos para o grand slam, vamos usar também alguns “vcr’s” daqui para frente, como geladeira, guincho e outras coisitas que em NADA alteram a performace de um barco , mas que são muito bonificadas nas medições, estamos sendo impelidos a tal e assim o faremos. Mas mesmo assim o que vai valer para a gente é o tempo real, o macht!
Sábado pulo da cama as 7 da manhã com meu filhote me chamando ansioso para ir para a escola de vela, e eu para ir para a regata, pois o tiro de uma hora fora antecipado e teríamos que sair para a água as 9, largada as 10.
Chego no clube, ansioso, tenso, e mais encrenca! Devido ao meu posto de capitão de flotilha fui abordado por um dos timoneiros muito exaltado por sinal( embora seja um cara zen) falando sobre o problema de largarmos juntos os RGS e os bicos de proa, o que de fato é uma merda, mas que mesmo após ter colocado em votação na reunião de comandantes caiu por terra e foi mantido a largada unificada gerando um desgaste para  mim , confesso.
Me conheço bem, preciso me concentrar antes da largada e aquele clima me fez mal, de tudo fui para o barco e fiquei lá concentrado, e tentando visualizar cada etapa da regata, o que foi difícil pois as talas não cabiam , tinha faina( sou zero a esquerda para reparos, principalmente os de última hora), não tinha água mineral a bordo nem mesmo refri( cerveja é proibido a bordo nas regatas) o bar do clube fechado e nêgo saindo de ultima hora para ir na rua buscar , stress e mais stress, esta não é a melhor forma de se começar uma regata, podes crer no que falo!
Enfim!! Atrasados, bem atrasados, ás 9 e 20 zarpamos do píer sul do ICES e fomos para a raia, demoramos uns 10 minutos para subirmos as velas por que tivemos que fazer a faina por duas vezes, pois a tala do top não ficou legal.
 Fomos motorando já com o set de velas pronto em direção  a largada, com 2 nós de vento, e muitas ondas, o prenúncio de uma regata difícil, longa e lenta.
Em virtude do ventinho que soprava, e começava a ensaiar uma rondada( e aumento de velocidade do vento) foi içada a recon pelo nosso diretor de vela William Brown, e ficamos ali de lá para cá, rodando e rodando esperando  a pré largada.
Quando baixou a recon , preparamos a montagem do pau, pedindo ao nosso proeiro Júlio que já deixasse ok o set do balão , pois a umas 0,4 milhas da largada tinha uma bóiazinha de contravento e depois descida direto para o canal , de popa e com balão, onde  passaríamos a ponta da ilha do boi , entraríamos no canal, contornaríamos uma bóia em frente ao Álvares Cabral  , voltaríamos canal acima em direção a bóia 10 no porto de tubarão, a montaríamos e depois iríamos em direção ao ICES onde a chegada encerrava a regata em frente ao secre-couer.
Durante os preparativos do balão, Julinho constatou que a ponteira do pau estava quebrada, péssima notícia, teríamos apenas como recursos o bom e velho armengue que Lucky se encarregou de preparar, já com a recon baixa, desconcentrando a todos esta preocupação tão perto da hora da largada.
Neste altura do campeonato, o relógio apontava 10:25/10:30, o vento soprava uns 5 a 7 nós, de leste e já dava para velejar gostoso!
Os 3 arqui rivais alinhados para a largada, e de tão tenso confesso aos leitores que nem reparei muito nos outros barcos e tripulações, e que também não lançamos as tradicionais enchovas na pré-largada aos barcos de nossos amigos, de tudo o que me chamou a antenção foi a presença do Brasília 32 Aloha de nosso amigo cruzerista Didão, que agora coloca a faca nos dentes ( finalmente)!
Faltando 2 minutos para o tiro, o aventureiro segue para o meio da linha e nós na altura da CR estávamos marcando o Kironsete com Jens no timão( presente de aniversário do comandante Bassul para nosso amigo Danish/uruguês Jens Olav Ulfeldt), demos um bordo de 360 graus para nos atrasarmos e ficarmos a barla do Kironsete, péssima idéia, ao invés de correr a linha e ir atrás do Aventureiro que se posicionou magistralmente na largada.
 Resultado: Jens fechou a porta para a gente , nos jogando para fora da linha( 100% dentro da regra, eu faria o mesmo), não nos restando outra alternativa senão voltar e largar em último, e apreciar o Aventureiro abrir uma frente de quase 500 metros já na largada, e ainda ver a popa do Kiron indo embora.
Puta merda pensei, agora fudeu! Já tomamos um ferro monstro e doloroso na largada, e isto dá uma baque psicológico sem igual, só que já tomou uma ferrada destas sabe do que estou falando.
Lucky, que além de ser o tático do Phantom é quem levanta o moral nas horas difíceis e quem conserta tudo no barco, falou:
-“ Calma Avelok, calma com o andor que o santo é de barro”!!  , e tem muita água para rolar, vamos pegar estes caras!
De súbito senti a força voltar ao peito, olhei com olhos de lince a flotilha e disse:
- Cambada em 3 segundos! E plaft, fomos para o bordo da ilha do frade aproveitando uma rajada positiva para este bordo, e pimba! Ao voltarmos do bordo, já havíamos nos recuperado bastante em face ao Kiron , e o restante da flotilha, mas o Aventureiro abrira uma boca!!
balão azul: aventureiro, amarelo kiron, brasuca fantasma, descendo o canal.

