4 men on a raft, uma incrível saga nordestina .
Orson Welles e as jangadas.
De viagem ao casório de meu amigo e sócio no Phantom, Mr, Marcelo Piras em Puerto de las Galinhas, em Recife, tive o prazer e a curiosidade de andar, ou melhor velejar de Jangada.
Pois bem , feito o passeio com o jovem jangadeiro de 25 anos , Jardel, na praia do Muro Alto, despertou-me o imenso interesse em saber mais deste universo.
Lembrei-me que já havia ouvido alguma coisa por alto falando que uns caras tinham ido a num sei quanto tempo atrás, na época de vovô calça curta, do nordeste ao Rio de jangada, acho que ouvi pelo meu Tio Zé Guilherme Pimentel Avelar, velejador de veleiros cabinados em BH.
Ò Kápa, ò kapa!!! Pesquisa feita na rede e a história segue para meus leitores:
De viagem ao casório de meu amigo e sócio no Phantom, Mr, Marcelo Piras em Puerto de las Galinhas, em Recife, tive o prazer e a curiosidade de andar, ou melhor velejar de Jangada.
Pois bem , feito o passeio com o jovem jangadeiro de 25 anos , Jardel, na praia do Muro Alto, despertou-me o imenso interesse em saber mais deste universo.
Lembrei-me que já havia ouvido alguma coisa por alto falando que uns caras tinham ido a num sei quanto tempo atrás, na época de vovô calça curta, do nordeste ao Rio de jangada, acho que ouvi pelo meu Tio Zé Guilherme Pimentel Avelar, velejador de veleiros cabinados em BH.
Ò Kápa, ò kapa!!! Pesquisa feita na rede e a história segue para meus leitores:
Em 1923 , uma flotilha de 4 jangadas foi do Rio Grade no Norte a então capital federal RJ para participar das festividades do centenário da indepedência, um feito fantástico, tanto pelas condições precárias, tanto pela distância, tal como pela inexistencia de qualquer apoio, comunicação ou algo que o valha.
Mas... esta viajem não foi a que me chamou a atenção nas pesquisas, e sim a viagem de JACARÉ, TATÁ, MANÉ PRETO E MESTRE JERÔNIMO, eles a fizeram em 1941 da praia do Peixe, hoje praia de Iracema em Fortaleza até o Rio de Janeiro, em 61 dias de viagem , nu percurso de aproximadamente 1300 milhas a bordo da Jangada São Pedro, a maior parte de contra vento, e contra as fortes correntes do NE.
"Às nove horas em ponto, quando soprava um bom nordeste, empurramos a jangada pra dentro d'água. Ia começar a nossa aventura. O samburá estava cheio de coisas, a barrica cheia d'água e os nossos corações cheios de esperança. (...) Partimos debaixo de muitas palmas e consegui ver de longe os meus bichinhos acenando. Mais de vinte jangadas, trazidas por nossos irmãos de palhoça e de sofrimento, comboiaram a gente até a ponte do Mucuripe. A igreja branquinha foi sumindo e ficou por detrás do farol. Rezei pra dentro uma oração pedindo que a Padroeira tomasse conta dos nossos filhinhos, pois Deus velaria por nós. E assim começou nossa viagem ao Rio."( jacaré)
A aventura virou notícia na TIME de 8 de dezembro de 1941 com o título “4 men on a raft” , e ninguém menos que Orson Welles leu a matéria e , e teve um estalo: ali estava o segundo episódio brasileiro de It's All True , um filme pan americando que ele estava rodando com apoio do pres. Roosvelt.
Orson chegou ao Brasil em 8 de fevereiro de 1942, filmou o carnaval carioca, e em 8 de março fez uma viagem de reconhecimento a Fortaleza, onde participou de uma regata de nove jangadas (foi a bordo da Urano, ao lado de Mestre Jerônimo), assistiu a um espetáculo de coco-maracatu e jantou no Jangada Iate Clube, na companhia do cônsul dos EUA em Fortaleza, cujo sobrenome, curiosamente, era Rambo.
