Prezados amigos nautas e amantes da vela de plantão, aboletado na torre de comando numa noite fria de outubro, me debrucei na Web por algumas horas a fim de fazer uma pesquisa e compartilhar com vocês a trajetória deste ídolo, e confesso que o material disponível na internet é pequeno, apesar das inúmeras tentativas que fiz.
Temos um material interessante do site do YCSA e outro até mais completo no maresenavegantes.com.br, mas ainda consegui encontrar algum material em sites que não falam "português" para ilustrar a matéria, encontrei algumas fotos feitas no Mundial das Bermudas de alta qualidade e a cores, no site do Finn-Itália, e outras interessantes no site Finn-Dinamarca.
Assim sendo , quem tiver fotos do Bruder , envie para a gentre publicar aqui nesta matéria e compartilhar com os velejadores do Brasil afora.
Jöerg Bruder ,
O maior velejador de Finn de todos os tempos teria hoje 73 anos de idade e se bobear ainda taria dando trabalho andando sempre a frente e inovando materiais , mas infelizmente sua vida fora ceifada muito cedo num golpe brutal do destino em 1973, com apenas 36 anos de idade, quando ia para o Mundial de Finn em busca do tetra campeonato consecutivo , no pior acidente aérea da aviação Brasileira até então, que deixou 113 mortos, e apenas 11 sobreviventes.
O Vôo 820 do 707 da Varig, pegou fogo devido a um cigarro na lixeira do banheiro, e fez um pouso forçado há apenas 1 minuto da cabeceira da pista em Orly, em 11 de julho de 1973, embora bem sucedido o pouso, a cabine já velava a maioria dos corpos dos passageiros, devido aos gases tóxicos exalados( exceto 1, e os 10 tripulantes),o vôo partiu do Rio com Destino a Paris, onde morreram também Júlio de Lamare( o célebre jornalista ) e Filinto Müller( o então Presidente do senado), e o famosos cantor Agostinho Santos.
Nascido em 1937, Joerg começa a velejar com 5 anos de idade, somente com 22 participa de suas primeiras regatas em seu clube de coração , o mesmo de Scheidt: O YCSA( Yacht Club de Santo Amaro), na represa de Guarapiranga, iniciando ali uma trajetória de sucesso e glória
Mundial do tri, 1972
Mundial nas Bermudas .
Hoje Joerg Bruder é nome de ruas, de escolas , de troféus e de torneios esportivos em várias modalidades, e principalmente da cobiçada taça da classe Finn que pega emprestado seu nome, servindo um póstuma e justa homenagem a este ídolo de gerações, e o numeral de sua vela é usado como homenagem no batismo da maior escola de vela de oceano do Brasil, a BL3.
A carreira no Finn e no Star:
Em 67 , nos jogos Panamericanos de Winnipeg ele conquista o seu primeiro ouro , nos jogos de 71 do Pan em Cali mais um ouro, em 68 foi terceiro colocado no mundial da classe Finn, em 69 Joerg fica em segundo, em 1970 , com a maior flotilha de todos os tempos , reunindo 180 barcos, Bruder fatura seu primeiro mundial, repetido em1971 e 1972, ano que também participa dos jogos do setembro negro,de Munich, obtendo um magnífico quanto lugar na classe Star, e ainda no mesmo ano consagra-se vice campeão mundial da classe Star em Caracas.
Mundial de Finn 1970, bruder em 4º chegando a bóia.
Deteve por décadas a proeza de ser o único tri campeão consecutivo na classe Finn , até hoje só tiveram este resultado, ainda assim não consecutivos, um alemão em 63/66/67 um dinamarquês em 85/84/85 , um sueco em 94/97/99, e que somente em 2004 fora desbancados por ninguém menos que
Ben Ainslie .
No âmbito nacional, Bruder foi campeão Paulista de Finn por 11 vezes, Brasileiro por 5 e na Classe Star obteve também o penta campeonato em S.P.
