Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão,
Diretamente do Aratu Iate Clube, escrevo este post para o pasquim eletrônico mais molhado do Brasil, a revista eletrônica Avelok ,The Yacht Man.
A faina se iniciou no começo de Agosto, derivada da programação e planejamento que se iniciou em janeiro de 2012 numa reunião com a galera Phantasma lá no restaurate Taj.
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Tudo mil por cento a bordo |
Voltando a vaca fria, foi no começo do mês que o Skipper Jens Olaf fez o transporte do barco para Salvador, tendo em companhia o ex snipista, atual Catista e eterno velejador boa praça: Carlos Paraizo( com z mesmo).
A dupla veio em condições bem favoráveis de navegação, todavia um problema na válvula do gás fez com que fossem de Vitória a Caravelas comendo comida fria( Urghh), e ao chegarem em Caravelas para acertar o fogo, Carlinhos comeu um camarão que deu zebra geral e foi parar no hospital, e de lá desembarcou, vindo o nosso grande skipper solo até o destino final.
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"Auscutando" a vida no largo de São João, mais adiante vc vai entender. |
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Enquanto eu blogava, fui entrevistado e fotografado pelo principal jornal de Salvador, uma honra! deve ser por que não tinha mais ninguém na área!! |
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Barco do Comodoro gente fina, Wilder: Torcedor Bahia doente como podem ver! |
Chegando na Bahia de todos os Santos, Jens nos relatou que esteve em contato com o Kan Chuh e com o Poesia e coversaram um bocado de amenidades náuticas, estes baianos são gente bacana e gente do mar, fica aí uma abraço para ambos! E encontrá-los logo no primeiro dia certamente foi um sinal de bom agouro.
Foi cumprida com maestria e zelo a missão do Jens, barco já estava apoitado no Aratu, tudo certinho, sendo super bem recebido pelo gerente náutico Sr Marcelo e toda equipe do clube.
Em seguida ele embarca num vôo e vai ao Rio de Janeiro buscar o Lucky do Ralph Rosa, para vir correr o circuito de vela da Bahia. Este de fato foi o motivo do barco ter chegado aqui com tanta antecedência.
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O Flash, só não gostei do nome: Capeta. |
Eu cheguei ontem de manhã por precaução, mas( que bom!!) nada precisa ser feito , a não ser uma limpeza no fundo, o barco estava realmente a ponto de bala , com tudo organizadíssimo a bordo( velas , cabos, ferramentas, e tudo mais), me restando então um tempo livre para gastar fazendo nada, só flaneando.
Após um almoço de primeira qualidade no restaurante do Aratu: um spaghetti com camarão por 19 reais, um par de cervejas e um pudim no final, entupido com a farra alimentícia fui para o barco dar aquele cochilo! Cochilo este que se estendeu até as seis e meia da tarde, também pudera acordei 5 da madruga para ir para o aeroporto!
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Barcos na poita. |
O clube ainda está calmo, poucos velejadores chegaram bem poucos, a galera baixa mesmo é na sexta feira, então não há o que fazer no clube, sequer tem pessoas para conversar. Para piorar tudo, aqui o lugar é bem distante de Salvador e o fica num lugar chamado Ilha de São João, no município de Simões Filho.
Trata-se de um lugar de gente simples, uma periferia de capital baiana, onde moram os que lá trabalham e dão duro para garantir o sustento.
Desembarquei as sete e meia da noite, trazido pelo barqueiro do clube o qual fica de plantão no VHF canal 68, e fui então dar uma volta pelas dependências do clube e ver os barcos.
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Recebido pelo Fróes, um dos organizadores, recebo o cartão e faço questão de divulgar o programa de rádio, anotem aí!
www.metro1.com.br |
O Aratu é um clube super cordial e organizadíssimo, um primor! e 99,9% de vela, tem na água apenas 1 lancha, e um sem números de veleiros, e o que me impressionou foi a quantidade de Delta 36 que tem aqui, sem medo de errar tem mais de 30, pois só num dos píers contei 10, e olha que são 4 piers, e ainda tem as poitas com uma quantidade enorme de barcos.
Me chamou também a atenção o pequeno Flash 205, com dois lemes, quilha profunda e bulbo com uma popa da largura de uma de um barco de 30 pés. Um barquinho muito bacana, deve andar!
Passeando pelos pátios, em seco encotrei o Marujo ( aqui chamado de Marujão), este barco achoe que é o ex Poli Brasil do irmãos Grael,( que estão em voga nesta edição, olha aí abaixo!). O skipper do Marujo é o Léo" Lacrau", um simpático russo soteropolitando que tivemos a oportunidade de conhecer no ICES quando ele de transporte do barcaço que acabara de ser adquirido , vindo de Niterói rumo seu novo lar em Salvador, em meados de 2011 ou 2011 não me lembro bem. Tive a oportunidade de encontrá-lo novamente na semana de Búzios deste ano, e pelo que ví os marujos baianos este ano correram também em Ilhabela( buzios, circuito de Salvador, Refeno... se bobear até circuito rio eles vão), salve salve a fomeagem!! Coisa linda de ver!!
