23/08/2012

Aratu Maragojipe 2012.

Prezados amigos nautas  e amantes da vela de plantão,

Diretamente do Aratu Iate Clube, escrevo este post para o pasquim eletrônico mais molhado do Brasil, a revista eletrônica Avelok ,The Yacht Man.

A faina se iniciou no começo de Agosto, derivada da programação e planejamento que se iniciou em janeiro de 2012 numa reunião com a galera Phantasma lá no restaurate Taj.
Tudo mil por cento a bordo
Voltando a vaca fria, foi no começo do mês que o Skipper Jens Olaf fez o transporte do barco para Salvador, tendo em companhia o ex snipista, atual Catista e eterno velejador boa praça: Carlos Paraizo( com z  mesmo).
A dupla veio em condições bem favoráveis de navegação, todavia um problema na válvula do gás  fez com que fossem de Vitória a Caravelas comendo comida fria( Urghh), e  ao chegarem em Caravelas para acertar o fogo, Carlinhos comeu um camarão que deu zebra geral e foi parar no hospital, e de lá desembarcou, vindo o nosso grande skipper solo até o destino final.

"Auscutando" a vida no largo de São João, mais adiante vc vai entender.

Enquanto eu blogava, fui entrevistado e fotografado pelo principal jornal de Salvador, uma honra! deve ser por que não tinha mais ninguém na área!! 

Barco do Comodoro gente fina, Wilder: Torcedor  Bahia doente como podem ver!



Chegando na Bahia de todos os Santos, Jens nos relatou que esteve em contato com o Kan Chuh e com o Poesia e coversaram um bocado de amenidades náuticas, estes baianos são gente bacana e gente do mar, fica aí uma abraço para ambos! E encontrá-los logo no primeiro dia certamente foi um sinal de bom agouro.

Foi cumprida com maestria e zelo a missão do Jens, barco já estava apoitado no Aratu, tudo certinho, sendo super bem recebido pelo gerente náutico Sr Marcelo e toda equipe do clube.
Em seguida ele embarca num vôo e vai ao Rio de Janeiro buscar o Lucky do Ralph Rosa, para vir correr o circuito de vela da Bahia. Este de fato foi o motivo do barco ter chegado aqui com tanta antecedência.
O Flash, só não gostei do nome: Capeta.

Eu cheguei  ontem de manhã por precaução, mas( que bom!!) nada precisa ser feito , a não ser uma limpeza no fundo, o barco estava realmente a ponto de bala , com tudo organizadíssimo a bordo( velas , cabos, ferramentas, e tudo mais), me restando então um tempo livre para gastar fazendo nada, só flaneando.

Após um almoço de primeira qualidade no restaurante do Aratu: um spaghetti com camarão por 19 reais,  um par de cervejas e um pudim no final, entupido com a farra alimentícia fui para o barco dar aquele cochilo! Cochilo este que se estendeu até as seis e meia da tarde, também pudera acordei 5 da madruga para ir para o aeroporto!

Barcos na poita.
O clube ainda está calmo, poucos velejadores chegaram bem poucos, a galera baixa mesmo é na sexta feira, então não há o que fazer no clube, sequer tem pessoas para conversar. Para piorar tudo, aqui o lugar é bem distante de Salvador e o  fica num lugar chamado Ilha de São João, no município de Simões Filho.
Trata-se de um lugar de gente simples, uma periferia de capital baiana, onde moram os que lá trabalham e dão duro para garantir o sustento.

Desembarquei  as sete e meia da noite, trazido pelo barqueiro do clube o qual fica de plantão no VHF canal 68, e fui então dar uma volta pelas dependências do clube e ver os barcos.

Recebido pelo Fróes, um dos organizadores, recebo o cartão e faço questão de divulgar o programa de rádio, anotem aí!
www.metro1.com.br