Bruder e seu Finn Neguinho.
Na segunda foto e na primeira foto, ele com os amigos no Mundial da Bermudas
Bruder será o eterno tri-campeão invicto, pois o destino o levou e junto a taça original do Mundial de Finn que desaparecera para sempre entre os escombros do avião destruído e carbonizado, talvez derretida pelo fogo, talvez levada por são pedro ou eólo, taça que nenhum homem que viva sobre a terra e sob o céu jamais alcançará o olhar ou colocará as mãos pelo menos uma vez , quem dirá 3.
Além da carreira de velejador, Bruder em parceria com o austríaco
Hubert Raudaschl inovou a classe Finn com seus mastros flexíveis, e suas revolucionárias velas, que faziam um condunto imbatível, e levaram a padronização da classe em mastros de alumínio para eliminar a vantagem obtida pelo seu desenvolvimento do equipamento.
Vou contar uma historinha de um trecho da minha vida e do início do meu facínio por Bruder.
O ano era de 1978, e eu acabava de voltar da aula no colégio Sacre-Couer, localizado no alto da Ponta Formosa, na Praia do Canto , onde todos os dias ia caminhando , ida e volta. A distância parecia maior que de fato era, talvez pela ansiedade mirim que meus 8 anos pré -adolescentes manifestavam , talvez pela ladeira que tinha que subir e descer, onde eu utilizava um atalho não convencional pelo meio do mato para cortar caminho, ou até mesmo pela vontade de chegar logo em casa e sair para andar de bicicleta, na época minha diversão predileta, ou de contar os dias para o fim de semana quando eu ia velejar com meu amigo Laurentino Bicas no seu optimist Zebrinha, na função de "proeiro", para mim um mundo novo que se descortinava e me efeitiçava.
Naquele dia, ao chegar em casa papai estava me esperando, e eu não entendi bem porquê. O trabalho na Vale do Rio doce , onde Seu Wallace, engenheiro metalurgico, civil e de minas, formado na turma de 58 em ouro preto, era gerente da pelotização , exigia muito do tempo e responsabilidade, e além disto eu ainda tinha mais 3 irmãos para dividir a atenção do amado pai, e não entendi o porquê dele me esperar para almoçar tão cedo.
Equívoco mirim , não era para almoçar que ele me aguardava, haviam outros planos no ar .
Papai me leva até a garagem dizendo que precisaríamos sair rapídamente e depois voltávamos para almoçar, entramos no maverick GT branco e saímos para passear, sob o pretexto de irmos cortar cabelo( ele sempre me levava no salão Garcia na praça Costa Pereira, no centro de Vitória, mas isto era aos sábados, e meus irmãos Alvaro e Léo também iam juntos, assim , mais desconfiado eu ficava a cada esquina que passavamos , será que eu aprontei alguma e vou levar uma bronca? ficava me indagando.
Pegamos a aveninda "Navegantes", o V8 do mavera em marcha lenta, borbulhando baixinho, ganha a avenida e fomos em direção ao iate clube, aí eu perguntei por que estávamos indo naquela direção, se o salão era no centro?
-Ah nós temos que dar uma passada no Iate para deixar o dinheiro da mensalidade da escolinha de vela com a tia Marina Zenóbio, ele disse num tom calmo enquanto dava um longo trago em seu "Minister", olhou para mim , piscou e o olho direito meio que dizendo, confia em mim filho! E tocou direto para lá, sempre na marcha lenta e devagar , curtindo seu cigarro e as suas músicas no tocafitas TDK, para ele o carro era um prazer e a música uma paixão.
Chegando no clube ele me chama para descer e acompanhá-lo até a secretaria, e para lá fomos juntos.
O clube era muito deferente do que é hoje , e a garagem de vela ficava anexo a portaria e o mar logo "alí", depois foi tudo sendo aterrado e lanchas e mais lanchas chegando, naquela época a maioria eram os barcos a vela.