Os jangadeiros queriam chamar a atenção do País e do governo para o estado de abandono em que viviam os 35 mil pescadores do Ceará. Morando em toscas palhoças, nem do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos eles recebiam ajuda. O presidente da República precisava saber daquilo. Ficou sabendo.
Vivíamos no estado novo, ditadura, assim sendo Getúlio colocou o dops de olho nos 4, imagina se os comunas pegam este bonde!? ia dar a maior merda!
Durante as filmagens , numa manobra numa praia da Barra da Tijuca , onde estava sendo reconstituida a chegada triunfal do quarteto na Baia de Guanabara, a lancha que rebocava a jangada fez uma manobra e virou.
Os 4 foram ao mar, que estava muito agitado, 3 se salvaram , todavia o corpo de Jacaré nunca foi encontrado.
O morto, líder do grupo, era uma ameaça para o estado novo, muito engajado em movimentos comunitários e alfabetizado já adulto, a tragédia de jacaré poderia muito bem ter sido articulada pelo petit gaúcho suicida, até hoje fica a dúvida, mas na minha opinião foi queima de arquivo.
De toda forma, o acidente causou um profundo abalo na equipe, que mesmo assim continuou a rodar o filme, mesmo estando Welles chocado com a morte de jacaré e encurralado por Hollywood, e sob pressão da imprensa carioca totalmente manipulada.
"Nenhum parente ou amigo da vítima culpou Welles pela tragédia. Mas parte da imprensa carioca não se mostrou tão compreensiva. Especialmente naquelas publicações mais suscetíveis a pressões do governo - àquela altura indignado com o excesso de negros, favelas e pobres filmados pelo cineasta - It's All True passou a ser sistematicamente hostilizado e sua equipe exortada a pegar o primeiro avião de volta para Hollywood.
Ainda assim, Welles foi em frente. As coações, quase sempre veladas, da ditadura getulista o perturbavam bem menos que o assédio crescente da RKO e do governo americano, que o acusavam de gastar dinheiro a rodo, filmar coisas sem nexo e repetidas e ser generoso além da conta com os jangadeiros. Na primeira semana de junho, a RKO deu um basta no projeto, cortou o crédito do cineasta e mandou toda a equipe voltar para casa. Welles conseguiu convencer o chefão do estúdio a prolongar sua estada no Brasil por mais um mês, o tempo de que necessitava para filmar, em Fortaleza, toda a primeira parte de Quatro Homens e Uma Jangada. Em troca, trabalharia com uma equipe mínima, levaria apenas 40 mil pés de negativo, filmaria tudo em preto-e-branco e sem iluminação artificial, com uma câmera Mitchell silenciosa, emprestada pela brasileira Cinédia.
Welles e sua miniequipe desembarcaram na Base Aérea de Fortaleza às 15h30 do dia 13 de junho. Apesar do que ocorrera com Jacaré, foram acolhidos com enorme simpatia. Para assegurar maior tranqüilidade aos trabalhos, estabeleceram-se nas areias do Mucuripe e ali rodaram a história de amor do jovem pescador (José Sobrinho) com uma bela morena (Francisca Moreira da Silva, então com 13 anos), o casamento dos dois, a morte do jangadeiro e seu enterro nas dunas, a conseqüente revolta dos pescadores pelas suas precárias condições de vida e a decisão política do reide até o Rio de Janeiro. No papel de Jacaré, puseram seu irmão Isidro.
