Esse ano a Refeno contou com um número recorde de veleiros, isso graças a união do Crucero de la Amistad, que trouxe cerca de 40 veleiros vindos da Argentina, com com o Cruzeiro Costa Leste no Rio de Janeiro. Dos 142 veleiros inscritos, apenas 94 cruzaram a linha de chegada. Uns desistiram por falta de tripulação, outros por quebra de mastros antes mesmo de chegarem em Recife e outros receosos com o forte vento.
Os dias que antecederam a largada foram repletos de ventos SE acima de 20 nós, uma condição ideal para seguirmos até Noronha. Contudo, com a força constante do vento, as ondas já encontravam-se formadas e todos esperavam por condições duras durante a regata.
A largada! Esse ano vários veleiros que se encontravam fundeados no Cabanga tiveram que madrugar para conseguir sairem com a maré cheia e não ficarem encalhados no canal que separa o clube do porto do Recife, com isso acordamos por volta das 4:00h e fundeamos próximo ao Marco Zero.
Por volta das 10h começamos nosso breve curso de vela para deixarmos todos nossos tripulantes confortáveis a bordo e cientes de suas funções, trocas de turno, segurança e tudo o que envolve uma travessia em mar aberto. A bordo éramos 3 experientes velejadores (os irmãos Caire que começaram velejando na barriga da mãe e Karen Riecken que começou a velejar desde criança), 7 tripulantes e uma equipe de reportagem, cinegrafista e repórter.
Ficamos apreensivos com o vento, que simplesmente havia sumido e com a chuva que caiu durante a manhã, mas logo depois da largada o vento voltou com força.
Largamos às 15:20h com ventos ESE de no máximo 8 nós, logo que passamos o molhe do Porto do Recife as ondas começaram a aparecer, o vento foi aumentando progressivamente e manteve-se na média dos 20 nós durante toda a primeira noite. Alguns barcos começaram a desisitir por causa de avarias.
As ondas começaram a quebrar no costado e deixaram a viagem bem molhada durante as primeiras 20 horas, o barco velejava bem, surfando nas ondas, contudo a navegação para os novatos começou a ficar desconfortável. Resolvemos diminuir a velocidade e proporcionarmos mais conforto para todos. Com isso nossos concorrentes foram nos deixando para trás.
Nosso objetivo esse ano não foi o de ganhar a regata, mas sim proporcionarmos uma travessia segura, agradável e o mais confortável possível para todos nossos alunos. Com isso a travessia torna-se mais longa, mas muito mais prazerosoa para todos.
Faltando pouco menos de 40 milhas começamos a avistar o Pico de Noronha, com seus 323 metros de altura, logo em seguida o tempo começou a fechar e um enorme Pirajá cobriu toda a ilha, trazendo muita chuva e ventos de até 40 nós. Já eram cerca de 18h, resolvemos abaixar uma das velas de proa e seguirmos com média de 8 nós até a Ponta da Sapata.
A síndrome de “terra à vista” já havia se instalado em todos, a ansiedade aumenta, a vontade de pisar em terra firme cresce, o enjoo simplesmente desaparece, todos ficam mais dispostos e arrumando suas coisas para pisarem em terra.
Passamos a Ponta da Sapata por volta das 20h, o mar estava forte com diversas ondas no local de fundeio, fundeamos longe da praia, desembarcamos parte da tripulação e fomos dormir um merecido sono.
A travessia em si teria sido muito mais rápida se a bordo tivessemos apenas pessoas experientes ou se tivessemos obcecados em chegarmos rápido e deixarmos de lado o conforto e a segurança de todos que estavam conosco, contudo nosso maior objetivo foi de levarmos um pouco da emoção da travessia, da festa da regata, do espírito competitivo e do companheirismo dos cruzeiristas que participam da Refeno.
Segundo a comissão organizadora, esse foi o ano com as condições de vento e mar mais fortes durante toda a travessia.
Realizar a travessia de cerca de 300 milhas em mar aberto, chegar em Noronha velejando e aproveitar as maravilhas da ilha é uma experiência que todos que amam o mar deveriam ter, a sensação de conquista ao avistar o Pico de Noronha não tem preço. E fazer tal travessia durante a Refeno é certeza de segurança, já que temos em média 100 veleiros e 2 navios da Marinha prestando socorro a todos os que precisam.
Noronha continua linda e organizada, os preços estão cada vez mais acessíveis e pode-se ficar hospedado e comer bem pagando preços honestos. Vale ressaltar que quase toda alimentação vem por mar, durante uma travessia longa e dispendiosa, que isso tem que estar incluído no preço das mercadorias. Mesmo assim, paga-se R$ 15,00 num bom PF, pousadas a partir de R$ 60,00 por pessoa.
Preparem-se que ano que vem tem muito mais!
Felipe Aristides Caire,
Nenhum comentário:
Postar um comentário