Pois bem , já visto e revisto o clube , ainda eram oito da noite, e nenhuma alma viva, o restaurante fechado, tudo escuro, chovendo, um cenário triste e depressivo se instalava( Deus me livre e guarde de na folga fica num lugar sem gente !) ... o pessoal do Costa Leste nem parece estar por aqui, e se estiver estão escondidos...
Perguntei aos funcionários o que se tinha para fazer aqui e eles me disseram curto e grosso:
- Nada.( em tom seco - seco)
Como não me abato facilmente, mesmo com a oitiva negativa, seca, depressiva e desanimada do marinheiro em fim de turno, resolvi ganhar a rua e dar um volta pelo local.
Grata experiência.
Saí pelo portão do clube a exatas 8 horas da noite, e deveria retornar até as 10 , hora que se encerra o vai e vem da "catraia" que nos leva a poita, e pus a caminhar pela rua vazia e mal iluminada.
Andei uns 100 metros na ladeira que desce do largo de São João( uma pracinha) e vai dar no clube, e me deparei com um som alto pracaramba, em um lugar simples, e ao chegar mais perto percebi que se tratava de uma academia, e a galera animada na malhação e no axé altíssimo. Continuei andando, vendo as casas pobres, a maioria sem reboco, carros antigos pelas ruas, igrejas evangélicas e mais igrejas evangélicas com pastores berrando no microfone( numa delas o pastor berrandíssimo e altíssimo e apenas duas pessoas( com cara de sofrimento ou arrependimento por sei lá o que fizeram na vida ) assistindo o espetáculo no minúsculo e barulhento imóvel, uma espécie de Ipad de Jesus.
O contraste de estar em um bairro suburbano em meio ao povão, me fez acordar da minha existência burquesa, rodeado de todos os confortos, e que frequenta apenas o lado "A" das cidades, sem passar por lugares que são formados por pessoas que não "comparecem as festas", em faces caladas, sofridas, desgastadas por tantas feridas, e manchas de fome.
10 minutos depois , chego ao "largo", e continuo anônimo flaneando por entre as pessoas, como um observador antropofágico, comendo tudo com os olhos e imediatamente digerindo e assimilando, num processo louco de "acordar" para uma realidade real que não vemos que não convivemos , que não sabemos como existe, sem jeb jeb. A maioria dos que estão lendo isto devem passar a milhas desta realidade.
A vida comunitária segue... pessoas conversando, churrasquinho na esquina, vários butecos, alguns com apenas 2 mesas, trailler de salgadinho, açouque e vendinha, tudo muito diferente do mundo dos diplays coloridos, do marketing e das lojas decoradas e refrigeradas, e com comidinhas requintadas, o lance aqui é a realidade da maioria dos Brasileiros, gente trabalhadora, gente digna e de bem com a vida apesar da aparente de conforto do mundo pasteurizado. Eu andava e olhava tudo, andava e olhava.
Lá pelas tantas, senti em um buteco em frente a praça, estava passando jornal nacional e no estabelecimento haviam umas 6 ou 7 pessoas conversando sobre politica , PT e o escambau, papo interessante, ainda mais com aquele sotaque bacana dos baianos!
Pedi uma cerveja ao rapazinho, ele me serviu uma Devassa, que me custou apenas R$ 3,50, sentei numa escada ao lado do boteco, pois as mesas estavam ocupadas, e de onde poderia ver o vai e vem na rua, o grande movimento dos trabalhadores que vinham dos mais diferentes pontos de Salvador, e estavam desembarcando dos ônibus que chegavam, um depois do outro na praça, e iam em seguida num ritual calmo e pacífico, caminhando para casa ver a família e descansar.
Fiquei alí, vendo, escutando, e pensando...
Vagou uma mesa, me sentei e pedi mais uma cerva, ao lado sentou-se uma família que acabara de sair do estabelecimento vizinho que vendia salgadinhos e pães recheados. Um casal na faixa dos 40 anos e um filho na faixa dos 11/12.
Sentaram-se e pediram um coca para o garoto e uma cerveja para eles. Um programa família . Os três arrumados, bem vestidos e alinhados, via-se que sairam de casa para um lanche juntos.
O garoto colocava kechup com toda a calma do mundo, curtindo cada mordida naquele pão recheado com salsicha, os pais conversavam com um largo sorriso e sem a ansiedade , esta que marcam as imagens que comparecem as festas.
Ficaram alí, por meia hora ou um pouco mais, via-se claramente a felicidade emanando do trio, o astral. Conversavam e sorriam, com uma calma gostosa de ver.
Aí aquela velha história:
- A gente vive num mundo de aparências e status, correndo atrás do proprio rabo, num frênesi insano em busca de metas e resultados, reconhecimento e outras merdas a mais, e no fim que tudo é uma bosta e que somos burros manipulados e acima de tudo alienados.
Existe vida fora do mundo burguês pasteurizado, e digo mais a vida feliz existe ali, na simplicidade. Não perca seu tempo buscando de outra forma , você com certeza não vai encontrar, nem com psicanálise.
Terminei minha cerveja, pedi mais duas para viagem , que o rapazinho gentilmente acomodou num saco plástico junto com umas pedras de gelo e retornei para o clube, para ir para o barco dormir.
Aratu é duca!
Fiz um arroz com azeitona velha e sardinha, coloquei um azeite e fiquei ali.. pensando e pensando.
E você o que pensa disto tudo?