O Aratu é um clube super cordial e organizadíssimo, um primor! e 99,9% de vela, tem na água apenas 1 lancha, e um sem números de veleiros, e o que me impressionou foi  a quantidade de Delta 36 que tem aqui, sem medo de errar tem mais de 30, pois só num dos píers contei 10, e olha que são 4 piers, e ainda tem as poitas com uma quantidade enorme de barcos.
Me chamou também a atenção o pequeno Flash 205, com dois lemes, quilha profunda e bulbo com  uma popa da largura de uma de um barco de 30 pés. Um barquinho muito bacana, deve andar!
Passeando pelos pátios, em seco encotrei o Marujo ( aqui chamado de Marujão), este barco achoe que é o ex Poli Brasil do irmãos Grael,( que estão em voga nesta edição, olha aí abaixo!). O skipper do Marujo é o Léo" Lacrau", um simpático russo soteropolitando que tivemos a oportunidade de conhecer no ICES quando ele de transporte do barcaço que acabara de ser adquirido , vindo de Niterói rumo seu novo lar em Salvador, em meados de 2011 ou 2011 não me lembro bem. Tive a oportunidade de encontrá-lo novamente na semana de Búzios deste ano, e pelo que ví os marujos baianos este ano correram também em Ilhabela( buzios, circuito de Salvador, Refeno... se bobear até circuito rio eles vão), salve salve a fomeagem!! Coisa linda de ver!!

Pois bem , já visto e revisto o clube , ainda eram oito da noite, e nenhuma alma viva, o restaurante fechado, tudo escuro, chovendo, um cenário triste e depressivo se instalava( Deus me livre e guarde de na folga fica num lugar sem gente !) ... o pessoal do Costa Leste nem parece estar por aqui, e se estiver estão escondidos...

Perguntei aos funcionários o que se tinha para fazer aqui e eles me disseram curto e grosso:
- Nada.( em tom seco - seco)
Como não me abato facilmente, mesmo com a oitiva negativa, seca, depressiva e  desanimada do marinheiro em fim de turno, resolvi ganhar a rua  e dar um volta pelo local.

 Grata experiência.

Saí pelo portão do clube a exatas 8 horas da noite, e deveria retornar até as 10 , hora que se encerra o vai e vem da "catraia" que nos leva a poita, e pus a caminhar pela rua vazia e mal iluminada.

Andei uns 100 metros na ladeira que desce do largo de São João( uma pracinha) e vai dar no clube, e me deparei com um som alto pracaramba, em um lugar simples, e ao chegar mais perto percebi que se tratava de uma academia, e a galera animada na malhação e no axé altíssimo. Continuei andando, vendo as casas pobres, a maioria sem reboco, carros antigos pelas ruas, igrejas evangélicas e mais igrejas evangélicas com pastores berrando no microfone( numa delas o pastor berrandíssimo e  altíssimo e apenas duas pessoas( com cara de sofrimento ou arrependimento por sei lá o que fizeram na vida ) assistindo o espetáculo no minúsculo e barulhento imóvel, uma espécie de Ipad de Jesus.

O contraste de estar em um bairro suburbano em meio ao povão, me fez acordar da minha existência burquesa, rodeado de todos os confortos, e que frequenta apenas o lado "A" das cidades, sem passar por lugares que são formados por pessoas que não "comparecem as festas", em faces caladas, sofridas, desgastadas por tantas feridas, e manchas de fome.

10 minutos depois , chego ao "largo", e continuo anônimo flaneando por entre as pessoas, como um observador antropofágico, comendo tudo com os olhos e imediatamente digerindo e assimilando, num processo louco de "acordar" para uma realidade real que não vemos que não convivemos , que não sabemos como existe, sem jeb jeb. A maioria dos que estão lendo isto devem passar a milhas desta realidade.

A vida comunitária segue... pessoas conversando, churrasquinho na esquina, vários butecos, alguns com apenas 2 mesas, trailler de salgadinho, açouque e vendinha, tudo muito diferente do mundo dos diplays coloridos, do marketing e das lojas decoradas e refrigeradas, e com comidinhas requintadas, o lance aqui é a realidade da maioria dos Brasileiros, gente trabalhadora, gente digna e de bem com a vida apesar da aparente de conforto do mundo pasteurizado. Eu andava e olhava tudo, andava e olhava.

Lá pelas tantas, senti em um buteco em frente a praça, estava passando jornal nacional e no estabelecimento haviam umas 6 ou 7 pessoas conversando sobre politica , PT e o escambau, papo interessante, ainda mais com aquele sotaque bacana dos baianos!
Pedi uma cerveja ao rapazinho, ele me serviu uma Devassa, que me custou apenas R$ 3,50, sentei numa escada ao lado do boteco, pois as mesas estavam ocupadas, e de onde poderia ver o vai e vem na rua, o  grande movimento  dos trabalhadores que vinham dos mais diferentes pontos de Salvador, e estavam desembarcando dos ônibus que chegavam,  um depois do outro na praça, e iam em seguida num ritual calmo e pacífico, caminhando para casa ver a família e descansar.

Fiquei alí, vendo,  escutando, e pensando...

