" Em 2006 quando iniciei em Florianópolis o Projeto Rota Norte, tinha em mente que ele seria um laboratório para algumas ambições futuras. Por isso, tudo que fiz foi pensando e me organizando para que tivesse uma exata noção de como era trocar uma vida comum entre casa, trabalho, família e amigos, para uma vida um pouco mais solitária, a bordo de um barco de pouco menos de 30 pés, onde o meu jardim tinha água e peixes, e todas as necessidades eram cobertas, muitas vezes por condições mínimas.
A idéia era saber se era possível e ter ainda a exata noção de como seria viver a bordo de um barco. Já os planos são para um futuro próximo, de fazer uma Volta ao Mundo navegando. Tudo está dentro do planejado.
No dia 23 de maio, eu, Marcelo Gusmão e meu barco o Moleque, finalmente encerramos o Projeto Rota Norte de navegação solitária. A chegada em Florianópolis foi exatamente igual à partida, com meus amigos e familiares me esperando no meio da entrada da Baía Norte e depois no clube, em Jurerê, uma festinha com comes e bebes. Uma recepção muito legal.
O Projeto Rota Norte iniciou em setembro de 2006, quando parti de Florianópolis para cumprir um trajeto de aproximadamente 2.500 milhas náuticas até Fortaleza. Depois de quase dois anos e já lá pelo litoral baiano, mudei o ponto final do Projeto para Fernando de Noronha. E assim foi. A pretensão era terminar todo o percurso em pouco mais de um ano. Levei o dobro do tempo, pouco mais de dois anos e meio, porque ao longo do Projeto ainda abri minha agenda para outras atividades, participei de regatas, fiz deliverys e fui técnico do Bruno Fontes, na campanha para as Olimpíadas de Pequim. Também deixei meu barco ancorado em alguns clubes e voltei a Florianópolis algumas vezes para tratar de assuntos pessoais e familiares.
Além de visitar e conhecer os principais recantos, marinas e clubes de vela pelo Brasil, eu ainda aproveitei a ajuda dos amigos e de patrocinadores para fazer um trabalho social, distribuindo materiais escolares em parceria com a Molin, para crianças carentes que viviam nos locais por onde passei. Quase 5 mil crianças foram beneficiadas com os kits de materiais. Também consegui a doação de um aparelho auditivo da Hermany-Siemens de Florianópolis para um menino de Olinda.
Entre setembro de 2006 até maio de 2009 percorri os seguintes lugares do litoral brasileiro: Porto Belo, Balneário Camboriú, Itajaí, São Francisco do Sul, Joinville, Paranaguá, Guaraqueçaba, Canal do Varadouro, Cananéia, Santos, Bertioga, As Ilhas, São Sebastião, Ilhabela, Paraty, Angra dos Reis, Ilha Grande, Rio de Janeiro, Niterói, Cabo Frio, Vitória, Abrolhos, Caravelas, Cumuruxatiba, Salvador, Aratu, Recife e Fernando de Noronha. O trajeto de volta teve menos paradas, completei ele todo em cerca de 50 dias, saindo de Recife e parando em Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Porto Belo, Paranaguá, e finalmente minha Floripa.
No meio de todas essas paradas em portos e iates clubes brasileiros, aproveitei para participar de regatas e eventos náuticos. Participei da Semana de Vela de Ilhabela, da Regata Santos Rio, do Circuito Rio, todas com vitórias ou colocações entre os primeiros. Também fiz deliverys de barcos, passando por cidades como: Porto Alegre, Rio Grande, Ilhabela, Santos, Niterói e Paraty.
Em 2007, fui Oficial de Regata (juiz) do Circuito de Vela de Santa Catarina, participei da Regata Ilha de Caras, e ainda do Rio Boat Show, onde o Moleque ficou aberto para visitação e recebeu mais de 500 pessoas que se interessaram em conhecer o Projeto Rota Norte.
Neste período, também tive uma oportunidade muito especial que foi fazer pela primeira vez a Travessia do Atlântico. Foram mais de 7 mil milhas entre La Rochelle (França) e Florianópolis, passando por cidades como Lisboa, Canárias, Cabo Verde, Fernando de Noronha, Salvador, Rio de Janeiro e Ilhabela. Antes dessa aventura em alto mar, estive em Valência, na Espanha, onde aconteceu a Américas Cup (um dos eventos mais tradicionais de vela do mundo) e que tinha um brasileiro competindo, Torben Grael com o barco Luna Rossa.
Conheci ainda lugares maravilhosos como o Arquipélago de Abrolhos, onde fui recepcionado pela Marinha do Brasil e pelo Ibama, e visitei ainda o Projeto Baleia Jubarte, ajudando a identificar através de fotos do meu arquivo, algumas desses mamíferos que fazem do litoral brasileiro um berçário. Também participei de manobras de "Praticagem" em Portos Brasileiros, uma adrenalina e um exercício e tanto de manobras.
De outubro de 2007 a abril de 2008, já como técnico do velejador Bruno Fontes, conseguimos os seguintes resultados: Campeão Sul Brasileiro, Campeão Sul Americano, Campeão Brasileiro, 11° no Mundial da Austrália, e Campeão das Eliminatórias para as Olimpíadas de Pequim.
O Projeto Rota Norte é um projeto de vida. Antes de iniciá-lo, fiquei mais de um ano só me preparando e planejando. Foram muitas negociações com patrocinadores e precisei organizar minha vida financeira para poder me dedicar a ele. Por isso, dedico um agradecimento especial aos meus patrocinadores, Anasol, Casa das Cores, Marine Express – Raymarine, Tintas Internacional, Mormaii, Molin Materiais Escolares, Tecelagem Oyapoc, Plastkolor, e Colaboradores, Equinautic, Nautspecial, Open Sports, TMI, Gráfica Continente, Mogadicho, e o Iate Clube de Santa Catarina. Também quero fazer uma agradecimento especial aos meus familiares e amigos que me apoiaram nesta empreitada e me deram um carinho todo especial, mesmo que a distância.
No fim, se alguém quer saber a minha conclusão sobre esse Projeto de vida, quero dizer a todos que é sim muito viável e barato viver a bordo de um barco. Não é fácil, mas é possível. Mas é necessário planejamento também e um aperfeiçoamento pessoal. Quem deseja passar tanto tempo a bordo tem que saber de tudo um pouco, ter um bom conhecimento de mecânica e parte elétrica, tem que saber gerenciar crises também. Mas é uma vida muito empolgante e o principal, a gente conhece e aprende muito e faz muitos amigos.
Obrigado a todos e em breve terei novas noticias.
* As fotos são de Murilo Viana da Luz