Montamos a bóia de contravento e seguimos em direção a ponta da ilha do boi, e neste bordo já começamos aquele que seria o maior ataque e recuperação do fantasma e sua trupe em regatas sob o céu branco , azul e rosa!
Montamos a ponta da Ilha a uns 100 metros atrás do Skipper 30 , e a uns 800 do Delta 32 Aventureiro que ao entrar no canal optou em ir pelo meio.
Fomos os primeiros a subir o balão, e mesmo com pau de spi quebrado o fizemos com maestria, e escolhemos um caminho mais curto, pelo meio, mas mais pelo lado de Vitória.
Fomos avançando com força e garra, despachamos a flotilha e ganhávamos metro a metro em cima do Kiron, que finalmente emparelhamos na altura da EAMES, e ultrapassamos na bóia em frente ao Álvares Cabral, dando o merecido troco ao nosso querido amigo, porém adversário em regata.
Não era bem este o presente de aniversário que preparava para o Jens, mas não tivemos alternativa, entramos na bóia com direito e berramos :- “água, água” a plenos pulmões a fim de dar um baque moral neles também. Na montagem o Kiron veio por baixo e quase nos dá uma porrada espetacular, foi por um triz, UFA!
O Kiron nós despachamos literalmente , sem dó nem piedade e na raça, pois a gente treina mais, se esforça mais, merece mais sem falsa modéstia , além de ser  uma espécie de troco da taputera de 2010 que tomamos um ferro de 15 minutos deles e que teve um clima muito ruim na pré regata proporcionado por um nauta a que viera contratado  para ser o timoneiro do Skipper 30, mas isto é assunto passado e encerrado, sabemos que o Jens tem ganas de nos derrotar, mas ele e seu time vão ter que treinar muito para tal,  e isto esperamos deste time de cavalheiros, evolução !!!pois o barco é uma nave magnífica e o Jens junto com Bruno Martinelli e o Simão, tal como todo vosso  grupo, são adversários respeitáveis e que tem muito o que fazer e farão com certeza.
Neste momento, o Aventureiro tinha perdido um bocado de frente, e estava apenas uns 200/300 metros  de vantagem, pois ao optar pelo bordo de Vila Velha descendo o canal, onde esperava ter mais corrente a favor, não viu que teria também a sombra do morro do moreno e do convento a sua espera, e dito e feito: ferro!
Entramos no contavento operando como um relógio suiço, a cada cambada ganhávamos metros e mais metros, o barco afinado como um violino raro, a tripulação em sincronia, sem conversa a bordo, todos concentrados ao extremo.
A cada rajada o escrete se movimentava como num monotipo, escorando e aliviando , deixando o barco com a pressão necessária para avançar cavalgando lindamente pelo canal, exibindo em seus costados uma plasticidade  única e inigulável em toda a flotilha dada a arte que aplicamos na nave.
Fabiano caprichando do traveller, Lucky regulando as velas com precisão cirúrgica, nosso secretário Marcos deu uma caçada na adriça da genoa na fração de segundo da cambada com uma precisão de maestro de orquestra digna de “BRAVO”!!, e fomos nós em frente.
Ao nos aproximarmos do Aventureiro, combinamos que contaríamos até 3 e todos juntos em sinergia gritaríamos:
O duelo de recuperação, o fantasma ataca o aventureiro na subida do canal