Em Fortaleza, Welles revelou-se um homem radicalmente diferente do garotão farrista e mulherengo que os cariocas conheceram. Não deixou de ir a festas (chegou a marcar quadrilha num folguedo junino), nem de freqüentar o Jangada Clube, mas parou de beber e deu um duro danado nas seis semanas que lá passou, correndo contra o relógio e fazendo malabarismos com o orçamento. Sempre alegre, passou a viver com os pescadores, que o tratavam de "galegão legal" e admiravam o seu desprendimento de confortos materiais e sofisticações culinárias. Dormia numa cabana rústica, mal protegida dos raios solares, e à noite, depois de encarar um portentoso prato de feijão com arroz e peixe, recolhia-se para escrever madrugada adentro. Em 14 de julho, encerrada a faina em Fortaleza, a equipe de It's All True rumou para o Recife, seguindo três dias depois para Salvador, chegando ao Rio no dia 22. Dez dias mais tarde, Welles deixaria o Brasil, para nunca mais voltar."
"Nenhum parente ou amigo da vítima culpou Welles pela tragédia. Mas parte da imprensa carioca não se mostrou tão compreensiva. Especialmente naquelas publicações mais suscetíveis a pressões do governo - àquela altura indignado com o excesso de negros, favelas e pobres filmados pelo cineasta - It's All True passou a ser sistematicamente hostilizado e sua equipe exortada a pegar o primeiro avião de volta para Hollywood.
Ainda assim, Welles foi em frente. As coações, quase sempre veladas, da ditadura getulista o perturbavam bem menos que o assédio crescente da RKO e do governo americano, que o acusavam de gastar dinheiro a rodo, filmar coisas sem nexo e repetidas e ser generoso além da conta com os jangadeiros. Na primeira semana de junho, a RKO deu um basta no projeto, cortou o crédito do cineasta e mandou toda a equipe voltar para casa. Welles conseguiu convencer o chefão do estúdio a prolongar sua estada no Brasil por mais um mês, o tempo de que necessitava para filmar, em Fortaleza, toda a primeira parte de Quatro Homens e Uma Jangada. Em troca, trabalharia com uma equipe mínima, levaria apenas 40 mil pés de negativo, filmaria tudo em preto-e-branco e sem iluminação artificial, com uma câmera Mitchell silenciosa, emprestada pela brasileira Cinédia.
Welles e sua miniequipe desembarcaram na Base Aérea de Fortaleza às 15h30 do dia 13 de junho. Apesar do que ocorrera com Jacaré, foram acolhidos com enorme simpatia. Para assegurar maior tranqüilidade aos trabalhos, estabeleceram-se nas areias do Mucuripe e ali rodaram a história de amor do jovem pescador (José Sobrinho) com uma bela morena (Francisca Moreira da Silva, então com 13 anos), o casamento dos dois, a morte do jangadeiro e seu enterro nas dunas, a conseqüente revolta dos pescadores pelas suas precárias condições de vida e a decisão política do reide até o Rio de Janeiro. No papel de Jacaré, puseram seu irmão Isidro.
Em Fortaleza, Welles revelou-se um homem radicalmente diferente do garotão farrista e mulherengo que os cariocas conheceram. Não deixou de ir a festas (chegou a marcar quadrilha num folguedo junino), nem de freqüentar o Jangada Clube, mas parou de beber e deu um duro danado nas seis semanas que lá passou, correndo contra o relógio e fazendo malabarismos com o orçamento. Sempre alegre, passou a viver com os pescadores, que o tratavam de "galegão legal" e admiravam o seu desprendimento de confortos materiais e sofisticações culinárias. Dormia numa cabana rústica, mal protegida dos raios solares, e à noite, depois de encarar um portentoso prato de feijão com arroz e peixe, recolhia-se para escrever madrugada adentro. Em 14 de julho, encerrada a faina em Fortaleza, a equipe de It's All True rumou para o Recife, seguindo três dias depois para Salvador, chegando ao Rio no dia 22. Dez dias mais tarde, Welles deixaria o Brasil, para nunca mais voltar."
fonte:jangada@nantes
Orson Welles no Ceará, de Firmino Holanda (Edições Demócrito Rocha, 205 págs., R$ 28), pode ser comprado pelo telefone (0--85) 255-6270 ou por fax (0--85) 255-6276
saiba mais em: www.uv.com.br/tangatamanu/jacare.htm
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