Iatismo não é
granfinismo
Meus senhores:
No iatismo impera a Lei Mar, o
comandante determina e as ordens são rigorosamente cumpridas. O comodoro
Peixoto decidiu que eu deveria saudar a Vossa excelência, e dizer-lhes algumas
palavras sobre a posição das atividades do Iate Clube do Espírito Santo, no
cenário da vela esportiva nacional. Embora reconhecendo as dificuldades da
tarefa que me foi designada, não me é dado discutir a ordem recebida.
Lamento por Vossas excelências
que o indicado não fosse outro que melhor pudesse abordar o assunto. Creio que
não seria exagerado dizer que o último conflito internacional projetou
mundialmente o iatismo como ponto de partida na formação da consciência naval
de um povo.
Winston Churchill, discursando
aos iatistas ingleses que tomaram parte na heróica retirada de Dunquerque
declarou que a mesma teria sido impossível sem o concurso da audácia e perícia
dos iatistas britânicos.
Mais tarde, Lord Cunnighan, em
outra oportunidade, declara o sucesso do desembarque de um grande exército de
invasão na França exprimia a vitória dos pequeninos barcos dos veleiros
ingleses.
O iatismo inglês ficou assim
ligado aos dois fatos culminantes da história naval na Inglaterra. Um rápido exame da atividade prodigiosa da
marinha mercante dos EE.UU na última guerra, multiplicando a tonelagem de suas
embarcações para manter supridas todas as frentes de batalha revela que o
assombroso aumento de sua frota só si tornou possível com a convocação dos
iatistas amadores para o serviço ativo de sua marinha.
Terminada a guerra, as nações
compreenderam que os iates clubes eram a reserva naval com que poderiam contar
para as emergências da guerra e aprenderam que o homem do mar não as improvisa.
O esporte da vela prepara o homem
para a dura vida do mar, ensina-o a conhecer os elementos e a dominá-los,
enrija-lhe os músculos, é uma lição de paciência e pertinência, é uma escola de
disciplina e cavalheirismo.
Por isto os mais adiantados
países procuram incrementar as atividades iatistas, facilitando-a a ponto de
tornarem obrigatórias nas reformas urbanísticas e previsão de docas para barcos
de esporte náutico.
Até ao ver de um governo
perspicaz e utilitarista ao extremo como o soviético o iatismo deixou de ser um
regalo de riscos burgueses – como ainda alguns o consideram – para ser um
esporte de prática obrigatória para os jovens russos.
Está desfeito o tabu.
Iatismo não é granfinismo nem
desporte requintado.
A aristocracia que o caracteriza
é a que nasce dos sentimentos e da educação e não aquele que o sangue da e o
ouro improvisa.
O capixaba é por índole, um
apaixonado por desportes do mar. Tem dado provas disso, brilhando sempre no
cenário desportivo brasileiro, nos setores do remo e da natação. Entretanto,
apesar dessas tradições náuticas o iatismo custou a surgir entre nós.
Até mesmo se levarmos em
consideração as primeiras tentativas de Cícero Sudre, Tarquínio da Silva, Raul
Sodré e Beraldo Madeira da Silva, o primeiro dos quais graças a muita habilidade
e paciência, construiu com planos publicados em escala reduzidíssimas nas
revistas alemãs, as primeiras embarcações de vela esportiva de Vitória, as
“yoles” olímpicas “ALCYON” “DUNGA” e “SIMAR” não se terá que recuar vinte anos,
para se fixar o marco inicial do iatismo em águas espírito-santenses.
A semente veleira que estes
pioneiros lançaram, somente em 1946 encontrou ambiente propício para se
desenvolver organizadamente. Surgiu, então, o Iate Clube do Espírito Santo,
sendo empossada a sua diretoria em 7 de Setembro daquele ano e eleito Comodoro
o Dr. Asdrúbal de Rezende Peixoto.
Adquirindo o local para o
levantamento da sede, pouco tempo, depois eram lançados os dois primeiros
barcos construídos com finalidade esportiva e absoluto rigor técnico: os snipes
AJAX e GUARÁ de Howard e Tarquínio da Silva.
A pequena frota desenvolveu-se em
pouco tempo. Em 1947 fundou-se flotilha 245, filiada a Associação Internacional
de Regatas da Classe Snipe.
Começa ai, verdadeiramente, a
vida ativa do Iate Clube como integrante da comunidade veleira nacional. Nesse mesmo
ano, iatistas cariocas realizaram nas águas da baía de Vitória a primeira
regata nacional interflotilhas, acontecimento este decisivo, no desenvolvimento
da veja Capixaba e que deu segura orientação as suas atividades.
Os resultados não se fizeram esperar.
Um ano após, o jovem Morris Brown com 14 anos, disputando na baía de Guanabara
contra experimentados veleiros cariocas, paulistas, gaúchos e mineiros,
conquistou para o Espírito Santo o Campeonato Brasileiro da Classe Snipe – a
mais numerosa e difundida classe de veleiros do mundo.
Estava lançado o Espírito Santo
ao cenário da vela desportiva Nacional.
Vieram após as magníficas
vitórias do campeão menino nas disputas da Taça SULACAP emblemática do
campeonato de pontos compensados entre os paises da
península Ibérica: França, Itália e América Latina nos anos de 1948 e 1949.
Volta, pois, ao Brasil com o
feito de um capixaba, o troféu que desde 1946, permanecia em poder dos iatistas
portugueses.
Foi a consagração para incipiente
vela capixaba que hoje desfruta de largo prestigio no iatismo nacional. Outras
vitórias vieram, trazidas por Paulo von Schilgen, último vencedor da Taça
Cidade _______________.
Outros virão, ainda, porque a
mocidade do Espírito Santo atira-se com amor ao esporte de vela e as autoridades
responsáveis pelo nosso estado saberão amparar as atividades iatistas.
Entretanto, a conquista da Taça
SULACAP tem o sabor de primeiro feito e por isso ela constituirá a página mais
brilhante na história do Iatismo capixaba.
Terminando, solicito a S.
Excelência Senhor Governador, a fineza de fazer entrega da taça SULACAP.
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