-Pra cima deles galera!! Tal qual fazia o saudoso mestre dos mestres Jorge Zarif.
Fomos ganhando terreno, metro a metro, e subindo o canal rumo a bóia 10 em tubarão, ganhando deles em velocidade e orça, uma coisa linda de ver! Ao chegarmos na bóia 10 montamos na frente , adrenalina total, tínhamos alguma vantagem , mas devido ao problema no Pau de Spi perdemos preciosíssimos segundos, pois o barco do Manchinha anda mais na popa por que tem um balão gigante e uma quilha menor que a nossa.
Fomos descendo para a chegada, eles dando uma bela sequência de Jibes a fim de nos alcançar, tínhamos uns 20 a 30 metros de proa , diferença esta que foi caindo e caindo, a gente não tinha como dar os Jibes para fugir do vento sujo deles, e tentamos ir direto para a chegada rezando para dar tempo de rompermos a fita azul.
O barco ficou bonito pracaramba, de vela prenta então vai ficar 10!!

Já dentro do canal do Ices, estávamos quase proa com proa, a gente ligeiramente na frente, mas sem direito de passagem e sem ângulo para a chegada,  uma chegada  cardíaca, enfartante!! Emoção pura!! Coisa linda de ver, o pessoal no Pier não acreditava no que via, largamos em último e estavamos lá , na ponta , palmo a palmo!!
Mas...não nos restou alternativa senão dar um Jibe suicida e tentar entrar com “homem pau” na linha de chegada senão a gente passava por fora da CR, infelizmente em cima da linha eles nos passaram durante a nossa  manobra, pois “paramos “e eles vinham embalados.
 perdemos a regata na linha, que triste! Eu fiquei meio desligado e decepcionado, e nem reparei no jibe que acontecia e que me acertou em cheio a cabeça( depois da chegada), que porrada!! Ficou tudo preto, chorei de dor e desgosto por ter perdido a regata.
O diretor de vela se aproxima no bote e nos diz:
-Vocês foram os campeões morais da regata!!
Neste momento descobri o que vale isto:
-Ser campeão moral vale 8 segundos, apenas 8 segundos.
A CHEGADA FOI ASSIM.


O tempo que eles nos venceram.
Parabéns ao comandante Stephan que toca com maestria a nave, parabéns a sua tripulação que trabalhou muito bem, parabéns a todos que participaram desta magnífica regata, parabéns em especial ao aniversariante Jens ao comandante Bassul embora tenham chegado 2,5 minutos atrás da gente, tem muito caldo para tirar do barco!

Seguiu-se um maravilhoso bate papo na piscina do clube, ambiente maravilhoso, todas as tripulações rivais bebendo juntas, familiares ao redor, boa música e um fim de tarde abençoado com a mais bela lua cheia do ano.
Domingo fomos prestigiar a turma dos monotipos dando uma tranqüila motorada com o fantasma , a bordo as crianças: Dudu Avelar, Felipe Matos,
Dudu e Felipe
  Avelares e Mendonças, e no timão o convidado de honra: Capitão Gary Watson Wood da Gearbulk, quando tivemos o enorme prazer de ver os 3 barcos patrocinados pela locamaxx fazendo bonito, com o laser Poncadilly pilotado pelo nosso sócio Fabiano Porto andar entre os 3 primeiros, e o Dingue do André vencer a regata! O Gabriel do Laser não teve muita sorte, mas ele é um garoto e tem a vida pela frente e vai sempre contar com nosso apoio e patrocínio!
O evento se encerrou com uma festa magnífica na sede tradicional do clube, onde foi feita a entrega de prêmios.

Bons  ventos a todos!!!

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