Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, hoje domingo de vento sul , a tripulação do Phantom se encontrou no ICES bem cedo, para um treino técnico visando nossa participação no circuito Rio, que acontece no começo de novembro, tal como na regata Santos Rio.
Estávamos lá Lucky, Fabiano Porto, Lèo Oliveira, Eu, e de bote voando baixo, com Angeloti no timão, muito atrasado, veio a nosso encontro ao Dr Marcos Albuquerque e embarcou em frente ao sacre couer, enquanto ainda adriçávamos o grande, porém já bem afastados do cais, uma chegada triunfal para este nauta inciante e que vem se destacando como bravo yachtman.
Dia especial, dia de 64 anos do clube, uma grande festa social, mas esporte mesmo não teve, salvo nossa incursão ao canal de vitória e um ou dois widsurfs que vimos a rasgar as águas, um deles certamente o Rominho, fominha mor da vela de pranchas.
O vento prometia, começava a roncar, e alguns de nós , como o Fabiano não velejavam desde Ilhabela, Lucky só de Snipes, e hoje seria o dia de tirar o atraso da galera.
Fomos então, num contravento delicioso, com muitas e muitas rondadas, canal da cidade acima, com o intuito de montar a pedra da Taputera, e treinar muitas cambadas, e controle da nave num mar de rondadas loucas onde o Phantom vira um cavalo selvagem , ou um cachorro doido, tem que segurar firme e com jeito senão é descontrole e momentos tabajaras em doses titânicas.
Ao entrarmos na boca do canal , avistamos um grande navio, e fomos o cortejando em bordos próximos porém sempre com muita margem de segurança, como verão nas fotos, até sua atracação final no porto de Capuaba.
Velejar neste percurso é muito bacana, vc tem a interação direta com o público, e leva para perto , bem perto das pessoas, a beleza de um barco a vela e seu balé sincronizado de movimentos, bordejando a 10 ou até mesmo 5 metros, das profundas margens do paredão de pedra da avenida beira mar, os cidadãos literalmente param para ver o barco passar, muito legal, não tem uma pessoa que não para para ver , e fotos então, são um festival. Certamente esta imagem do barco a vela traz um colorido especial ao domingo desta gente que está a passear pela orla da segunda capital mais antiga do país.
Cerca de 11 da manhã, com apenas uma hora de navegada nos aproximávamos da Taputera, que resolvemos montar por boreste e em seguida colocar o balão e voltar para o clube morro abaixo, e vimeos nos aproximando, algumas rajadas, e na minha mente uma premonição, premonição ruim , muito ruim.
O profundímentro , devido a chuvaca de ontem estava meio apagado, ( os eltrônicos só operam 100% quando usados diariamente, ou em tempos de seca absoluta), todavia de nada ele adiantaria.
O meu sexto sentido é terrível, fica no subconsciente a visão, e a visão que tinha era de um fundo cheio de pedras, e elas se aproximando do casco do phantom.
De súbito uma porrada, pow, crasshhshshsh, outra porradaça!!! e o barco subiu em cima de uma pedra, ficando apoiado pela quilha.
Todos mantiveram a calma, realmente muita calma mesmo, pois apesar da porrada , o barco não fazia água, mas chegou a subir quase meio metro sobre a água.
Primeiro tentamos com o motor( frente e ré), e o barco roda em seu próprio eixo agarrado em cima da pedra, depois o leme foi o premiado, começa a raspar e fazer ruídos, eu o solto imediatamente e deixo-o a vontade , não forçamos nada, o balanço e a calma nos tirariam dalí.
Neste ínterim tentamos radiofonia com a praticagem , mas obviamente, eles em manobra, atracando o navio que cortejamos , não poderiam nos dar suporte, somente depois deveriam nos responder decerto, pedi que meus parceiros aguardassem pois daríamos um jeito, e acredito que sozinhos teríamos mais chances de sair com o barco sem potencializar as avarias.
Nas horas que ocorrem acidentes, a calma é crucial , pois o pior pode vir depois se vc tomar a decisão errada, e o veleiro adernado é a única forma de sair de um encalhe, ou com vento, peso na borda ou com reboque na adriça , o que não tenho predileção alguma, dadas as possibilidades de quebra de mastro, de rasgo no casco, rompimento de peças, e tudo de ruim que puder passar pela cabeça.
Pensamos e fomos nos posicionado com o barco, de leve, bem de leve, sentindo o que fazer, muito temor pois o fundo era pedra pura, e de todos os tamanhos.
Eu e Fabiano temos uma boa sinergia, é interessante, exatamente como nas regatas no conjunto traveller/timão, que trabalham em sintonia silenciosa sincronizada, decerto nós dois sabíamos o que iria acontecer , mesmo sem falar um com o outro sobre o plano de fuga, ao ver uma rajada mais forte se aproximar, pedi a tripula todo peso a sota, Fabiano caça os panos com vigor e plena certeza, adernamos ao máximo a nave e saímos , de lado, arrastando, mas sem bater em nada, a única forma de sair sem detonar o barco, depois de uns 10 minutos onde ficamos muito calmos mas, momentos angustiantes.
Soltos, afastamos da pedra submersa , que em tupi guarani é taputera, e subimos o balão imediatamente, pois o leme não fora afetado a princípio, estava sendo manejado normalmente, e não dava para mergulhar naquela água podre do porto para ver o que aconteceu.
Tenho um bom anjo da guarda, e também sentia que a coisa não seria muito grave, ( torçia em silêncio para tal).
Surfamos o canal abaixo, em direção ao oceano com balão em cima, o prático passa acendo na encarnada lancha" Pilot" em alta velocidade, e quem era?? : - O Grande Velejador Ralph Rosa, que não deve ter entendido nada do que aconteceu, se entendeu deve achar que a gente é doido, mas fato é que estas pedras não existiam alí, a Taputera, a grande pedra submersa, fora dinamitada e os pedaços se espalharam num raio maior que a original , que tantas e tantas vezes contornamos em regatas, há 55 anos fazem isto.
Seguimos atravessando algumas vezes devidos as rondadas espetaculares, e numa delas, por um erro de montagem , o balão voou, mas rapidamente a tripulação com Lucky e Léo na manobra, safa a vela, e em seguida a reinflamos.
Em camburi, já em mar aberto a nave resolve voar, mas voar mesmo, estávamos andando uma barbaridade, marolas lindas ficando para trás, e surfando deliciosas ondas, mas a hora era de retorno ao clube e encarar os fatos.
Atracados, com toda calma e serenidade, Lucky se dipõe a mergulhar e constata que o leme não sofrera avaria alguma, mas a quilha sim , porém de pouca monta, arranhões, e um amassadinho na ponta do bulbo no bordo de fuga, ou seja, nada perante o susto que passamos, passadas as regatas do próximo fim de semana subimos o barco para acertar tudo e pintar o fundo pois a tinta já venceu.
Sentiremos a falta da carreta do barco, que compramos há um ano e 3 meses, e deve estar vindo de jegue de santa catarina, e o pior parou para fazer um pit stop, com um time formado por lesmas e preguiças, mas a gente pega outra emprestada, não seja por isto!
Num jornal antigo que tenho, da década de 50, te uma matéria com o seguinte título, " Ouvindo e sentindo a Taputera", pois é ...
Hoje, 60 anos depois a gente entedeu o recado.
bons ventos a todos e uma ótima semana!!!