Vagou uma mesa, me sentei e pedi mais uma cerva, ao lado sentou-se uma família que acabara de sair do estabelecimento vizinho que vendia salgadinhos e pães recheados. Um casal na faixa dos 40 anos e um filho na faixa dos 11/12.
Sentaram-se e pediram um coca para o garoto e uma cerveja para eles. Um programa família . Os três arrumados, bem vestidos e alinhados, via-se que sairam de casa para um lanche juntos.
O garoto colocava kechup com toda a calma do mundo, curtindo cada mordida naquele pão recheado com salsicha, os pais conversavam com um largo sorriso e sem a ansiedade , esta que marcam as imagens que comparecem as festas.

Ficaram alí, por meia hora ou um pouco mais, via-se claramente a felicidade emanando do trio, o astral. Conversavam e sorriam, com uma calma gostosa de ver.

Aí aquela velha história:
- A gente vive num mundo de aparências e status, correndo atrás do proprio rabo, num frênesi insano em busca de metas e resultados, reconhecimento e outras merdas a mais, e no fim que tudo é uma bosta e que somos burros manipulados e acima de tudo alienados.

Existe vida  fora do mundo burguês pasteurizado, e digo mais a vida feliz existe ali, na simplicidade. Não perca seu tempo buscando de outra forma , você com certeza não vai encontrar, nem com psicanálise.

Terminei minha cerveja, pedi mais duas para viagem , que o rapazinho gentilmente acomodou num saco plástico junto com umas pedras de gelo e retornei para o clube, para ir para o barco dormir.

Aratu é duca!

Fiz um arroz com azeitona velha e sardinha, coloquei um azeite e fiquei ali.. pensando e pensando.

E você o que pensa disto tudo?



3 comentários:

  1. Primeiro penso que ler seu diário é muito gostoso. Põe a gente ali, ao teu lado, quase que vendo você e as descrições das coisas e ambientes. De fato, ver a nossa rotina em perspectiva é uma das grandes vantagens das viagens e escapadas. E a gente mais humilde é de fato mais feliz com menos. Nossa correria diária cega, mata, endurece a alma. Valeu e bons ventos!

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  2. Seu Wallace, eu acho que o Sr escapou por pouco de ser assaltado!!rsrsrs.. Fora isso, o Sr estah um poeta de primeira! Quanto ao consumismo e tudo mais, nao tenho duvidas que o mundo precisa de um norte mais adequado que o atual, pois nao podemos passar a vida toda "correndo atras do rabo", nao eh mesmo. Abracos, bom te ver no Phantom de novo e boa sorte por ai! Billy

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  3. Sem ressentimento algum, eu vivo essa realidade. Após anos sonhando, uma " alma do céu " sentiu-se comovida e decidiu vender o janjão, um tahiti 16 pés cabinado, em 6 prestações de quinhentos reais. Meu primeiro barco. Anos e anos estudando as regras da navegação, a forma de como faria aquela coisa funcionar, tudo o que sonhei e aprendi nos livros serviu perfeitamente, quando o proprietário lá do Rio, entregou o "barquinho" pra mim lá no Saco da Ribeira. Aquele "negócio" foi assim como, para as pessoas do mundo "biuzinis", ter adquirido cinquenta por cento mais um das ações da "eipu". Não me importava que aquele era o menor veleiro do Saco da Ribeira. Eu ía para a Ilha Anchieta e retornava sem problemas.Até que um dia, com o passar das longas vagas que as grandes lanchas e iates faziam ao meu redor, como se de propósito para ver aquele veleirinho balançar, ao amarrar o meu barco na poita fomos atropelado por uma escuna, que quase que cotidianamente faz "turismo" naquela região. Com a promessa de que iríam reparar os danos, certifiquei à Marinha que não iría ser necessário abrir um B.O., mesmo com a intenção dela para que eu o fizesse, pois relatei que disseram que iría consertar o estrago feito. Meu barco nunca mais foi o mesmo e, não sei se me arrependo de não ter feito o tal B.O. Os altos custos da mão de obra para serviços náuticos não difere : para estes, todos os gatos são pardos. Assim como pensam os donos da costa brasileira que, para estes, assim como a terra o mar os pertence.

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Harry Manko, sempre com filmes sensacionais e gozadíssimos!

Um vídeo de compilações da Volvo Ocean Race, a volta ao mundo.

Os nós mais usados no mundo náutico, uma vídeo aula, aprenda para não chamar cabo de corda!