Fomos caminhando pelo pátio e eu aproveitando para mostrar para ele os barcos dos meus amigos, falando o nome da cada um dos barcos, quem era o dono, se era bom velejador ou não, e tagarelava solto encantado em estar acompanhado de meu pai no meu novo meio social, junto comigo, só comigo sem nenhum irmão para dividir a atenção.
De repente estranho e vejo um barco numa capa verde escura parado em frente a garagem e falo:
- Papai, este barco deve ser novo aqui, não conheço nenhum barco que tem uma carretinha destas e uma capa, o pessoal coloca os barcos em cima de pneus, e capa nunca vi.
Ele responde:
- Vamos lá perto para ver melhor sô!( num mineirês atêntico).
E fomos nós. Ao pararmos em frente ao barco, ele começa a tirar a capa como que curisoso para ver o que tinha dentro, e eu digo:
-Pai , não mexe não, depois o dono pode não gostar , reclamar com a gente , achar ruim, sei lá...
Aí ele olha para mim abre um sorrisão, e com aquele vozeirão diz, este é o seu, se chama "Xande ", mandei o dinheiro para o seu tio Lilino e ele comprou o barco no Iate Clube do Rio e mandou para cá de caminhão, você gostou da supresa? perguntou.
Finns em 1969
Naquele momento minha cabeça entrava em parafuso, um flash!, não conseguia acreditar que teria meu próprio barco, deixaria enfim de ser um proeiro do Zebrinha e seria comandante! ainda mais de um barco que veio do Rio de Janeiro!Eu seria o máximo perante meus amigos.
Dei um abração daqueles nele, e agradeci em êxtase, tagarelando sem parar!
Então começamos a tirar a capa do barco, e foi revelado um belíssimo e ultra bem tratado casco negro, com um interior envernizado com maestria , com flutuadores "Bruder" amarelos e transparentes, catraca "elvstrom" mastro de alumínio e uma vela vermelha "la Rochelle" que tinha o percurso olímpico como logo, e um cheiro... ah!! mas um cheiro de barco, de barco de madeira misturado com maresia, e velas e tudo mais, o mais fino dos perfumes da minha memória, que agora escrevendo isto o cheiro me veio a mente e eu fiz uma viagem no tempo vivendo de novo o momento.
Até hoje, toda vez que vejo um barco de madeira, chego bem perto para ver se tem aquele cheiro! para mim o cheiro da vela, do iatismo!
Naquele instante, junto com papai, não foram só as narinas que o cheiro invadiu, ele invadiu a minha alma e desde este instante passei a me dedicar a este maravilhoso esporte, o iatismo , que na época tinha um mito recém criado pela morte prematura e pela carreira sensacional, Joerg Bruder( o mesmo do flutuador), um tri campeão mundial que morrera no auge de sua vida, com 36 anos indo participar de um campeonato mundial na frança, num acidente aéreo.
Bruder habitou todos os meus sonhos infantis e juvenis, sonhos de glória e triunfo, de obstinação e garra , imaginava aquele barco para homens gigantes( o Finn) planando em uma regata com 100 barcos e ele na frente ostentando o numero 3, junto com o BL, o legendário BL3 e voando como um "fliyng duchtman"!
Lia tudo a respeito, e conversávamos com os mais velhos a respeito do Bruder, mito para todos os velejadores e meu primeiro ídolo da vela.
A assim fomos vendo a vida passar entre um bordo e outro, até que um dia inventaram a internet e assim pudemos contar nossas histórias para vocês, e aprender outras tantas e compartilhar com todos os amigos.
Este é o nosso objetivo da revista theYacht-man, simplesmente me entreter, e entreter vocês com histórias, fatos, fotos, vídeos, causos, verdades e até "mentiras" e lendas de nosso universo, afinal papo sério só no escritório, como já diria o Sir do Chá Tomás Limão!
Bons ventos a todos!
No mundial das bermudas os amigos se divertem com o ventão do furacão chegando.